quarta-feira, 19 de julho de 2023

Cavalera: Morbid Devastation


Acabei de ouvir o “Bestial Devastation” e “Morbid Visions” regravados pelo Cavalera Conspiracy. A verdade é uma só: nada irá superar os originais. 

Ponto. 

Mas se vc tem em mente que se trata de uma releitura, cujo proposito não era ser igual, mas refazer usando a tecnologia de hoje, com a técnica individual atual dos irmãos Max e Iggor, você provavelmente vai concordar que o resultado ficou fantástico. É claro que aconteceram alguns (pouquíssimos) equívocos em termos de arranjos, mas, no geral, ficou sensacional.

Voltando um pouco no tempo, os irmãos Cavalera pegaram o mundo de surpresa ao anunciarem a regravação dos clássicos “Bestial Devastation” e “Morbid Visions”, lançados respectivamente em 1985 e 1986, quando o Sepultura ainda dava seus primeiros passos. Obviamente que todo mundo que gosta desses álbuns ficou curioso, inclusive pela divulgação também das capas dos álbuns, cujas artes originais foram “turbinadas”, deixando-as ainda mais ofensivas do que na época dos seus lançamentos. Não é novidade que Max e Iggor ultimamente têm revisitado o catálogo do Sepultura do período quando estavam na banda, mas a regravação desses álbuns foi além de tudo feito até então. Chega a ser curioso o fato de que o próprio Sepultura (atual) não resgata mais esse passado tão longínquo, se limitando a executar com mais frequência nos shows músicas do “Arise” para frente (creio que apenas “Troops of Doom” sobreviveu da fase antiga) numa escala bem pequena, uma vez que o catálogo da banda com Derrick nos vocais já é bem extenso.

Se por um lado o Sepultura não liga muito para esse passado, Max e Iggor o fazem com maestria. Curioso que já tínhamos uma banda nova fazendo justamente esse resgate, o The Troops of Doom, banda do ex-guitarrista Jairo Guedz, criada justamente com uma pegada desse Sepultura antigo, exatamente na fase agora coberta pelos irmãos Cavalera. Até então os olhos estavam voltados para eles, que além da clara influência, já haviam regravado algumas faixas desses mesmos discos. Não tardou para que fossem levantadas dúvidas do porquê Jairo não ter sido convidado para este “revival”, mas até então, nada foi dito em ambos os lados... 

Já escrevi aqui neste blog sobre esta mania de regravar material antigo que alguns artistas têm, e que nem sempre dá certo. Nem mesmo as precárias condições de gravação disponíveis na época servem de argumento, mesmo porque alguns albuns ficaram maravilhosos não só pelas músicas em si, mas por alguns detalhes nas gravações/ mixagens/masterizações toscas que os abrilhantaram. Mexer no que deu certo, ainda que para consertar estes “erros”, não justifica alterar algo reconhecidamente clássico. Entretanto, estamos falando de Brasil-anos 80, onde simplesmente não havia estrutura, estúdios e nem profissionais especializados em Metal, ainda mais extremo. Com o Sepultura foi exatamente assim, com o Morbid Visions gravado numa mesa de 16 canais em um estúdio em SP - proporcionalmente um luxo, se comparado aos míseros 8 canais (!) do Bestial Devastation no J.G. Estudios da Cogumelo. Nossa realidade era bem diferente das bandas gringas da época que, apesar de serem “mal gravadas” em alguns casos, dispunham de recursos muitos superiores aos nossos. Pensando nisso, cheguei à conclusão de que, se não fosse mexido o espírito desses álbuns nessas regravações (clássicos do Death Metal nacional), eles ficariam sensacionais com uma produção decente.

Com o lançamento dos discos dias atrás, ficou claro que os Cavalera parecem ter entendido exatamente o que deveriam fazer com este material. Obviamente há diferenças, mas a essência da música está ali, e de maneira brutal. Iggor conseguiu uma timbragem brilhante de bateria, deixando-a muito pesada e nítida (alguém lembra do som de “latinha” que a caixa tinha na versão original?), o que de cara engrandeceu as músicas. As guitarras também estão bem timbradas e replicam os riffs de maneira brilhante, principalmente nas partes rápidas, mantendo o peso avassalador das músicas em ambos os discos. Como o baixo sempre foi algo polêmico para a banda (quem não se lembra dos rumores de que Paulo não sabia tocar e ficava nervoso em estúdio, levando sempre alguém a assumir o instrumento) e nestes álbuns em específico não existia baixo nos originais, aqui ele é presente e muito bem-vindo. Agora, o grande destaque são os vocais, ainda que fossem minha maior preocupação desde o primeiro momento. É notório que Max ao vivo nos dias de hoje já não tem a mesma fúria nos guturais, bastando uma checada no YouTube para ver que, em algumas músicas, a sua voz limpa faz-se mais presente do que deveria. Mas aqui trata-se de estúdio, onde tudo é possível, embora ainda sim eu tivesse minhas ressalvas... Entretanto Max optou em não tentar copiar os urros que conseguia dar no passado, mas adaptou seu vocal grave com um certo eco que deu um molho especial às músicas. Além disso, Max hoje fala inglês fluentemente, o que permitiu que as letras fossem declamadas corretamente, sem o atropelo da versão de 1986. Para entender o que estou dizendo, basta pegar o encarte e acompanhar no original o Max dos anos 80 com seu inglês urrado direto da macarrônia. Vale ressaltar também que diversos trechos das letras foram alterados: em alguns casos, para correção dos erros de Inglês (que eram muitos nos originais), em outros para amenizar a temática Satanista barata e sem sentido usada na época, possivelmente por soar datada hoje em dia.

Em termos da música, confesso que não esperava mudança nos arranjos, embora isso fosse inevitável. Foram feitos alguns discretos ajustes estruturais, coisas muito sutis, mas que deram um upgrade necessário para a modernização do material. É claro que aqueles acostumados aos originais podem estranhar, mas creio que o tempo resolve este ponto. Vale ressaltar que, principalmente o Morbid Visions, em alguns momentos tem um acento Thrash evidenciado, mas nada que comprometa o resultado final. Basta lembrar que Troops of Doom foi regravada pelo próprio Sepultura quando do relançamento do Schizophrenia em CD e o resultado foi uma faixa muito mais Thrash do que Death Metal. Um ponto que me causou certa estranheza foi a inclusão de narrações/vozes declamadas no meio de algumas músicas (War e Warriors of Death são exemplos), o que não surtiu o efeito esperado, creio eu. Ainda no aspecto estrutural, a melhora dos solos salta aos olhos (e ouvidos), pois esse era um problema grave do Sepultura no início de carreira: solos ruins de doer. Esse quadro só mudou com a chegada de Andreas no “Schizophrenia” , mas antes do disso, só alavanca e muito, muito barulho gratuito. 

De um modo geral, o Bestial Devastation ganhou mais neste processo de regravação, uma vez que a produção original era muito ruim e a banda muito crua em termos de execução. Mas o Morbid também teve um upgrade significativo, ainda mantendo a aura sinistra do original e apresentando um álbum muito mais rico instrumentalmente. Em termos individuais, no Bestial Devastation temos a intro (“The Curse”) que foi refeita e aqui para aparece em Português, mas sem o efeito de voz original, o que pode decepcionar alguns fãs da primeira versão. Particulamente, achei que perdeu o impacto do original, mas vale apenas pela originalidade da idéia em mudar o idioma. Os destaques aqui vão para Necromancer e Warriors of Death (minha favorita desde sempre!). Ambas ficaram sensacionais !!!!! Só não me acostumei ainda com Antichrist, que tinha uma originalidade única naquela gravação tosca. Talvez com o tempo...

No Morbid Visions, como já disse antes, a regravação apenas exaltou o que já era bom e superava o EP de estréia. Entretanto, duas músicas simplesmente valem a aquisição, pois ficaram destruidoras: Crucifixion, que conseguiu ficar ainda mais tenebrosa e pesada (os sinos usados no meio da música ficaram fantásticos) e Funeral Rites, que tem sua intro numa versão ainda mais tétrica, assim como o encerramento, que também ficou avassalador. De modo geral, achei o disco equilibribado, e como já disse, com uma veia meio Thrash (discreta), inexistente à época. Empire of the Damned é onde isso fica mais evidente.  

O resultado final é um lançamento que preza pelo cuidado na produção, mantendo o espírito dos originais e trazendo uma parte visual muito impactante. Ainda que o resultado certamente não vá agradar a todos, com certeza vai fazer a alegria dos fãs mais fervorosos que viveram aquela época e sentem falta da banda que o Sepultura foi, numa era que se encerrou na saída de Max e anos depois, de Iggor. 



domingo, 30 de outubro de 2022

The Sick, The Dying... Megadeth!

 


Com o recente lançamento do novo álbum “The Sick, The Dying... and the Dead”, o Megadeth deu um passo significativo para consolidar o que já era de conhecimento geral, embora muitos ainda insistam em dizer que não: o Megadeth, num contexto geral, já superou em muito o Metallica.

O novo lançamento do Megadeth é uma belíssima obra de Thrash Metal, obviamente capitaneada por Dave Mustaine, mas muitíssimo bem amparada por uma banda afiada que reúne hoje talentosos músicos, promissores em termos de produtividade e também de longevidade. É notório que Mustaine sempre teve fama de difícil, ainda mais pela alta rotatividade de músicos na banda, embora não seja bem isso. Ainda que seja bem óbvio o fato de quem manda na banda é ele, quem conhece a história do grupo sabe que apesar da fase da bebida e drogas, Mustaine pouco a pouco profissionalizou a banda, culminando no clássico “Rust in Peace” (1990) e colocando o Megadeth definitivamente entre os grandes nomes do Thrash mundial. Depois de um período de bonança, a partir de 1997 ocorreram novas trocas de músicos, problemas de saúde Mustaine e até um fim temporário da banda.

 Mas não foi o fim e o Megadeth seguiu forte, com Dave Mustaine tendo hoje um surpreendente ex-Angra nas outras seis cordas – Kiko Loureiro – numa inusitada parceria que já havia rendido excelentes frutos no álbum anterior (“Dystopia”, 2017) e que agora simplesmente elevou a banda a um novo patamar. Na bateria, Dirk Verbeuren, que ocupou o lugar do temporário Chris Adler (que gravou “Dystopia”), e no baixo, com a derrocada e a demissão de Dave Ellefson, tivemos o retorno de James LoMenzo, que já havia tocado na banda anteriormente. Entretanto, após a demissão de Ellefson, as linhas de baixo no novo álbum, que já estavam finalizadas, foram integralmente refeitas pelo “monstro” Steve Di Giorgio, atual Testament.

O curioso, na minha opinião, é que mesmo com toda a sorte de contratempos, Mustaine sempre manteve a banda em atividade e produzindo música com uma incrível regularidade de álbuns e de – o mais importante – qualidade. De 1985 até hoje, MegaDave lançou 16 albuns de estúdio, enquanto o Metallica, de 1983 até então, lançou apenas 10 discos, sendo o último em 2016, ou seja, quase 6 anos atrás. Mas como quantidade não é sinônimo de qualidade, precisamos entender melhor o que faz do Megadeth superior, pelo menos na humilde opinião deste que vos escreve.

É óbvio que o trunfo do gigantismo do Metallica se baseia em dois pilares: a excepcional trinca de álbuns com que iniciou sua carreira: “Kill Em’ All” (1983), “Ride the Lightning” (1985) e “Master of Puppets” (1986), que ajudaram a sedimentar a base do Thrash Mundial; e a “catapultada” ao estrelato com o megaplatinado “Black Album” (1991), que jogou a banda para fora da bolha do Thrash Metal, tornando-a popular no mundo todo. Essa combinação de fatores (mérito da banda, é preciso admitir) transformou o Metallica numa espécie de U2 do Heavy Metal, colocando-os num patamar onde não tem de provar mais nada para ninguém, podendo fazer o quiser da vida em termos musicais. Mas as coisas não são assim tão simples, pois essa liberdade não se mostrou tão benéfica assim para a banda: toda a produção da banda pós Black Album (“Metallica”, na verdade), não teve a mesma qualidade do passado glorioso, quase sempre acompanhada de alguma polêmica e, claro, críticas.

Foi assim com os dois irmãos “Load” (1996) e Reload” (1997), onde a banda chutou o balde no visual e no som (calcado no Rock n Roll e bem distante do Thrash de outrora), numa combinação que divide opiniões até hoje. Para quem conhece a história, estes 2 seriam um álbum duplo, o que só não ocorreu por recusa da gravadora. Mesmo assim, soariam melhor como um único disco, já que existe muito material não tão bom assim em ambos. Na sequência, temos um álbum que tem uma rejeição unânime: “St. Anger” (2003) é não só o pior álbum da banda, mas também uma das maiores porcarias já lançadas dentro da música pesada. Músicas ruins, produção ruim, clima na banda idem. Passados 5 anos, chega “Death Magnetic” (2008), que se por um lado trás a banda de volta ao som pesado, por outro lado apresenta músicas longas em demasia e com uma produção saturada, tornando a audição do disco muito incômoda. Oito longos anos se passam e “Hardwire to Self Destruct” (2016) chega no formato duplo, tendo o mesmo problema dos irmãos “Load”, onde um único disco seria mais bem vindo, dando razão àquela máxima “menos é mais”.

É óbvio que o Megadeth também tem seus esqueletos no armário dentro de sua discografia. Pelo menos 3 discos representaram “escorregadas” na carreira da banda: “Cryptic Writings” (1997), “Risk” (1999) e “Super Collider” (2013) foram acidentes de percurso, com a banda – leia-se Dave Mustaine - tomando decisões equivocadas em termos musicais, e que obviamente representaram fracasso de crítica. De todos, esquecível mesmo é “Risk”, que representou uma tentativa frustrada de tornar a banda mais popular (sempre isso...). “Crush ‘Em”, 3ª faixa desse disco, é uma das maiores bobagens já escritas pela banda e comprova o espírito pouco inspirado desse álbum.  

Daí a Matemática entra em ação: tirando 3 de 16, sobram 13 álbuns onde Mustaine ou manteve a média, ou então gerou clássicos. Sim, clássicos! O Megadeth, assim como o Metallica, também gerou uma trinca celestial: “Peace Sells... But Who´s Buying” (1986), “Rust in Peace” (1990) e “Countdown to Extinction” (1992) também sacudiram as estruturas da cena pesada quando dos seus lançamentos. Diferentemente do Metallica, que tem seus clássicos em sequência, no início da carreira e calcados na fase Thrash da banda, o Megadeth o fez mais para a frente e mostrando um amadurecimento e variedade maiores, principalmente em “Countdown to Extinction”, já não tão veloz quanto seus antecessores. É como se “Peace...” mostrasse a banda furiosa e crua, “Rust...” a fúria junta de uma técnica impressionante e “Countdown...” evoluísse tudo isso com melodia.

Ainda na Matemática, se de 13 tirarmos 3, temos 10 albuns cuja média é suficiente para manter a banda como uma das mais eficazes na cena, mesmo decorridos 37 anos de carreira. Alguns discos, mesmo não sendo clássicos, ostentam o status de excelentes: “So Far... So Good... So What!” (1988), na minha opinião, foi o álbum que consolidou Dave Mustaine como um dos guitarristas mais criativos da geração Bay Area, posando ao lado de James Hetfield, Scott Ian, Alex Skolnic e Gary Holt. O disco é uma saraivada de riffs maravilhosos, que ficaram ainda melhores nas versões remasterizadas desse disco. Outro disco digno de nota é “Youthanasia” (1994), que na minha opinião foi uma evolução natural do anterior (“Countdown...”) embora um pouco diferente em termos de brilho, mas mesmo assim um disco maravilhoso, com composições inspiradas e uma das melhores capas da banda. “The World Needs a Hero” (2001) é um ótimo disco, embora eu ache que ele seja subestimado na discografia da banda. “United Abominations” (2007), “Endgame” (2009) e “TH1RT3EN” (2011) se equivalem em termos de qualidade, sendo ótimos discos.

Fechando a conta, com a chegada de “The Sick, The Dying and the Dead”, fica clara a qualidade do catálogo da banda e possibilidade de não depender exclusivamente dos clássicos nos shows. O disco novo é furioso, técnico, pesado e em alguns momentos muito rápido, sendo uma grande promessa ao vivo. Ou seja, a banda ainda aposta num som vigoroso que o Metallica não quer (ou não consegue mais fazer), o que fica evidente numa comparação com “Hardwire to Self Destruct”, disco que tenta trazer a vibe “Kill ‘Em All” em alguns momentos, mas sem muito sucesso. Entretanto, o tamanho que o Metallica atingiu hoje é algo difícil de competir: a prova disso, num exemplo recente, é a penetração que a banda conseguiu em um público mais amplo e completamente fora do Metal, com a (re)descoberta da música (“Master of Puppets”) num seriado da Netflix.

Uma coisa que sempre tive em mente é o seguinte: Dave Mustaine não saiu (ou foi “saído”) do Metallica por causa de drogas e bebida. Ele saiu porque era um gênio, e a banda já tinha dois nela. Ainda que a história mostre que o problema era mesmo entre ele e Lars Ulrich (que tinha ciúmes da amizade dele com James), se ele não tivesse sido chutado antes do “Kill ‘Em All” ver a luz do dia, inevitavelmente ele o seria mais para frente, isso se não percebesse por si só que não teria espaço suficiente na banda e saísse por vontade própria. Me pergunto como teriam sido as coisas se Dave passasse apenas mais alguns anos a mais no Metallica. No fim das contas, para nossa felicidade, ainda no banco daquele ônibus após ser expulso, ele teve a visão e descobriu o nome da banda que ia chutar o traseiro do Metallica: MEGADETH!

PS.: Se você, caro leitor dessas mal traçadas linhas, achar que isso tudo é bobagem, delírio de um fã idiota e cego, sugiro um exercício: coloque a faixa “Wake Up Dead” do “Peace Sells...”, feche os olhos e ouça o solo feito aos 2min46seg.

Quem fez aquilo não estava para brincadeira.

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

10 Discos Pós "Debut"

Muito se fala na importância de álbuns de estréia, principalmente quando estes se tornam clássicos. Muitas bandas até conseguiram (e ainda conseguem) que os álbuns seguintes também sejam adorados, mas muito me incomoda que pouco se fala, especificamente, daqueles álbuns que sucederam os discos de estréia, mesmo sendo igualmente ou ainda mais brilhantes. Para reparar esta falha imperdoável dentro da literatura metálica mundial, listo aqui 10 “segundos” álbuns tão ou mais devastadores que seus antecessores. Considerarei apenas os álbuns completos, sem contar eventuais lançamentos de EP´s entre eles. Além disso, não há ordem de importância ou ranking, apenas 10 discos obrigatórios para você ouvir – conhecendo ou não – assim que terminar de ler estas linhas!

1º) “Hell Awaits” – Slayer

Chega a ser assombrosa a diferença que “Hell Awaits” consegue estampar se comparado com “Show No Mercy”. Este assombro só não é maior porque a banda havia dado um aperitivo do que viria no EP “Haunting the Chapel”, lançado entre os dois. Mesmo assim, é impressionante o nível de brutalidade, velocidade e técnica que a banda conseguiu imprimir neste disco. O massacre começa com aquela que é uma das introduções mais fudidas já feitas dentro do Heavy Metal (faixa título) e segue sem piedade ao longo de músicas matadoras como “Kill Again”, “Praise of Death” e “Necrophiliac”. Simplesmente essencial em qualquer discografia que se preze.

2º) “Pleasure To Kill” – Kreator

Outro que impressiona pela evolução, principalmente porque o debut “Endless Pain” já era impressionantemente brutal e, de certo modo, inovador. Pena que aqui se encerrou a divisão igualitária de vocais entre Mille e Ventor, que justiça seja feita, foi feita de maneira soberba de novo. As faixas que cada um pegou para cantar são perfeitas: particularmente sempre curti muito mais os vocais do Ventor, mais brutais e intensos. Mas todas as faixas são perfeitas, com meus destaques para “Death is Your Savior” (maravilhosa), “Riot of Violence” e “The Pestilence”. Se não tem, compre agora!

3º) “Eternal Devastation” – Destruction

O Destruction iniciou sua discografia com um EP (“Sentence of Death”), que não levarei em consideração, embora a evolução da banda para o seu debut “Infernal Overkill” seja igualmente impressionante. Entretanto, “Eternal Devastation” elevou a banda a outro patamar, com músicas icônicas dentro do Thrash Metal mundial. Não bastasse isso, a produção do álbum – embora não seja um primor, fruto das condições da época – foi ímpar e conseguiu imprimir uma atmosfera única ao disco, grande parte ao timbre de guitarra matador de Mike. Basta ouvir a sensacional “Curse the Gods” para entender o que quero dizer. Depois que entender, ouça o restante!



4º) “Ride The Lightning” – Metallica

Na minha opinião este álbum tem peso dobrado nesta avaliação, não só pela diferença frente ao estreante “Kill Em` All”, mas também pelo fato (na minha humilde opinião) de que este não é essa maravilha insuperável e imbatível que muitos dizem... Para mim, foi “Ride The Lightning” que mostrou ao mundo que o Metallica era sim uma banda diferenciada, mesmo com um belíssimo disco de Thrash Metal, superior em todos os sentidos ao primeiro. O que não dizer de “Fight Fire With Fire”, com sua velocidade estonteante? Ou “Ride the Lightning”, com sua cadência rítmica matadora? Isso sem mencionar “Fade to Black” e “Creeping Death”, fechando a questão. Essencial demais na coleção.

5º) “The Force” – Onslaught

Este é um dos casos de mudança da água para o vinho, mesmo porque alterações bem vindas na formação ajudaram esta transformação. A entrada do vocalista Sy Keeler e algumas trocas de instrumentos na formação que gravou o debut “Power from Hell” permitiram que um time coeso desse a luz a um álbum destruidor e mais técnico que o disco de estréia. As faixas ficaram mais longas, mais rápidas e são simplesmente maravilhosas. “Let There be Death” (introdução antológica!), “Fight with The Beast” e “Metal Forces” não me deixam mentir!



6º) “Raging Steel” – Deathrow

Nesta lista este é o disco mais injustiçado de todos, não recebendo a atenção e o valor que merece até hoje. Lançado em 1987, em meio aquela safra maravilhosa do Thrash Metal mundial, acabou passando batido, mesmo sendo um discos mais espetaculares do estilo. Embora seja uma evolução do seu antecessor (“Riders of Doom”), a banda conseguiu uma produção melhor e músicas matadoras, baseadas numa banda coesa e talentosa. Destaque para o peso da bateria na gravação, o que simplesmente deixou as músicas ainda mais marcantes. Dúvida disso? Ouça “Pledge to Die”, “Dragon`s Blood” (que música!) ou “Beyond the Light”. Para quem curte Thrash Metal porrada, mas muitíssimo bem tocado. Imperdível!



7º) “Spreading the Disease” – Anthrax

Outro que sofreu efeito (benéfico) de mudanças na formação e se transformou. Joey Belladonna estréia na banda num disco muito superior ao primeirão “Fistfull of Metal”, que tem músicas boas – alguns classícos até – mas que se assemelha ao “Kill Em` All” do Metallica em termos de crueza. Além dos vocais de Belladonna muito bem encaixados no som da banda, a maior variação das músicas se mostrou essencial para o sucesso desse álbum, apesar de carta diminuição da velocidade. Mesmo assim, sons como “A.I.R.”, “Madhouse”, “The Enemy” são fantásticos, embora ainda haja pedreiras como “Gung Ho” para quem curte velocidade.


  
8º) “Symphonies of Sickness” – Carcass

O tenebroso Carcass não se contentou em assombrar o mundo com o seu debut “Reek of Putrefaction”, com o segundo ato na forma deste “Symphonies of Sickness”. Como o primeiro se baseava numa produção (?) extremamente tosca que deixou quase tudo inaudível, o segundo álbum ganhou uma produção melhor, possibilitando à banda mostrar sua proposta, ainda que ela continuasse tosca e totalmente gore nas letras e na parte gráfica. Mas ficou claro que os músicos, mesmo em meio aquele caos “Splatter Gore”, eram talentosos e conseguiram um disco muito mais consistente. Faixas como “Reek of  Putrefaction”, "Exhume to Consume" e "Excoriating Abdominal Emanation", além dos belíssimos títulos (me perdoem, mas não deu para evitar) mostraram uma banda afiadíssima, com uma performance um degrau acima do debut.

9º) “Leprosy” – Death

O Death é um caso curioso, pois o debut “Scream Bloody Gore” foi tão impactante e tão influente na cena Death Metal mundial que era impossível imaginar como a banda viria no álbum seguinte. A expectativa era a das melhores, mas como garantir que a banda iria se superar? Que dirá lançar outro clássico absoluto, e mais, que continuaria ditando as regras do estilo. Como o Death na realidade era a mente brilhante de Chuck Schuldiner (R.I.P.), a nova formação não foi o fator determinante para o assombro que foi “Leprosy”, embora não possamos desconsiderar os talentos individuais. “Leprosy” foi muito além do debut, com todas as suas 8 faixas simplesmente se tornando hinos clássicos do Death Metal. Mandatório em qualquer coleção.

10º) “Darkness Descends” – Dark Angel

O que dizer da única banda dentro da cena metálica mundial que conseguiu, na minha opinião (e creio que de muita gente também), lançar um disco que rivaliza de igual para igual com o supremo “Reign in Blood”? “Darkness Descends” é tão brutal, rápido e violento quanto o clássico do Slayer, estando a anos luz do Thrash mais “técnico” do estreante “We Have Arrived”. Parece que toda a banda injetou adrenalina na veia antes de gravar este disco e o resultado é de um peso absurdo complementado por uma velocidade estonteante! Todas as faixas são sensacionais, mas se você não conhece e quer um ponto de partida, ouça a última, “Perish in Flames”. Depois que você se recuperar da pancada, aí ouça o resto do disco!



segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Fukin Metal Tracks: Necrophagist "Culinary Hyperversity"

Band: Necrophagist

Song: “Culinary Hyperversity”

Album: “Onset of Putrefaction”

Year: 1999

domingo, 22 de novembro de 2020

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Isso Não é Direito

Modéstia à parte, acredito que dons premonitórios me permitiram escrever dois textos (estes aqui de Agosto/2018 e Abril/2019 - clique nos links para lê-los) que, juntos desse aqui, formarão a trilogia que poderei tranquilamente chamar de “Eu Já Sabia Que Isso Ia Dar Merda”. Quem já leu essas postagens já sabe minha opinião e que fatalmente falarei aqui da confusão arrumada por Edu Falaschi e sua carreira “solo”, que neste ano culminou com o lançamento do DVD/Blu-Ray “Temple of Shadows In Concert”, gravado em Abril de 2019 no Tom Brasil, em SP. Caso você ainda não saiba, este é o resultado de uma tour onde Falaschi reproduz o clássico “Temple of Shadows” do Angra na íntegra e com o apoio de uma orquestra. Consumada a tour e o registro ao vivo, foi instaurada uma verdadeira celeuma legal em torno desse lançamento, uma vez que ele já foi saiu no Japão, mas não por aqui no Brasil. O motivo disso seria Rafael Bittencourt, guitarrista e líder do Angra, que teria “barrado” o lançamento por conta de uma série de questões envolvendo direitos autorias que foram infrigidos nesse lançamento. Na esteira disso, em meio a versões diferentes e conflitantes de ambos os lados, um monte de sujeira foi retirada de debaixo do tapete e devidamente jogada no ventilador.

Antes de tudo, um pequeno resumo: Depois de sua saída do Angra, Edu investiu no Almah, sua banda solo. Depois de 5 (bons) albuns lançados sem a mesma repercussão dos tempos do Angra, teve  uma inspiração divina por intermédio de Joe Lynn Turner , que o aconselhou a cantar as musicas de sua ex-banda sob a chancela de uma nova carreira, desta vez como cantor solo. Com a boa repercussão de resgatar músicas já consagradas, a coisa foi crescendo e culminando com o referido DVD. Mas no meio do caminho tinha uma pedra... que se chamava direito autoral.

Para entender a dimensão do problema, basta uma olhada detalhada sobre os créditos do “Temple of Shadows”, 5º disco do Angra, lançado em setembro de 2004. Logo de cara, todas as letras são de autoria exclusiva do Rafael Bittencourt, com a maior parte das músicas compostas pela dobradinha Rafael/Kiko. Em termos de participação, Edu compôs apenas uma música sozinho – mas com letra do Rafael, conforme dito acima – e participou da composição de outra três faixa em conjunto com Rafael e/ou Kiko.

Título

Música

Duração

1.

"Deus Le Volt!"  

 

0:52

2.

"Spread Your Fire"  

Edu Falaschi, Kiko Loureiro

4:25

3.

"Angels and Demons"  

Edu Falaschi, Kiko Loureiro

4:10

4.

"Waiting Silence"  

Rafael Bittencourt, Kiko Loureiro

4:55

5.

"Wishing Well"  

Edu Falaschi

3:59

6.

"The Temple of Hate"  

Kiko Loureiro 

5:13

7.

"The Shadow Hunter"  

Rafael Bittencourt, Kiko Loureiro

8:04

8.

"No Pain for the Dead"  

Kiko Loureiro, Rafael Bittencourt

5:05

9.

"Winds of Destination"  

Rafael Bittencourt, Kiko Loureiro

6:56

10.

"Sprouts of Time"  

Kiko Loureiro 

5:09

11.

"Morning Star"  

Rafael Bittencourt, Kiko Loureiro

7:39

12.

"Late Redemption"  

Rafael Bittencourt , Kiko Loureiro

4:55

13.

"Gate XIII"  

Kiko Loureiro, Rafael Bittencourt, Edu Falaschi

5:03

Duração total:

66:60

Fonte: Wikipédia

Não é necessário ser nenhum expert para perceber que cerca de 90% do disco foi composto pelo Kiko e pelo Rafael, e que o uso desse material não seria na base de “tocar e gravar”. Apesar das versões divergentes, ao parece Edu Falaschi errou no registro das músicas e consequentemente na distribuição de direitos, além de haver deixado Rafael – aí em termos de amizade – de fora do processo todo, não o havendo convidado para assistir ao show que gerou o DVD e pior, sequer enviou o material pronto para que ele pudesse ver o resultado final. Fica a dúvida se houve ingenuidade ou má fé de Falaschi, ou se Rafael está puramente sendo ranzinza frente ao sucesso da empreitada. Independentemente de quem está certo, mesmo porque isso é coisa muito específica para os envolvidos e advogados resolverem, o circo está armado e pelo visto este relacionamento entre ex-companheiros de banda azedou de vez. Mas, retornando à chamada vaca fria, fica claro o equívoco de Edu Falaschi em classificar como solo uma carreira onde ele canta música dos outros, ainda que com alguma (ou pouca) participação sua. Apenas reforçar este conceito, em “Rebirth”, sua estréia na banda em 2001, também existe o mesmo grau de composições do Edu frente ao material total, se comparado ao TOS. 

E o mais estranho de tudo isso é Falaschi está no estúdio gravando seu novo álbum solo! Ou seja: voltará ao ponto onde gravará músicas inéditas, tal qual fazia com o Almah. Logicamente, existe a chance de que o material, independentemente da qualidade, tenha a mesma repercussão que havia na época do Almah e que, segundo o próprio, já havia atingido um teto. Fica a questão se teremos aí uma cópia do Angra, na mais pura essência, pois seria o que justificaria a tal “carreira solo”, que seria tão diferente do Almah e muito mais bem sucedida. A única coisa certa é que depois dessa dor de cabeça toda, Falaschi não chegará nem perto dos demais álbuns do Angra em que tocou (“Aurora Consurgens” de 2006 e “Aqua” de 2010) que não são emblemáticos quantos os dois primeiros em que participou: não valeriam o risco... 

Para quem tiver curiosidade, seguem os links de duas entrevistas esclarecedoras: uma do Rafael e outra do Edu, cada qual contando sua versão para o imbróglio:


Time is Money! Time is Metal!

1º Ponto: Quando Jeff Hanneman faleceu em 2013, ainda houve gente que ficasse consternada pelo fato da banda não haver acabado ali mesmo: afinal de contas, a formação original havia perdido um membro, e mais: um dos principais compositores. Entretanto, bandas são empresas – queiram os fãs ou não – e compromissos previamente assumidos devem ser cumpridos. Com isso, não demorou para a banda se reestruturar e continuar com Gary Holt assumindo as seis cordas ao lado de Kerry King. Partindo desse conceito, também se conclui que o Slayer e as bandas de um modo geral, assim como as empresas, representam empregos e dinheiro envolvido. E como se diz no meio empresarial, “tempo é dinheiro!”, o que justifica a rapidez em resolver qualquer questão que represente a paralisação das atividades. 

2º Ponto: Com a Nervosa não foi diferente, uma vez que a banda passou por uma ruptura na formação, onde 2/3 da banda saíram para fundar um novo grupo. E detalhe: em meio a pandemia que parou o mundo. O que parecia ser algo inesperado e de difícil solução a curto prazo, teve resposta do que restou da banda – a fundadora Prika Amaral – mostrando que não era o fim do mundo, ou melhor, da banda. Em pouco menos de seis meses, a Nervosa se reestruturou como um quarteto, já lançou 2 clipes/singles e em Janeiro do ano que vem lança o novo álbum, que já está finalizado. Ficou claro que a situação interna que culminou no racha já vinha se desenhando há algum tempo e que a ruptura não foi surpresa para as envolvidas. Mais do que isso, já havia plano B em andamento, na expectativa apenas do inevitável.

 

3º Ponto: Respondendo a um comentário feito no Instagram da Fernanda Lira por um fã, a pessoa me questionou a certa altura, quando mencionei que a Crypta havia ficado para trás ao não apresentar material novo até o momento: “No entanto, existe algum tipo de competição?"

Colocados estes 3 pontos iniciais, o quero demonstrar é que ainda existe uma certa ingenuidade e até romantismo dos fãs com relação às bandas, fazendo com que eles não enxerguem as entre linhas de certas situações. O questionamento sobre a existência de competição mostra uma linha de raciocínio pura: as bandas são diferentes e apesar da ligação entre elas pela Nervosa como trio, cada uma tem seu tempo e não existe a necessidade de mostrar serviço “para ontem”. Ledo engano, pois essa necessidade existe sim, assim como uma competição velada, que ninguém vai admitir, mas que ninguém quer perder. O caso da Nervosa é excelente para corroborar esta afirmativa pelo simples fato de que Prika não só já reformou a banda, mas também mostrou um resultado muito, mas muito acima do que o Nervosa com Fernanda e Luana havia conseguido até então.

   

É óbvio que vão haver comparações: os fãs e todos que ouvirem as duas bandas, assim que possível for, vão falar que uma é melhor, mais pesada, mais lenta, mais Death e menos Thrash, mais Thrash e menos Death e por aí vai. O que acontece é que quem ouvia a Nervosa, vai fazer do som antigo com o novo. Ao já mostrar um material aos fãs, mesmo que na forma de duas músicas apenas, conseguiu deixar todos de boca aberta. Já tive a oportunidade de ver vários “reacts” no YouTube (Ok, isso não quer dizer nada, concordo) e curiosamente todos foram unânimes em elogiar a faixa “Guided By Evil”, a primeira a ser lançada. Realmente a música é muito, mas muito boa, causando uma ótima primeira impressão e uma grande expectativa pelo álbum. A segunda “Perpetual Chaos”, faixa título do álbum, foi lançada hoje, e só pude ouvir uma vez. Mesmo assim, me pareceu ser outra pedrada muito boa. 

Comercialmente isso é muito importante. Primeiramente, porque a gravadora enxergará como certa a opção de manter a banda no cast. Isso representa investimento em divulgação e provavelmente em suporte para turnês que devem surgir. Este é o segundo ponto: todo mundo vai querer ver a banda em ação, mesmo porque a Nervosa sempre foi uma banda de estrada. Por fim, os planos de divulgação do making of do álbum via internet serve para manter a curiosidade das pessoas, despertada pelo clip, até que o álbum saia finalmente.

Nesse meio tempo, a Crypta vai entrar em estúdio apenas em janeiro, o que deve acarretar o lançamento do debut apenas para o fim do primeiro semestre do ano que vem, mais ou menos. Nada impede que a banda também surpreenda e mostre um excelente trabalho. Fica claro que Prika manteve o contrato que já existia e a estrutura da gravadora, o que justificaria em parte a agilidade ao reformar a banda. Entretanto, a mesma Napalm Records contratou a Crypta, mantendo de maneira previsível até, as duas bandas no seu cast. A verdade é que podemos ter agora duas excelentes bandas, embora eu esteja com mais curiosidade pelo álbum do Nervosa (se ele faz juz aos singles até agora) do pela Crypta que, infelizmente, ainda não tem nada para mostrar. 

sábado, 21 de março de 2020