Impressionantemente, mesmo com todos esses anos de
Metaloger, nunca postei nenhuma resenha sobre nenhum álbum do Death, uma das
minhas bandas preferidas. Ainda mais do primeiro, o espetacular “Scream Bloody
Gore”, disco esse que é o pilar do estilo conhecido como Death Metal, e não o “Seven Churches” do
Possessed. Para quem não sabe, existe uma polêmica que dura até os dias de hoje
sobre quem lançou o primeiro álbum de Death Metal no mundo: o Possessed, cujo
“Seven Churches” foi lançado em 1985, ou o Death, cujo debut veio em 1987.
Observando apenas a ordem cronológica, é óbvio que o Possessed ganha a parada,
não fosse o detalhe de que a banda tinha um estilo muito mais ligado ao Thrash
Metal, ainda que mais pesado e sujo, e reforçado pela temática Satânica bem
evidente. Mas um detalhe para o qual muitos não se atentam é que o Possessed
fazia parte daquela turma precursora do Thrash Metal da Bay Area, de onde
saíram Exodus, Metallica, Slayer, Forbidden e Vio-lence, entre muitos outros. Uma ouvida cuidadosa em "Seven Churches" fatalmente possibilita perceber a veia Thrash da banda, o que ficou
ainda mais evidente nos dois lançamentos seguintes, o EP “The Eyes of Horror” e
álbum “Beyond The Gates”.
Já o Death era oriundo de Tampa Bay, na Flórida, que foi o berço não só da banda, mas também de uma das maiores cenas do estilo, com nomes de grande representatividade como
Obituary, Deicide, Cannibal Corpse, Morbid Angel, Massacre, entre outros. O Death - inicialmente chamado Mantas - lançou seu debut depois de três anos de sua criação e uma série de demos que correram o mundo e
consolidaram o nome da banda nesse período. Nome esse, diga-se de passagem, que acabou batizando
o estilo, o que reforça a paternidade do Death nesse segmento mais extremo do Metal até então. Como toda banda em
início de carreira, as coisas não vieram facilmente, havendo alguns percalços curiosos até
que “Scream Bloody Gore” finalmente fosse lançado em 1987. O primeiro problema ocorreu antes da gravação do álbum, quando a banda, até então um trio formado por Chuck na guitarra, Rick Rozz na outra guitarrra e Kam Lee na bateria e vocais, se dispersou. Como a proposta da gravadora Combat Records era de que a banda gravasse em Los Angeles e não na Flórida, Rick e Kam, que não queriam viajar na época, recusaram a chance e saíram da banda, formando posteriormente o (sensacional) Massacre. A partir
daí, Chuck se viu sozinho para a gravação do álbum e teve de encontrar outros parceiros para levar a banda adiante. No fim das contas, o álbum foi
gravado apenas por dois músicos: Chuck ficou com as guitarras, baixo e vocais; na bateria, Chris Reifert, que futuramente formaria o fabuloso Autopsy (nota: o guitarrista John Hand, apesar de creditado, inclusive com foto no album, não gravou o disco e sequer fez um único show com a banda). Com o
problema da formação resolvido, o álbum foi gravado, mas... A gravação não
agradou a Combat, que simplesmente recusou o resultado final e mandou a banda refazer o disco inteiro! Com
isso, SBG entrou para aquele grupo seleto de álbuns que possuem duas versões
distintas, embora a primeira nunca tenha sido lançada. Mas como tudo hoje em
dia, nada que uma busca na Internet não resolva. Particularmente, prefiro a que
foi lançada e que todos conhecemos. Embora mais polida, ressaltou muito mais os
detalhes e a brutalidade das canções.
Gravado no The Music Grinder em Los Angeles, em
Novembro de 1986 e lançado em 25 de Maio de 1987, “Scream Bloody Gore” foi
produzido por Randy Burns e teve sua antológica capa feita pelo mago Edward J.
Repka. Contendo 10 hinos espetaculares (12 nas edições em CD), deixou claro que não
foi à toa movimentaram toda uma cena, com o Death Metal explodindo mundialmente
no fim dos anos 80 / início dos anos 90 a partir do seu lançamento. O disco abre com “Infernal Death”,
trazendo uma introdução cadenciada que tantas bandas de Thrash e Death adoravam
fazer nos anos 80, antes de entrarem nas partes rápidas. Aliás, o Death usa com maestria, ao
longo do disco, as partes mais velozes, com Chuck executando riffs
criativos e muito bem encaixados em partes mais longas com apenas a velocidade
predominando. Na sequência, o hino dos hinos dentro do Death Metal: “Zombie
Ritual”, uma das poucas desse álbum que se manteve no set list da banda
enquanto Chuck ainda estava vivo e fazendo shows. Com uma introdução
espetacular, com as guitarras dobradas num riff hipnótico, a faixa evolui para
a velocidade extrema culminando num refrão cadenciado, numa alternância de
ritmos destruidora. Destaque também para o peso da bateria de Reifert, uma
tônica de todo o disco e não apenas nesta faixa. “Denial of Life” segue a linha
curiosa que permeia todo o álbum, que são os refrões muito bem sacados, que te
levam a cantar junto, por mais incrível que isso pareça. A faixa seguinte,
“Sacrificial”, inverte a tendência do álbum, fazendo as estrofes em cima de
riffs cadenciados e usando a velocidade no refrão. No final da música, mais uma
alternância sensacional de ritmos, mostrando toda a genialidade de Chuck como
compositor. No vinil, “Mutilation” fechava o lado A do disco como um soco no
estômago: rápida e com um refrão destruidor (“You must die in pain /
Mutilation”) tem apenas um refresco na mudança de ritmo no meio da música, mas
logo volta ao estilo “caminhão desgovernado descendo a ladeira”. Simplesmente
foda.
O antigo lado B começava com “Regurgitated Guts”, a primeira
a apresentar um leve apelo Thrash no seu andamento, mas nada que afetasse o
espírito do álbum. Pelo contrário, a combinação das partes cadenciadas com as mais
rápidas ficou perfeita. Novamente Chuck usa com maestria a velocidade extrema
no fim da faixa com um encerramento bombástico. “Baptized in Blood” é outra com
refrão devastador em cima de uma base mais lenta e pesada, isso sem mencionar o
encerramento também destruidor e criativo. “Torn To Pieces” é outra com um forte acento Thrash no
andamento, mas com partes rápidas no refrão que são fantásticas. A velocidade
predomina no fim da música, coroando o contraste das variações ritmicas.
Na sequência, outra faixa lendária que também se manteve no set list da banda
ao longo dos anos: “Evil Dead” começa com uma introdução mais melódica, mas não
menos tétrica, preparando o terreno para uma faixa curta, rápida e fulminante.
Um clássico absoluto! “Scream Bloody Gore” fecha o álbum com chave de ouro e
contem todos os elementos que fizeram o álbum grandioso: velocidade e variações
alucinantes de andamento, somado a um refrão muito foda. Mesmo sendo um disco
de Death Metal, você se pega cantando as músicas junto! Com os lançamentos em
CD, mais duas faixas se juntaram aos clássicos: “Beyond the Unholy Grave” e
“Land of no Return”. Elas provavelmente não saíram no LP por conta do espaço.
Para quem não sabe, antigamente o espaço no vinil e a quantidade de músicas estavam
diretamente ligadas ao quanto de verba se tinha disponível para gravação e
prensagem dos LP´s: mais musicas e mais tempo de duração significavam um custo maior... Mas
depois de ouvir estas duas faixas é impossível não imagina-las como parte do
lançamento original, tamanho poder de fogo de ambas, que são espetaculares.
Uma curiosidade sobre esta resenha: a ideia de resenhar este
disco me veio à cabeça estes dias, curiosamente neste ano em que está prestes a
completar 33 anos do seu lançamento. Chuck nos deixou aos 34 anos de idade.
Coincidências Metálicas...
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