Um dia após o show do Metallica no Rock in Rio 2013, estava eu
ao telefone com um amigo, que me contava que havia ficado até as 3 da matina
vendo o show da banda. Obviamente ele ficou encantado, me dizendo que o show da
véspera havia superado em muito o show de 2011. Eu, por minha vez, contava que
até esperei a banda entrar, mas antes da 1ª primeira música terminar, eu já
havia desligado a TV e ido dormir. É claro que gravei o show e vou assisti-lo
assim que possível, mas esta diferença de prioridades entre eu e meu amigo
deixa claro que a banda, atualmente, já não é mais relevante para mim, com
outros grupos antigos e até mesmo alguns novos que me encantam muito mais.
Não estou querendo dizer que o Metallica seja ruim ou não
tenha o seu valor, muito pelo contrário, ouvir os seus cinco primeiros álbuns
são um verdadeiro prazer para qualquer um que ama música pesada. Vale ressaltar
que, clássicos mesmo, apenas e tão somente os 3 primeiros (“Kill ‘Em All”,
“Ride the Lightning” e “Master of Puppets”) com os 2 seguintes (“... and
Justice for All” e “Metallica”) sendo excelentes, mas num patamar inferior aos
seus antecessores. Tudo o que veio
depois deles só mostrou a banda numa inconsistência qualitativa, onde surgiram albuns
menos inspirados e alguns polêmicos até. A dupla “Load” e “Reload” até hoje
divide opiniões, ao passo que “St. Anger” é quase uma unanimidade como pior
disco de toda a carreira (creio que até na própria banda, que não executa nada
desse disco ao vivo). O que acontece é que, comercialmente, a banda explodiu
com “Metallica” e de lá para cá atingiu outros públicos, chegando ao tão
sonhado “mainstream”. Nessa crescente de sucesso, dinheiro e fama, o Metallica
atingiu o status de megabanda, aquela que pode fazer o que quiser da vida, em
um auge artístico semelhante ao do U2, para citar um exemplo.
E é por conta dessa trajetória de sucesso – merecido,
diga-se de passagem – que hoje já não me empolgo pelo que a banda faz
atualmente. Com todo o sucesso veio uma acomodação quase que óbvia, com toda aquela
fúria inspirada e empolgante do início dando lugar a discos e shows
burocráticos. É claro que nenhum disco novo será passível de comparação com os
do início de carreira, afinal, nunca mais a banda lançará um “Master of
Puppets” novamente, isso é certo. “Death Magnetic” é um bom disco, mas nada
mais que isso, e o próximo provavelmente também o será: entretanto, minha
esperança era de que os shows continuassem empolgantes, mas isso não acontece.
O show de ontem do RIR reforçou a minha percepção de que o Metallica hoje é
como um Chef que tem os melhores ingredientes a sua disposição, mas não sabe
mais como fazer um prato saboroso.
Individualmente, apenas James Hetfield consegue manter o
espírito do passado vivo em termos de postura, embora sua performance (vocal) nas
músicas antigas não seja mais a mesma. Melhor dizendo, trata-se de uma
performance sem aquilo que chamamos de “sangue nos olhos”. Como músico, James
continua um dos maiores guitarristas base do universo Thrash, com uma mão
direita absurdamente rápida e precisa. Seu único problema é a mudança das
linhas vocais no material antigo, mexendo no que é intocável. É claro que o
tempo passou e o cara envelheceu, sendo impossível manter o mesmo timbre de
adolescente; mas mesmo assim, não é difícil tentar manter-se fiel a
agressividade natuarl que aquele matéria contém.
Quanto a Kirk Hammet, este continua sendo o zero a esquerda
que sempre foi na banda, limitando-se a ser o excelente guitarrista que é. Para
quem tem dúvidas, isso fica explícito no documentário “Some Kind of a Monster”
onde o guitarrista simplesmente não tem voz nenhuma dentro da banda, sendo
Hetfield e Lars Ulrich os donos da bola. Ao vivo, continua competente como
sempre foi, e agora que abandonou o visual andrógino da época dos “Loads”, a
coisa melhorou ainda mais.
Deste modo, o problema do Metallica, ao vivo, está na
cozinha da banda, ocupada por Robert Trujillo e Lars Ulrich. No baixo, uma
coisa é certa: Jason Newsted faz uma falta dos diabos, seja na pegada, seja nos
back vocals sensacionais que fazia e que ajudavam muito nas músicas (alguém
falou aí “Creeping Death”???). Robert Trujillo é um excelente baixista, só me
parece ser técnico demais e muito cheio de firulas em cima do palco, destoando
da banda. Jason, além da postura agressiva e perfeita ao completar a linha de
frente da banda, tinha um estilo mais ligado a Clff Burton do que Trujillo, e
isso era um baita diferencial. Agora, sejamos francos, você ir assistir ao show
do METALLICA e ter de ver o baixista de Maria Chiquinha é um pouco demais, não?
Atitude, minha gente...
Agora, o calcanhar de Aquiles da banda chama-se, sem dúvida
nenhuma, Lars Ulrich. Embora seja o criador do Metallica (lembrem-se de que foi
ele que pôs o anúncio num jornal e que o colocou em contato com Hetfield, dando
início a tudo) e responsável pelo gigante que a banda é hoje, Lars é um caso
raro de músico que retrocedeu: se você observar sua performance nas baquetas do
início até os dias de hoje, vai encontrar um músico que ficou preguiçoso e que
não executa suas próprias músicas da maneira como as gravou. Isso mencionar que
o material mais rápido, principalmente com pedais duplos, são reproduzidos hoje
em dia com dificuldade, com as músicas estratégicamente intercaladas no set
list, de modo haja um tema mais lento entre elas. E aí, minha gente, idade não
é desculpa: Dave Lombrado (ex-Slayer) tem mais ou menos a mesma idade de Lars e
ainda hoje em dia continua um monstro tocando.
Somado a todos esses argumentos, teve mais um detalhe me
incomodou muito: o show do RIR 2011 compreendeu a turnê do “Death Magnetic”,
lançado 3 anos antes (!). Naquela época, a banda já me parecia no piloto
automático e não me encantou muito. Passados 2 anos daquele show e 5 anos do
lançamento do disco, a banda dá continuidade a mesma turnê com um show
exatamente igual, excetuando-se eventuais alterações nos set lists executados.
Em termos de show, o que vimos em 2011 é a mesmíssima coisa que vimos ontem,
onde até o palco acabou ficando parecido. Este o tipo de coisa que com certeza
não veremos com o Iron Maiden, que mesmo tendo se tornado uma banda assídua no
Brasil, varia bem o show que faz por aqui, tanto em palco, quanto em músicas
(ainda que algumas NUNCA saiam dos seus set lists).
Quero deixar claro meu respeito por quem gosta da banda e
ainda a acha relevante. O importante é que os caras continuem fazendo Metal de
qualidade, mesmo com os contras que relacionei acima. Entretanto, acho
importante elencar algo que muitas das vezes o fã cego não quer enxergar,
simplesmente por conta da devoção exagerada que tem a um determinado artista. E
aí, também temos de citar a mídia, que com a mesma facilidade que destrói
carreiras, também cria mitos, lendas, transformando meros mortais em deuses, merecedores
ou não. Isso tem uma influência muito forte na cabeça da molecada e impede que
ela pense diferente pelo simples fato de que estaria remando contra a maré do
gosto geral. Já imaginou você ter coragem de dizer que “Through the Never”, o
novo filme/documentário em 3D do Metallica, que custou a bagatela de $ 80
milhões é uma porcaria?
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