domingo, 13 de maio de 2018

Resenha: "Eonian" Dimmu Borgir



Com o lançamento do novo álbum do Dimmu Borgir, “Eonian”, é possível avaliar agora qual a proposta real da banda, frente a dois singles que não foram nada animadores. A grande questão é: o disco é ruim? Se ruindade for sinônimo de chatice, sim, o disco é muito ruim...

Acho que toda banda tem direito a uma derrapada, é natural. São seres humanos atrás da produção musical, e que têm todo direito de errar. E parando para pensar bem, todo mundo, até os grandes, já tiveram deslizes em suas trajetórias: Slayer, Iron Maiden, Metallica, Judas Priest, Ozzy Osbourne, Anthrax e etc. O detalhe é quando um deslize se transforma numa nova direção musical, com uma proposta diferente da original. Nesse caso, o que acontece na maioria das vezes é que novos fãs surgem, enquanto muitos abandonam o barco insatisfeitos com os novos rumos. No caso do Dimmu Borgir, “Eonian” representa não só o deslize pontual, mas também consolida uma mudança gradual no som da banda que vem se desenrolando já alguns anos. Se o próximo álbum vier na mesma linha, aí é hora de ligar o alerta vermelho.

Vi um comentário na internet muito perspicaz e que faz muito sentido, se pararmos para analisar a evolução da banda e entender como este novo álbum pode ser um ponto de ruptura: os dois primeiros álbuns (“For All Tid” e “Stormblast”) representaram a era Black Metal tradicional; os três seguintes (“Enthrone Darkness Triumphant”, “Spiritual Black Dimensions” e Puritanical Euphoric Misanthropia”) representaram a era dos teclados; os três últimos (“Death Cult Armageddon”, “In Sorte Diaboli” e “Abrahadabra”) a fase sinfônica, com ênfase nas orquestrações. Uma evolução “sadia” até aqui, que manteve o peso constante, apesar da presença crescente das orquestrações. Ao meu ver, “Eonian” representa um ponto negativo nessa curva até então ascendente.
Não farei comentários faixa a faixa, pois o álbum é equilibrado (isso não foi um elogio) e todas as músicas padecem do mesmo mal. Mas antes de falar do álbum em si, gostaria de registrar que o Dimmu Borgir foi a primeira banda que vi na vida a soltar dois singles com as duas músicas mais fracas de um novo lançamento. Só não foi um tiro no pé porque o disco como um todo não empolga, servindo apenas para criar polêmica antes do álbum, e não para aumentar a expectativa. Talvez tenham sido escolhidas por conterem elementos mais atípicos ao som da banda, numa tentativa de antecipar uma nova linha musical.


“Eonian”tem basicamente dois grandes problemas: 1) As músicas são fracas, sem força, sem peso, sem inspiração. Não falo nem da pouca presença de Blast Beats – não é só disso que o Black Metal da banda se caracteriza - mas do clima que o DB sempre soube imprimir em suas músicas, fosse elas rápidas ou cadenciadas. Tampouco se trata de falar que o material antigo era melhor (ok, realmente é), mas de perceber que faltou inspiração e as músicas ficaram muito apagadas. Para não falar em perda total, o disco tem bons momentos isolados nas músicas, mas não a ponto de salvá-las. Juntando as partes realmente legais, talvez tivéssemos uma ou duas músicas fodas. 2) O uso abusivo de corais e orquestrações, ainda que a estrutura das músicas seja mais simples. Apesar de parecer um contrassenso, fica fácil imaginar: pegue o Satyricon do álbum “Diabolical Now” e recheie de coros e samples de orquestra. É assim que o álbum soa, com uma estrutura musical mais simples e com uma cobertura enjoativa de grandiosidade sinfônica. Todas as músicas basicamente têm isso, suprimindo a todo momento determinadas partes instrumentais que eventualmente poderiam dar um fôlego às músicas. Não foi à toa que os comentários de “Nightwish do Inferno” surgiram e, convenhamos, se encaixaram como uma luva... A coisa ficou tão “over”, que alguns momentos chegam a ser “alegres” e distoam brutalmente da proposta que estamos acostumados a ver no Dimmu Borgir, nem de longe lembrando o clima soturno que esse recurso dava ao som da banda.

O resultado final fica muito aquém do esperado e com certeza vai desapontar muita gente. Apesar de comentários positivos na Internet baseados no argumento de “evolução musical” e na crítica “quem não gostou está preso ao passado e quer ver a banda fazendo sempre a mesma coisa”, acho que o DB abrandou seu som, se tornou um pouco mais “comercial”: as investidas ultra sinfônicas e novas influências tendem a ampliar o espectro de fãs, pois torna o Black Metal deles mais “digerível”. Ainda que toda a comunicação visual e marketing do disco sejam agressivos, trata-se de uma realidade cada vez mais distante de bandas como Marduk e Dark Funeral, por exemplo.


Apesar de tudo, não acredito que mesmo com todas as críticas, haverá algum dano sério a carreira do DB, pelo menos por enquanto. A banda vai começar a turnê do disco e obviamente os grandes clássicos que todo mundo gosta estarão lá nos shows, apenas entrecortados por 3 ou 4 músicas novas que obrigatoriamente terão de ser executadas. Agora, um novo álbum com mais experimentos, mais “Nightwish” e menos inspiração pode começar a afugentar os fãs, incluindo este que vos escreve.

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