quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Metal Mundial em 2013: O Que Ainda Falta Conquistar?



Antes de mais nada, quero deixar claro que este texto não é fruto de alguém que não curte mais Metal, pelo contrário: minha paixão pelo estilo ainda é a mesma. A única diferença é que o tempo passou e sinceramente me preocupo com que o futuro reserva para o estilo musical mais fantástico desse planeta. Tampouco também sou um saudosista inveterado, pois mesmo com o passado sendo maravilhoso, a busca por novidades é vital para a renovação e evolução musical de cada um.

Com 25 anos de Metal pesado na bagagem, não é raro eu me ver pensando em como o Rock Pesado mudou nesses anos todos. As novidades, os clássicos, os fracassos, as decepções, as surpresas, enfim, todos os altos e baixos que o estilo teve, tem e provavelmente terá no futuro. Mas esta é a real razão dos meus pensamentos mais profundos: se o estilo passou por tanta coisa enquanto se desenvolvia e consolidava, o que o destino reserva para ele agora que se encontra estabilizado, definitivamente estabelecido como um grande negócio e com um grande público? Como ficará depois que a geração atual – que sedimentou a base dos anos 80 para cá, for embora, deixando um cenário onde não há mais espaço para muita novidade? Será a nova geração capaz de reinventar o estilo? Questões como essa bombardeiam minha mente no momento em que muitas das novas bandas não conseguem mais chamar minha atenção, uma vez que o que se tem é mais do mesmo, sem nada de novo. Ou, fazendo uma analogia culinária, que apresente a comida requentada, mas pelo menos saborosa.

Quem se encontra na faixa dos 40 anos, como eu, já deve ter entendido muito bem o espírito contido no início deste texto.  A diferença do cenário de 1983 e o de hoje não se mede apenas pela quantidade de anos que se foram, mas por toda uma cultura que mudou de forma drástica, afetando seriamente os rumos do estilo. Cito um ponto pelo exemplo contido na biografia “O Reino Sangrento do Slayer” (Mclver, Joel - 288 páginas, Edições Ideal), onde, em diversos momentos, encontramos referências ao “Tape Trading”, largamente praticado naquela época, e que nada mais era a troca de fitas K7 com demo tapes, bootlegs ou lançamentos oficiais, e  que os fãs faziam entre si com fins de aumentar o arsenal de discos e de conhecimento de bandas. Em tempos sem Internet, era isto que conectava fãs e, por incrível que pareça, mantinha uma cena (underground, é claro) unida e forte, tendo sido a base de sucesso de muitas bandas grandes hoje. Imagine um mundo sem sites das bandas, “Youtubes” ou “Myspaces”, onde você só podia obter informações e as novidades pela troca de fitas, pelos fanzines e, é claro pelos shows. E em maior ou menor escala isso aconteceu em vários lugares do mundo, inclusive aqui no Brasil. Rio de janeiro, São Paulo e Minas foram os centros catalisadores de um movimento que gerou grandes bandas, sendo a principal delas o finado Sepultura (desculpem a ironia e o trocadilho, mas...). Esperar um colega comprar um importado e depois copiar em fitas K7 até dizer chega era algo comum na época, onde até algumas lojas faziam isso(!) por um valor mais em conta. Em resumo, era uma época em que as coisas eram muito mais difíceis, demandavam muito mais esforço, mas contava com a paixão e o envolvimento de quem tinha amor pelo estilo e queria ver a coisa acontecer.

Passado o tempo, o reconhecimento veio e alguns nomes transpuseram a barreira comercial imposta pelo “mainstream”, onde o lixo pop imperava e o Metal era considerado coisa de vagabundo. Em seguida, veio a Internet e, na minha opinião, foi aí que a coisa ao mesmo tempo teve um impulso muito grande, mas também teve fim... O advento da tecnologia, com o passar do tempo, obviamente foi positivo: equipamentos melhores, melhores estúdios, melhores profissionais e etc.. Estes foram fatores que aumentaram o nível qualitativo das bandas, somando-se ao próprio talento delas e sua evolução musical. Com a Internet, a divulgação das bandas se tornou mais fácil, mais rápida, independente do lugar do mundo onde se estivesse. As novidades chegavam quase que instantaneamente para todos e os fanzines de outrora deram lugar a sites especializados; as fitas K7, soberanas durante anos deram lugar a sites onde áudio e vídeo podiam ser divulgados livremente; o vinil, alvo das coleções dos headbangers  no mundo todo deu lugar ao CD, que depois deu lugar ao MP3, que trouxe de bandeja a pirataria, onde a música não tinha mais dono.  Até mesmo as gravadoras, entidades máximas e supremas do meio musical, sucumbiram diante da fúria da revolução da Internet.

Mas onde entram as pessoas nessa história toda? O que houve com aqueles fãs ardorosos que mantinham a cena lá no início? Simplesmente se adaptaram, como este que vos escreve. O romantismo de uma cena embrionária deu lugar a algo profissional e sofisticado, que facilitou a vida de todo mundo e este talvez tenha sido a derrocada de um estilo que sempre foi caracterizado pela sua paixão. Deixo claro que não estou dizendo que o fã de Metal hoje não tenha paixão, não se trata disso: o que estou dizendo é que hoje tudo é muito fácil, e essa facilidade gera quantidade, que não é sinônimo de qualidade. Também não estou dizendo que o mundo era melhor quando tudo era mais difícil, mas que hoje não há mais o impacto do passado, isso não há. Como exemplo, me  lembro até hoje de  como conheci o Slayer: um amigo me levou a um Shopping (Rio Sul, construído em 1980) e fomos a uma loja de discos, onde ouvimos juntos, em uma cabine (!), um vinil pirata do “Show No Mercy”. A capa era tosca, preta, com a logo e o bode reduzidos no centro, a contra capa era sem fotos, somente com o nome das músicas. O disco não tinha selo nenhum e hoje, com certeza, é item de colecionador. Só me lembro que era caro e umas poucas cópias circularam por aqui. Hoje, você entra na Internet, baixa o disco, capa, contracapa, encarte e tudo mais em questão de segundos. Qualquer adolescente que se torne um headbanger hoje pode, em questão de dias ter a mesma coleção que levei anos para juntar. Repito: não é despeito pela facilidade, mas a luta para conseguir algo trazia embutido um grande valor pessoal, ausente dos velozes downloads de hoje. O mesmo se aplica as bandas: hoje é fácil ter um instrumento, é fácil gravar, ter CD na mão e divulgar: é nessa hora que a qualidade cai e a quantidade aumenta, e daí voltamos ao que disse no início desse texto. Ouço muita coisa nova, mas nada que seja capaz de me encantar como acontecia no passado. Pessoalmente, desde o Slayer, a única banda que foi capaz de me deixar embasbacado foi o Dimmu Borgir, que se mostrou uma puta novidade com aquele Black Metal Sinfônico – e olha que não sou fã de Black Metal – extremamente técnico e soturno, fruto do uso inteligente dos teclados, algo não habitual até então neste tipo de som.

É óbvio que o próprio esgotamento do estilo chegaria em algum momento (desculpem-me os puristas, mas o que falta se inventar no Metal?) e aí entraríamos num ciclo de repetição até que algum novo talento apareça e seja a tábua de salvação do estilo. Para se ter uma ideia, basta pensar no seguinte: bandas como Slayer, Megadeth, Metallica, Anthrax, Exodus, Iron Maiden, Motorhead, AC/DC, Saxon, Overkill, Kiss, Destruction, Sodom, Accept, Kreator, Rush e muitas outras estão na ativa há 25, 30 anos e, mais cedo ou mais tarde, vão parar. Agora, quais são os nomes mais novos, de mesmo porte, que estarão em seu lugar?  Particularmente, não consigo visualizar nomes a altura para representar uma continuidade.  Ou melhor dizendo, alguma conseguirá revolucionar a cena como os nomes citados o fizeram, cada um do seu modo? Essa “recessão” fica ainda mais comprovada pelo saudosismo que se levanta de vem em quando, tendo hoje como figura o revival do Thrash, com as bandas da Bay Area (ainda) em alta e outras tantas simplesmente copiando descaradamente - até no visual - o que se fez milhares de vezes naquela época. Há alguns anos atrás, o Death Metal foi a bola da vez, com uma banda atrás da outra adotando o estilo, numa onda que veio e passou.

Entendam, não estou dizendo que o Metal vai morrer, mas não sei dizer os rumos que ele vai tomar sem o espírito guerreiro que tinha no início. A geração de hoje encontra um cenário mundial diferente e não há como prever como ela vai escolher mostrar ao mundo sua revolta contra o sistema: se empunhando uma guitarra ou se atrás de um computador.