Mesmo com o Slayer chegando ao Rock in Rio e passados pouco
mais de quatro meses, ainda é difícil de acreditar: Jeff Hanneman morreu. Uma
das cabeças mais criativas de uma das bandas mais espetaculares do planeta se
foi, sem mínima chance de que alguém o substitua a altura. Obviamente, colocar
outro guitarrista ao lado de Kerry King pode ser feito, ou melhor, já o foi, na
figura do lendário Gary Holt. Pode ele tocar o que Jeff tocava? Claro que sim,
pois além de sensacional guitarrista, tem o mesmo background e, como se isso
não bastasse, mantém na ativa outro nome essencial do Thrash americano, o
Exodus. O problema é que ninguém conseguirá compor o que Jeff compunha: Holt é
a cabeça pensante do Exodus, que tem o mesmo estilo, mas não é igual ao Slayer.
O gênio musical que Jeff era em parceria com King ou então sozinho não se
repetirá, ou alguém ainda acha que existe outra mente brilhante no cenário para
nos dar uma nova Angel of Death?
O mais curioso é que achamos que nossos ídolos são
“Highlanders”, imortais, de existência eterna tal qual o filme. Quando
acontece, é um choque maior do que o normal, pois mexe com uma realidade que o
fã julga imutável. Passei algo semelhante em minha vida somente com a morte de
Chuck Schuldiner, do saudoso Death. E olha que a doença dele já era de
conhecimento geral, mas isso não impediu
o baque de perder um grande músico, e mais, uma banda sensacional, já que sem
Chuck o Death simplesmente não poderia existir. Jeff, por sua vez, apesar do
problema da picada da aranha e da necrose no braço, vinha se recuperando e a
qualquer momento poderia voltar à banda, já que era (e ainda é) claro que Gary
Holt era um músico contratado. Além disso, Gary sempre afirmou, desde que
entrou na banda para segurar as seis cordas enquanto Jeff não voltava, que sua
prioridade era o Exodus e que não o trocaria pelo Slayer. Mas voltando ao
paralelo com Chuck e o Death, pode o Slayer existir sem Jeff Hanneman?
Esta resposta não parece ser um dilema para a banda, que
manteve Gary Holt no posto e continua em turnê promovendo o já não tão
recente “World Painted Blood”, último
álbum a contar com Jeff. Bem antes de sua morte, a banda já estava compondo um
novo disco, com King assumindo sozinho as composições, uma vez que não se sabia
se Jeff retornaria a tempo e se traria material pronto (em declarações
recentes, King afirmou que Jeff se isolou após o acidente e que era difícil ter
alguma noção do seu real estado). Ainda não há noticiais sobre este disco novo,
mas a banda continua em frente, mesmo somando-se a baixa ocorrida antes da
morte de Jeff, a do baterista Dave Lombardo, demitido por King face
divergências contratuais (leia-se “dinheiro”). Para o lugar de Lombardo
chegou-se em definitivo ao nome de Paul Bostaph, que já havia substituído Dave
no passado e ficou na banda durante 10 anos. Com o time reformulado, os
remanescentes King e (Tom) Araya, vão manter o Slayer na ativa.
Particularmente, tenho uma opinião curiosa: acho o Slayer
uma banda tão espetacular, tão sensacional, que deveria parar no auge. Não no
passado, onde a banda teve anos áureos nos anos 80, se tornando grande não só
nos EUA, mas no mundo todo. O lançamento de “Reign in Blood” foi o primeiro
ápice, e quando falo em auge quero dizer nos dias de hoje, onde a banda, depois
de atravessar todos os percalços da indústria musical sem fazer concessões, integra
e bem sucedida na sua proposta. E este auge chegou novamente com “World Painted
Blood”, com o caminho que foi tão bem pavimentado pelo seu antecessor, “Christ
Illusion”. Para uma banda que meio que se perdeu (não ficou ruim, de forma
alguma, somente se tornou mediana) nos dois álbuns anteriores a esses (“Diabolus
in Musica” e “God Hates Us All”, extremamente influenciados pelo metal moderno
americano), o retorno grandioso com “Christ Illusion” foi arrebatador, mesmo porque
estamos falando de uma banda com 30 anos de estrada e que ainda detona e cima
do palco como em início de carreira! A sequência com “World Painted Blood”
selou de vez este bom momento da banda, uma vez que a idade chega e começa a
pesar para um estilo de música tão extremo. Deste modo, entre começar a fazer
álbuns meia boca – pare para pensar e tente encontrar um álbum ruim do Slayer
nos moldes do “St. Anger” do
“maravilhoso” Metallica – e encerrar a carreira em grande estilo, sou da
segunda opção. Isto se tornou mais plausível depois da saída de Dave e agora ainda
mais com a perda de Jeff. Falo sério quando digo que não gostaria de um novo
álbum, ainda mais sem a mão de Jeff nele, mesmo que Kerry King seja a outra
metade das composições clássicas da banda. E sem Lombardo nas baquetas para dar
vida a essas criações com suas viradas alucinantes, a coisa fica muito pior. Mesmo
que os músicos substitutos sejam maravilhosos, o que vemos no palco hoje não
representa o Slayer que mudou a minha juventude e a de muita gente também.
Aquela banda que me assombrou em 1985,
quando ouvi pela primeira vez o “Hell Awaits”, hoje só pode ser vista junta lá,
na contra capa daquele e de outros clássicos que se seguiram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário