O Sepultura acaba de lançar seu novo álbum de estúdio, “Quadra”, o 15º da sua carreira e o 9º com Derrick Green nos vocais. E como ocorre em todo o lançamento da banda desde o rompimento com Max, novamente vieram à tona as comparações, discussões e lamentações: os fãs, como sempre fazem, dizem que este “é o melhor lançamento da banda pós Cavaleras” ou “a banda atingiu o seu ápice de amadurecimento”. Já os detratores, por sua vez, se resumem em “Sepultura de verdade é com Max e Igor”. De minha parte, devo confessar que gostei muito do que ouvi – em termos de composição e instrumental – e admito que a banda evoluiu muito de uns discos para cá. Entretanto, ainda me parece que os vocais de Derrick Green não são indicados para a banda, sendo irritantes e cansativos. Apesar de fazer um esforço para ouvir a banda a cada álbum lançado, os vocais põem tudo a perder, sendo que aqui não foi diferente. Apesar do instrumental destruidor, com destaque para Eloy Casagrande, que conseguiu dar uma dinâmica mais complexa ao som da banda neste disco, basta Derrick abrir a boca e tudo vai por água abaixo. Tem quem goste e eu respeito, mas não consigo aturar a banda nem em estúdio e muito menos ao vivo.
Mas não irei fazer aqui uma resenha do disco, pois o ponto que gostaria de ressaltar é outro. Vendo a polêmica ressurgir com o novo lançamento, fiquei imaginando qual seria a razão para a banda passar por esse “perrengue” a cada novo disco. Afinal de contas, decorrido tanto tempo, já era de se esperar que as coisas estivessem mais estabilizadas ou definidas em termos de aceitação. Por mais óbvio que possa parecer, a resposta é simples: se Andreas e cia tivessem mudado o nome da banda, não teriam essa pressão enorme sobre si. Ou seja, se Andreas, Igor e Paulo (os remanescentes da formação clássica) tivessem optado por mudar o nome lá nos idos de 1997, talvez não fossem tão cobrados. Ok, haveria comparações, mas estas seriam do mesmo nível das que Max sofreu com o Soulfly, já que começava também uma banda nova do zero. A margem para sair da sombra do Sepultura era maior, já que se tratava de uma outra banda diferente. Como Max abriu mão do nome, Andreas continuou com ele. Mas ele errou ao fazê-lo? Penso, ao mesmo tempo, que sim e que não.
Errou sim pela razão acima, pois ao manter o nome, automaticamente puxou para si a obrigação de manter o legado, seja com o material novo, seja com o material antigo ao executá-lo ao vivo. E aí a coisa complicou, pois o material novo não veio no mesmo nível – o debut da nova formação, “Against”, é pavoroso – e o material antigo ficou comprometido, pois os vocais do Derrick são muito inferiores ao de Max, com o agravante de que ao vivo a banda conta apenas com uma guitarra, o que gera os inevitáveis “buracos” nas músicas na hora dos solos (um mal que ocorre com o material recente também, diga-se de passagem). O novo disco tem sido elogiado pelas várias camadas de guitarra, o que enriqueceu o arranjo das músicas, mas que se torna uma incógnita na hora de reproduzir ao vivo.
Não errou pela razão de que, se não o fizesse, estaria fadado ao esquecimento ou, no mínimo, uma jornada ainda muito mais árdua para recolocar a banda dentro do cenário. Basta lembrar que ao sair do grupo, Max acabou levando não só o empresariamento (feito pela esposa e pivô da confusão, Gloria Cavalera), mas toda a estrutura da banda fornecida pela gravadora. Se mantendo o nome Sepultura foi difícil para a banda se reerguer, sem ele teriam menos atenção ainda que tiveram do público na época, uma vez que a ansiedade estava voltada para o trabalho que Max lançaria com o Soulfly. Max tinha o vento a seu favor e conseguiu lançar seu disco de estréia 6 meses antes do Sepultura (21/04/1998, ao passo que “Against” só saiu em 06/10 do mesmo ano). Para azar deles, mesmo com o álbum de estréia do Soulfly não sendo nenhuma maravilha, este ainda era melhor que o Against. O Sepultura ainda lançaria mais 2 albuns inconsistentes e sem repercussão (“Nation” e “Roorback”) até que conseguisse voltar a chamar a atenção e retomar a carreira, inclusive internacional. Outro detalhe curioso foi a escolha do novo vocalista, cuja seleção se deu para criar um óbvio distanciamento do Max. Mesmo com Chuck Billy (Testament) participando do processo de seleção (?), a banda optou por um americano desconhecido e com um background no Hardcore, estilo bem adverso ao Thrash característico da banda. Já se vão 22 anos dessa escolha e Andreas não dá pistas de que queira mudar, apesar das críticas que Derrick recebe até hoje.
É certo dizer que um nome diferente tiraria o peso dos ombros da banda, dando a liberdade de criação fora do espectro do Sepultura que, no seu ápice criativo, conquistou o mundo em 1996 com o sensacional “Roots”. Seria certo também prever que nenhuma das duas bandas – Sepultura e Soulfly - conseguiria o mesmo sucesso, uma vez que os músicos estariam separados, mas havia a possibilidade de duas boas bandas coexistindo. A verdade é que uma reunião é cada dia mais e mais improvável, uma vez que os sinais emitidos de cada lado deixam claro que existe uma quantidade enorme de obstáculos a serem superados para isso ocorrer. As recentes e virulentas declarações de Gloria Cavalera rebatendo uma entrevista de Derrick Green deixam isso bem evidente, mostrando que mesmo 24 anos após a separação, as mágoas não foram definitivamente “enterradas”.
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