terça-feira, 2 de abril de 2024

O Fim do Sepultura

No final do ano passado todo mundo foi pego de surpresa pelo anúncio do fim do Sepultura, que seria precedido por uma turnê mundial em 2024/2025. Como já estamos em Abril e a tour já até começou, não vou revisar aqui este histórico, uma vez que todo mundo já está careca de saber os motivos alegados. Além disso, todo mundo também já soube da (turbulenta) saída do baterista Eloy Casagrande, que alegando compromisso/oportunidade inadiáveis, foi embora abruptamente antes mesmo do início dos ensaios. Os rumores - ainda não confirmados até o momento – dão como certa a ida dele para o Slipknot. A conferir.

O que gostaria de comentar aqui sobre esse assunto seria a resposta a uma pergunta um tanto quanto cruel: o Sepultura fará falta? Antes que me chamem de “Viúva do Max”, ressalto que uma análise realista precisa ser feita na carreira da banda e, sim, principalmente após a saída do Max e a entrada de Derrick Green. Não basta reclamar por reclamar, mas creio que os fatos mostram que a banda só existiu até hoje por conta do passado glorioso, ainda que uma geração nova de fãs tenha aderido ao som do grupo. Porém, a verdade é que só esse repertório não sustentou a banda na estrada, ainda que sua discografia tenha sido profílica desde os idos de 1998, quando o álbum “Against”, primeiro da nova fase, veio ao mundo.

Confesso que por diversas vezes tentei ouvir a banda nessa nova versão, mas infelizmente nunca consegui. Não adianta: a voz do Derrick - na minha humilde opinião - não casa de jeito nenhum com o estilo da banda e tampouco com o material antigo. Que a banda não quisesse um clone do Max, tudo bem. Mas sempre achei que o fato das bandas procurarem vocalistas diferentes (ou muito diferentes, em alguns casos) pura birra, pois isso acaba sendo um tiro no pé, e para o Sepultura definitivamente o foi. Para citar dois exemplos bem sucedidos, era só olhar o Accept ou para o Queensryche, que perderam vocalistas icônicos e hoje mandam muito bem com músicos competentes e exatamente iguais aos seus antecessores. Seja sincero: você que lê estas mal traçadas linhas, já viu alguém por aí reclamando que o Mark Tornillo não é igual ao Udo? Ou que o Todd La Torre não canta “Queen of the Reich” igual ao Geoff Tate?

A mudança de voz trouxe consequência negativa direta para os shows. Um vocalista com uma voz que não agrada em estúdio não vai nunca conseguir milagres ao vivo, e daí músicas novas e antigas se juntam num mesmo balaio de gatos onde tudo fica prejudicado. Além disso, a insistência do Andreas em não ter uma segunda guitarra deixa o som incompleto, embora esse não seja o maior dos problemas. A verdade é que os lançamentos em estúdio nunca me cativaram, e do material ao vivo sempre passei longe, simplesmente porque nunca enxerguei qualidade.

Passados 28 anos da saída do Max, sempre me perguntei ao longo desse tempo se a banda sobreviveria apenas com o material novo, sem recorrer ao antigo. Sempre achei que não, embora a banda tenha uma nova geração de fãs, repito. Mas sempre tive a percepção de que a platéia que ia assistir a banda sempre teve uma parcela significativa de fãs “old school”, ansiosos pelo material do “Roots” para trás. Para ilustrar meu pensamento, achei melhor fazer uma análise no set list da banda para essa turnê de despedida, vendo a proporção das fases antiga e atual nele. Tomei por base o show em BH no Arena Hall, em 1º de março desse ano, e constatei o seguinte: das 22 músicas tocadas, 13 eram da fase antiga, com 9 da fase Derrick. Por mais fãs que a banda tenha angariado, é impossível não revisar o passado.

O Sepultura fará falta? Na minha opinião, já faz há muito tempo (por essa você não esperava, certo?). O Sepultura é uma instituição nacional, um dos maiores nomes da cena musical do Brasil e com uma representatividade enorme no exterior, mais até do que aqui. A partir do momento em que a banda se dividiu todos perderam, músicos e fãs. O Sepultura tomou o rumo que todos conhecemos, optando por uma mudança de curso. Max, por sua vez, optou em mais do mesmo, elevando o estilo adotado no “Roots” a um flerte descarado com o New Metal. Basta relembrar que ambos tiveram discos de estréia bem desastrosos, levando um bom tempo para que ambos conseguissem se encontrar e apresentar material superior aos seus debuts. O fato do Sepultura ter diminuído de tamanho após a saída do Max e passado muito tempo fora do grande circuito, inclusive internacionalmente, foi muito prejudicial para a carreira do Sepultura. O Wacken, por exemplo, só viu a banda em 2011, 13 anos depois do debut com Derrick. Ainda que a formação com Max nunca tenha tocado lá, foi muito tempo sem uma oportunidade para uma banda tão importante como eles, ainda mais por se tratar de um festival cuja busca de novidades no cast é incessante.

Em tempo: como era de esperar, a despedida da banda já gerou expectativa de retorno dos irmãos Cavalera, o que sempre foi esperado e cogitado exaustivamente desde que cada um deles saiu da banda.

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