sábado, 4 de janeiro de 2025
domingo, 7 de julho de 2024
sexta-feira, 31 de maio de 2024
Eloy, Máscara e CTPS
E o que isso prova? Músicos também são empregados, e também têm
expectativas de carreira, muitas das vezes almejando uma ascensão profissional
similar a um empregado numa empresa, com cargo e remuneração melhores. Já falei
dessas similaridades entre Rock e negócios aqui, e a bola da vez é Eloy
Casagrande com sua saída do Sepultura e a ida - agora confirmada – para o
Slipknot. Para quem não sabe, Eloy deixou o Sepultura de maneira “repentina” e não
muito tranquila, às vésperas do início dos ensaios para a turnê mundial de
despedida da banda. Não se sabe exatamente quão abrupta foi essa saída (daí as
aspas acima) mas a impressão que ficou é que não foi amigável, fato esse
reforçado por declarações do Andreas Kisser em entrevistas posteriores, isso
sem mencionar o tom amargo do comunicado oficial da banda. O que se pode
deduzir é que isso já deveria estar rolando (em sigilo) há algum tempo e sem a
banda saber e, quando finalmente houve uma resposta (ou convite), Eloy avisou
que estava de partida. Creio que, por uma ironia do destino, esse “timming” foi
o pior possível, fazendo com que parecesse que Eloy estava abandonando o
Sepultura, sem mais nem menos, num momento meio que crucial para a banda.
Analisando friamente, é aquela oportunidade de emprego dos
sonhos, que não tem hora certa para aparecer, mas quando surge, você não pode
deixar passar. E essa surpresa nem sempre te dá tempo de fechar devidamente um
ciclo para começar outro. O fato do Sepultura estar numa tour de despedida já
dava uma razão para a saída: afinal, a “empresa” atual já estava com dia e hora
marcados para fechar as portas. Além disso, o encolhimento estrutural e
artístico do Sepultura depois da Saída de Max Cavalera (lembrando que o Igor
saiu 10 anos depois) redefiniu o tamanho da banda do cenário mundial, fazendo-os
regredir a um patamar por onde a banda já havia estado, com shows e tours
menores, isso sem mencionar a relevância na cena como um todo. Já o Slipknot,
cuja história se inicia em 1995, quase que paralelamente ao fim da fase
clássica do Sepultura (1996), se transformou numa banda mundialmente
gigantesca, embalada pelo boom do New Metal na década de 90. Em termos de
relevância e tamanho, é uma banda comparável ao Metallica, lotando estádios e tendo
grande penetração no público jovem. Para se ter uma idéia, o Slipknot, tal qual
o Metallica, já deu ao luxo de ter um festival próprio: enquanto o Metallica
teve seu Orion Festival entre os anos de 2012 e 2013, e o Slipknot tem o seu
Knotfest ativo até hoje, desde 2012.
Não é a primeira vez que músicos brasileiros aproveitam
oportunidades únicas em bandas estrangeiras, e isso é algo que deve ser
celebrado. Afinal de contas, esse reconhecimento externo, mesmo com o mercado
de lá recheado de bons músicos, é a prova de que o cenário nacional é profílico
em termos de talento. Para quem não lembra, Aquiles foi convidado para teste no
Dream Theater quando da saída de Mike Portnoy. Não entrou, mas teve a
visibilidade necessária para outros convites, tanto que já tocou com Tony
MacAlpine (antes mesmo do teste no DT) e ainda é baterista há alguns anos nas
tours do W.A.S.P., do folclórico Blackie Lawless. Andreas Kisser quase foi
parar no Metallica (sim, meus amigos, isso foi foda!) quando do acidente
pirotécnico de James Hetfield na tour com o Guns n Roses na década de 90,
perdendo a vaga apenas para o Roadie do James, que já era da casa... Depois
disso, efetivamente tocou no Anthrax substituindo temporariamente Scott Ian que
precisou se afastar um tempo da banda. O caso mais recente é de Kiko no
Megadeth, que para tal acabou tomando a decisão de abandonar o Angra, onde
esteve desde sua fundação e fez história.
Um outro fator que coloco nessa equação de músicos brasileiros
no exterior, mas que pouco se releva nos debates, é a estrutura e o tamanho da
indústria do Metal nacional. Embora tenha havido uma enorme evolução do seu
início na década de 80, definitivamente ainda não conseguimos nos igualar ao
que é praticado no exterior. E isso também engloba o público e o consumo de música
como um todo: mídias (física e digital), livros, revistas, shows, merchandising
e etc., ou seja, todo o suporte que as bandas necessitam para continuarem a
existir. Infelizmente ainda nos deparamos com shows internacionais cheios e bandas
locais lutando para conseguir sair dos circuitos nos grandes centros, sem
conseguir expandir seus horizontes. Como ainda não temos uma cena forte,
qualquer oportunidade gringa acaba se mostrando uma escolha quase óbvia, exatamente
como o Eloy acaba de fazer.
quinta-feira, 18 de abril de 2024
TOP 100 - AS 100 MELHORES MÚSICAS DO METAL - PARTE 6
Napalm Death / “The World Keeps Turning” / Album “Utopia Banished” – Esta música representa de maneira perfeita a fase iniciada no álbum anterior, em que a banda se afastou do Grindcore que a lançou na cena e caiu de cabeça no Death Metal, em alta na década de 90. Com um início cadenciado maravilhoso, e depois com o aumento gradual da velocidade até um patamar estonteante, esta faixa mostra que a banda tinha muito potencial e se mostraria um dos baluartes do estilo extremo de Metal. Destaque para os vocais absurdos de Barney Greenway, na minha opinião um dos melhores vocalistas guturais no cenário mundial até hoje.
Destruction / “Total Desaster” / EP “Sentence of Death” – Faixa
de abertura do EP de estréia, que para época em que foi lançado (1984), foi
algo simplesmente avassalador. Ainda que Slayer e Metallica já fossem nomes
conhecidos, a brutalidade do Destruction surpreendeu e esta música foi o cartão
de visitas para o Thrash brutal da banda. “Total Desaster” é uma faixa rápida
do início fim, com um riff sensacional (era só o início do show que o
guitarrista Mike daria ao longo da carreira da banda...) e os vocais únicos do
baixista Schmier. É uma porrada na orelha até nos dias de hoje!
After Forever / “Monolith of Doubt” / Album “Decipher” – O
hoje extinto After Forever surgiu na leva de bandas de Metal Sinfônico + vocais
femininos/operísticos, no fim da década de 90. Apesar de haver encerrado as
atividades, a banda da belíssima (e talentosa) vocalista Floor Jansen (hoje no
Nightwish) deixou este verdadeiro hino do estilo. Com um verdadeiro show de
Floor, que transita com facilidade entre os vocais naturais e os líricos,
somada as mudanças de andamentos sensacionais, esta faixa é uma verdadeira aula
do que era esse estilo tão em voga na época.
Nuclear Assault / “The Plague” / EP “The Plague” – Apesar do
Nuclear Assault injetar com maestria no seu Thrash Metal doses do Hardcore
Novaiorquino, esta faixa distoa um pouco do seu estilo, mas de maneira
magistral. Com a parte lírica focada em guerras nucleares, “The Plague” é
cadenciada e pesada, retratando um cenário pós apocalíptico. O ritmo é bem
bacana e arrastado, com alguns momentos acústicos e um refrão muito bem
encaixado. Casamento perfeito entre a temática sombria da letra e o clima
lúgubre da música.
Quiet Riot / “Cum On Feel The Noise” / Album “Metal Health”
– Esse é um daqueles casos de “É um cover mas parece que a música é minha!”. Você
pega para fazer um cover e a sua versão fica muito melhor que o original, dando
a sensação de que a música é sua, e não da outra banda... Não que a versão
original do Slade seja ruim , mas esta aqui do QR se tornou um megaclássico,
pois ganhou peso e a pegada
característica do Heavy Metal dos anos 80: refrão maravilhoso para cantar
junto, bateria pesada, solo sensacional, impossível não gostar!
Exodus / “Black List” / Album “Tempo of the Damned” – Seria
muito óbvio colocar aqui qualquer faixa do clássico “Bonded by Blood”, mas o
Exodus tem sim material de qualidade depois desse disco, pode acreditar. Esta
faixa, presente no retorno de Zetro Souza aos vocais da banda depois de sua
saída em 1992, mostra o quão sensacional o Exodus sempre foi matador em faixas
mais cadenciadas. Aliás, talvez esta seja uma das melhores música neste estilo
dentro do Thrash Metal, com um riff matador, solos sensacionais e ainda por
cima aquele refrão no final com um coro, bem típico do Thrash Americano e que a
banda sempre souber fazer muito bem.
Saxon / “Crusader” / Album “Crusader” – Confesso que não sou
um fã e profundo conhecedor de Saxon, mas sei o suficiente para reconhecer o
valor e a importância da banda dentro do Heavy Metal mundial. Entranto, sempre
considerei “Crusader” um hino, num daqueles casos em que a faixa é épica, com
letra e o espírito da música casando perfeitamente e um refrão maravilhoso. O
clima da música é tão envolvente que você se sente numa batalha, em meio às
Cruzadas! Outro detalhe sensacional são as incursões narradas durante a
execução, que são de arrepiar!
Ramones / “Poison Heart” / Album “Mondo Bizarro” – Um erro
muito comum no meio metálico é considerar Ramones e AC/DC bandas que tocam
sempre a mesma coisa, disco após disco. Nada mais injusto, e esta faixa do
Ramones mostra a musicalidade da banda, apesar de manter o estilo clássico que
os consagrou com uma certa melodia. Impressionante como os vocais de Joey
Ramone conseguiam transitar (e agradar!) tanto nas música mais rápidas, quanto
nas mais “pop”, digamos assim. Destaque para o belíssimo refrão, muito bonito! 1,2,3,4!
Testament / “Nobody´s Fault” / Album “The New Order” – Outra
faixa na categoria “É um cover mas parece que a música é minha!”.
Impressionante o que a banda conseguiu com esta gravação do Aerosmith (sim,
bandas de Thrash nos anos 80 olhavam sim para os sons do passado!), dando a ela
um andamento um pouco mais acelerado - na medida certa - e aumentando o peso.
Os vocais de Chuck Billy casaram perfeitamente com a canção e a banda se supera
na execução. Destaque também para o vídeo clipe, muito bem humorado ao mostrar
a banda tentando tocar chegar show e executar a música.
Luca Turilli / “The Ancient Forest of Elves” / Album “King of the Nordic Twilight” – Na década de 90 houve uma explosão do Power Metal, com bandas como Rhapsody explorando ao máximo a temática “Capa e Espada” e o “sinfonismo” ao extremo no som. Luca Turilli era o comandante das 6 seis cordas no Rhapsody e mostra nesta faixa do seu primeiro album solo que também sabia se virar sozinho. Música simplesmente épica, grandiosa, com vocais e um refrão absurdos, mostra de maneira sensacional todos os elementos do estilo. Depois de algumas audições, você já se pega empunhando uma espada imaginária e cantando o refrão...
terça-feira, 2 de abril de 2024
O Fim do Sepultura
No final do ano passado todo mundo foi pego de surpresa pelo anúncio do fim do Sepultura, que seria precedido por uma turnê mundial em 2024/2025. Como já estamos em Abril e a tour já até começou, não vou revisar aqui este histórico, uma vez que todo mundo já está careca de saber os motivos alegados. Além disso, todo mundo também já soube da (turbulenta) saída do baterista Eloy Casagrande, que alegando compromisso/oportunidade inadiáveis, foi embora abruptamente antes mesmo do início dos ensaios. Os rumores - ainda não confirmados até o momento – dão como certa a ida dele para o Slipknot. A conferir.
O que gostaria de comentar aqui sobre esse assunto seria a
resposta a uma pergunta um tanto quanto cruel: o Sepultura fará falta? Antes
que me chamem de “Viúva do Max”, ressalto que uma análise realista precisa ser
feita na carreira da banda e, sim, principalmente após a saída do Max e a
entrada de Derrick Green. Não basta reclamar por reclamar, mas creio que os
fatos mostram que a banda só existiu até hoje por conta do passado glorioso,
ainda que uma geração nova de fãs tenha aderido ao som do grupo. Porém, a
verdade é que só esse repertório não sustentou a banda na estrada, ainda que
sua discografia tenha sido profílica desde os idos de 1998, quando o álbum “Against”,
primeiro da nova fase, veio ao mundo.
Confesso que por diversas vezes tentei ouvir a banda nessa
nova versão, mas infelizmente nunca consegui. Não adianta: a voz do Derrick - na
minha humilde opinião - não casa de jeito nenhum com o estilo da banda e
tampouco com o material antigo. Que a banda não quisesse um clone do Max, tudo
bem. Mas sempre achei que o fato das bandas procurarem vocalistas diferentes
(ou muito diferentes, em alguns casos) pura birra, pois isso acaba sendo um
tiro no pé, e para o Sepultura definitivamente o foi. Para citar dois exemplos
bem sucedidos, era só olhar o Accept ou para o Queensryche, que perderam vocalistas
icônicos e hoje mandam muito bem com músicos competentes e exatamente iguais aos
seus antecessores. Seja sincero: você que lê estas mal traçadas linhas, já viu
alguém por aí reclamando que o Mark Tornillo não é igual ao Udo? Ou que o Todd
La Torre não canta “Queen of the Reich” igual ao Geoff Tate?
A mudança de voz trouxe consequência negativa direta para os shows. Um vocalista com uma voz que não agrada em estúdio não vai nunca conseguir milagres ao vivo, e daí músicas novas e antigas se juntam num mesmo balaio de gatos onde tudo fica prejudicado. Além disso, a insistência do Andreas em não ter uma segunda guitarra deixa o som incompleto, embora esse não seja o maior dos problemas. A verdade é que os lançamentos em estúdio nunca me cativaram, e do material ao vivo sempre passei longe, simplesmente porque nunca enxerguei qualidade.
Passados 28 anos da saída do Max, sempre me perguntei ao
longo desse tempo se a banda sobreviveria apenas com o material novo, sem
recorrer ao antigo. Sempre achei que não, embora a banda tenha uma nova geração
de fãs, repito. Mas sempre tive a percepção de que a platéia que ia assistir a
banda sempre teve uma parcela significativa de fãs “old school”, ansiosos pelo
material do “Roots” para trás. Para ilustrar meu pensamento, achei melhor fazer
uma análise no set list da banda para essa turnê de despedida, vendo a proporção
das fases antiga e atual nele. Tomei por base o show em BH no Arena Hall, em 1º
de março desse ano, e constatei o seguinte: das 22 músicas tocadas, 13 eram da
fase antiga, com 9 da fase Derrick. Por mais fãs que a banda tenha angariado, é
impossível não revisar o passado.
O Sepultura fará falta? Na minha opinião, já faz há muito tempo (por essa você não esperava, certo?). O Sepultura é uma instituição nacional, um dos maiores nomes da cena musical do Brasil e com uma representatividade enorme no exterior, mais até do que aqui. A partir do momento em que a banda se dividiu todos perderam, músicos e fãs. O Sepultura tomou o rumo que todos conhecemos, optando por uma mudança de curso. Max, por sua vez, optou em mais do mesmo, elevando o estilo adotado no “Roots” a um flerte descarado com o New Metal. Basta relembrar que ambos tiveram discos de estréia bem desastrosos, levando um bom tempo para que ambos conseguissem se encontrar e apresentar material superior aos seus debuts. O fato do Sepultura ter diminuído de tamanho após a saída do Max e passado muito tempo fora do grande circuito, inclusive internacionalmente, foi muito prejudicial para a carreira do Sepultura. O Wacken, por exemplo, só viu a banda em 2011, 13 anos depois do debut com Derrick. Ainda que a formação com Max nunca tenha tocado lá, foi muito tempo sem uma oportunidade para uma banda tão importante como eles, ainda mais por se tratar de um festival cuja busca de novidades no cast é incessante.
Em tempo: como era de esperar, a despedida da banda já gerou expectativa de retorno dos irmãos Cavalera, o que sempre foi esperado e cogitado exaustivamente desde que cada um deles saiu da banda.
quarta-feira, 19 de julho de 2023
Cavalera: Morbid Devastation
Acabei de ouvir o “Bestial Devastation” e “Morbid Visions” regravados pelo Cavalera Conspiracy. A verdade é uma só: nada irá superar os originais.
Ponto.
Mas se vc tem em mente que se trata de uma releitura, cujo proposito não era ser igual, mas refazer usando a tecnologia de hoje, com a técnica individual atual dos irmãos Max e Iggor, você provavelmente vai concordar que o resultado ficou fantástico. É claro que aconteceram alguns (pouquíssimos) equívocos em termos de arranjos, mas, no geral, ficou sensacional.
Voltando um pouco no tempo, os irmãos Cavalera pegaram o mundo de surpresa ao anunciarem a regravação dos clássicos “Bestial Devastation” e “Morbid Visions”, lançados respectivamente em 1985 e 1986, quando o Sepultura ainda dava seus primeiros passos. Obviamente que todo mundo que gosta desses álbuns ficou curioso, inclusive pela divulgação também das capas dos álbuns, cujas artes originais foram “turbinadas”, deixando-as ainda mais ofensivas do que na época dos seus lançamentos. Não é novidade que Max e Iggor ultimamente têm revisitado o catálogo do Sepultura do período quando estavam na banda, mas a regravação desses álbuns foi além de tudo feito até então. Chega a ser curioso o fato de que o próprio Sepultura (atual) não resgata mais esse passado tão longínquo, se limitando a executar com mais frequência nos shows músicas do “Arise” para frente (creio que apenas “Troops of Doom” sobreviveu da fase antiga) numa escala bem pequena, uma vez que o catálogo da banda com Derrick nos vocais já é bem extenso.
Se por um lado o Sepultura não liga muito para esse passado, Max e Iggor o fazem com maestria. Curioso que já tínhamos uma banda nova fazendo justamente esse resgate, o The Troops of Doom, banda do ex-guitarrista Jairo Guedz, criada justamente com uma pegada desse Sepultura antigo, exatamente na fase agora coberta pelos irmãos Cavalera. Até então os olhos estavam voltados para eles, que além da clara influência, já haviam regravado algumas faixas desses mesmos discos. Não tardou para que fossem levantadas dúvidas do porquê Jairo não ter sido convidado para este “revival”, mas até então, nada foi dito em ambos os lados...
Já escrevi aqui neste blog sobre esta mania de regravar material antigo que alguns artistas têm, e que nem sempre dá certo. Nem mesmo as precárias condições de gravação disponíveis na época servem de argumento, mesmo porque alguns albuns ficaram maravilhosos não só pelas músicas em si, mas por alguns detalhes nas gravações/ mixagens/masterizações toscas que os abrilhantaram. Mexer no que deu certo, ainda que para consertar estes “erros”, não justifica alterar algo reconhecidamente clássico. Entretanto, estamos falando de Brasil-anos 80, onde simplesmente não havia estrutura, estúdios e nem profissionais especializados em Metal, ainda mais extremo. Com o Sepultura foi exatamente assim, com o Morbid Visions gravado numa mesa de 16 canais em um estúdio em SP - proporcionalmente um luxo, se comparado aos míseros 8 canais (!) do Bestial Devastation no J.G. Estudios da Cogumelo. Nossa realidade era bem diferente das bandas gringas da época que, apesar de serem “mal gravadas” em alguns casos, dispunham de recursos muitos superiores aos nossos. Pensando nisso, cheguei à conclusão de que, se não fosse mexido o espírito desses álbuns nessas regravações (clássicos do Death Metal nacional), eles ficariam sensacionais com uma produção decente.
Com o lançamento dos discos dias atrás, ficou claro que os Cavalera parecem ter entendido exatamente o que deveriam fazer com este material. Obviamente há diferenças, mas a essência da música está ali, e de maneira brutal. Iggor conseguiu uma timbragem brilhante de bateria, deixando-a muito pesada e nítida (alguém lembra do som de “latinha” que a caixa tinha na versão original?), o que de cara engrandeceu as músicas. As guitarras também estão bem timbradas e replicam os riffs de maneira brilhante, principalmente nas partes rápidas, mantendo o peso avassalador das músicas em ambos os discos. Como o baixo sempre foi algo polêmico para a banda (quem não se lembra dos rumores de que Paulo não sabia tocar e ficava nervoso em estúdio, levando sempre alguém a assumir o instrumento) e nestes álbuns em específico não existia baixo nos originais, aqui ele é presente e muito bem-vindo. Agora, o grande destaque são os vocais, ainda que fossem minha maior preocupação desde o primeiro momento. É notório que Max ao vivo nos dias de hoje já não tem a mesma fúria nos guturais, bastando uma checada no YouTube para ver que, em algumas músicas, a sua voz limpa faz-se mais presente do que deveria. Mas aqui trata-se de estúdio, onde tudo é possível, embora ainda sim eu tivesse minhas ressalvas... Entretanto Max optou em não tentar copiar os urros que conseguia dar no passado, mas adaptou seu vocal grave com um certo eco que deu um molho especial às músicas. Além disso, Max hoje fala inglês fluentemente, o que permitiu que as letras fossem declamadas corretamente, sem o atropelo da versão de 1986. Para entender o que estou dizendo, basta pegar o encarte e acompanhar no original o Max dos anos 80 com seu inglês urrado direto da macarrônia. Vale ressaltar também que diversos trechos das letras foram alterados: em alguns casos, para correção dos erros de Inglês (que eram muitos nos originais), em outros para amenizar a temática Satanista barata e sem sentido usada na época, possivelmente por soar datada hoje em dia.
Em termos da música, confesso que não esperava mudança nos arranjos, embora isso fosse inevitável. Foram feitos alguns discretos ajustes estruturais, coisas muito sutis, mas que deram um upgrade necessário para a modernização do material. É claro que aqueles acostumados aos originais podem estranhar, mas creio que o tempo resolve este ponto. Vale ressaltar que, principalmente o Morbid Visions, em alguns momentos tem um acento Thrash evidenciado, mas nada que comprometa o resultado final. Basta lembrar que Troops of Doom foi regravada pelo próprio Sepultura quando do relançamento do Schizophrenia em CD e o resultado foi uma faixa muito mais Thrash do que Death Metal. Um ponto que me causou certa estranheza foi a inclusão de narrações/vozes declamadas no meio de algumas músicas (War e Warriors of Death são exemplos), o que não surtiu o efeito esperado, creio eu. Ainda no aspecto estrutural, a melhora dos solos salta aos olhos (e ouvidos), pois esse era um problema grave do Sepultura no início de carreira: solos ruins de doer. Esse quadro só mudou com a chegada de Andreas no “Schizophrenia” , mas antes do disso, só alavanca e muito, muito barulho gratuito.
De um modo geral, o Bestial Devastation ganhou mais neste processo de regravação, uma vez que a produção original era muito ruim e a banda muito crua em termos de execução. Mas o Morbid também teve um upgrade significativo, ainda mantendo a aura sinistra do original e apresentando um álbum muito mais rico instrumentalmente. Em termos individuais, no Bestial Devastation temos a intro (“The Curse”) que foi refeita e aqui para aparece em Português, mas sem o efeito de voz original, o que pode decepcionar alguns fãs da primeira versão. Particulamente, achei que perdeu o impacto do original, mas vale apenas pela originalidade da idéia em mudar o idioma. Os destaques aqui vão para Necromancer e Warriors of Death (minha favorita desde sempre!). Ambas ficaram sensacionais !!!!! Só não me acostumei ainda com Antichrist, que tinha uma originalidade única naquela gravação tosca. Talvez com o tempo...
No Morbid Visions, como já disse antes, a regravação apenas exaltou o que já era bom e superava o EP de estréia. Entretanto, duas músicas simplesmente valem a aquisição, pois ficaram destruidoras: Crucifixion, que conseguiu ficar ainda mais tenebrosa e pesada (os sinos usados no meio da música ficaram fantásticos) e Funeral Rites, que tem sua intro numa versão ainda mais tétrica, assim como o encerramento, que também ficou avassalador. De modo geral, achei o disco equilibribado, e como já disse, com uma veia meio Thrash (discreta), inexistente à época. Empire of the Damned é onde isso fica mais evidente.
O resultado final é um lançamento que preza pelo cuidado na produção, mantendo o espírito dos originais e trazendo uma parte visual muito impactante. Ainda que o resultado certamente não vá agradar a todos, com certeza vai fazer a alegria dos fãs mais fervorosos que viveram aquela época e sentem falta da banda que o Sepultura foi, numa era que se encerrou na saída de Max e anos depois, de Iggor.
domingo, 30 de outubro de 2022
The Sick, The Dying... Megadeth!
Com o recente lançamento do novo álbum “The Sick, The Dying...
and the Dead”, o Megadeth deu um passo significativo para consolidar o que já
era de conhecimento geral, embora muitos ainda insistam em dizer que não: o
Megadeth, num contexto geral, já superou em muito o Metallica.
O novo lançamento do Megadeth é uma belíssima obra de Thrash
Metal, obviamente capitaneada por Dave Mustaine, mas muitíssimo bem amparada
por uma banda afiada que reúne hoje talentosos músicos, promissores em termos
de produtividade e também de longevidade. É notório que Mustaine sempre teve
fama de difícil, ainda mais pela alta rotatividade de músicos na banda, embora não
seja bem isso. Ainda que seja bem óbvio o fato de quem manda na banda é ele, quem
conhece a história do grupo sabe que apesar da fase da bebida e drogas,
Mustaine pouco a pouco profissionalizou a banda, culminando no clássico “Rust
in Peace” (1990) e colocando o Megadeth definitivamente entre os grandes nomes
do Thrash mundial. Depois de um período de bonança, a partir de 1997 ocorreram novas
trocas de músicos, problemas de saúde Mustaine e até um fim temporário da banda.
Mas não foi o fim e o
Megadeth seguiu forte, com Dave Mustaine tendo hoje um surpreendente ex-Angra
nas outras seis cordas – Kiko Loureiro – numa inusitada parceria que já havia
rendido excelentes frutos no álbum anterior (“Dystopia”, 2017) e que agora
simplesmente elevou a banda a um novo patamar. Na bateria, Dirk Verbeuren, que
ocupou o lugar do temporário Chris Adler (que gravou “Dystopia”), e no baixo,
com a derrocada e a demissão de Dave Ellefson, tivemos o retorno de James LoMenzo,
que já havia tocado na banda anteriormente. Entretanto, após a demissão de
Ellefson, as linhas de baixo no novo álbum, que já estavam finalizadas, foram integralmente
refeitas pelo “monstro” Steve Di Giorgio, atual Testament.
O curioso, na minha opinião, é que mesmo com toda a sorte de contratempos, Mustaine sempre manteve a banda em atividade e produzindo música com uma incrível regularidade de álbuns e de – o mais importante – qualidade. De 1985 até hoje, MegaDave lançou 16 albuns de estúdio, enquanto o Metallica, de 1983 até então, lançou apenas 10 discos, sendo o último em 2016, ou seja, quase 6 anos atrás. Mas como quantidade não é sinônimo de qualidade, precisamos entender melhor o que faz do Megadeth superior, pelo menos na humilde opinião deste que vos escreve.
É óbvio que o trunfo do gigantismo do Metallica se baseia em
dois pilares: a excepcional trinca de álbuns com que iniciou sua carreira: “Kill
Em’ All” (1983), “Ride the Lightning” (1985) e “Master of Puppets” (1986), que
ajudaram a sedimentar a base do Thrash Mundial; e a “catapultada” ao estrelato
com o megaplatinado “Black Album” (1991), que jogou a banda para fora da bolha
do Thrash Metal, tornando-a popular no mundo todo. Essa combinação de fatores
(mérito da banda, é preciso admitir) transformou o Metallica numa espécie de U2
do Heavy Metal, colocando-os num patamar onde não tem de provar mais nada para
ninguém, podendo fazer o quiser da vida em termos musicais. Mas as coisas não
são assim tão simples, pois essa liberdade não se mostrou tão benéfica assim
para a banda: toda a produção da banda pós Black Album (“Metallica”, na
verdade), não teve a mesma qualidade do passado glorioso, quase sempre
acompanhada de alguma polêmica e, claro, críticas.
Foi assim com os dois irmãos “Load” (1996) e Reload” (1997),
onde a banda chutou o balde no visual e no som (calcado no Rock n Roll e bem
distante do Thrash de outrora), numa combinação que divide opiniões até hoje.
Para quem conhece a história, estes 2 seriam um álbum duplo, o que só não
ocorreu por recusa da gravadora. Mesmo assim, soariam melhor como um único
disco, já que existe muito material não tão bom assim em ambos. Na sequência,
temos um álbum que tem uma rejeição unânime: “St. Anger” (2003) é não só o pior
álbum da banda, mas também uma das maiores porcarias já lançadas dentro da
música pesada. Músicas ruins, produção ruim, clima na banda idem. Passados 5
anos, chega “Death Magnetic” (2008), que se por um lado trás a banda de volta
ao som pesado, por outro lado apresenta músicas longas em demasia e com uma
produção saturada, tornando a audição do disco muito incômoda. Oito longos anos
se passam e “Hardwire to Self Destruct” (2016) chega no formato duplo, tendo o
mesmo problema dos irmãos “Load”, onde um único disco seria mais bem vindo,
dando razão àquela máxima “menos é mais”.
É óbvio que o Megadeth também tem seus esqueletos no armário dentro de sua discografia. Pelo menos 3 discos representaram “escorregadas” na carreira da banda: “Cryptic Writings” (1997), “Risk” (1999) e “Super Collider” (2013) foram acidentes de percurso, com a banda – leia-se Dave Mustaine - tomando decisões equivocadas em termos musicais, e que obviamente representaram fracasso de crítica. De todos, esquecível mesmo é “Risk”, que representou uma tentativa frustrada de tornar a banda mais popular (sempre isso...). “Crush ‘Em”, 3ª faixa desse disco, é uma das maiores bobagens já escritas pela banda e comprova o espírito pouco inspirado desse álbum.
Daí a Matemática entra em ação: tirando 3 de 16, sobram 13
álbuns onde Mustaine ou manteve a média, ou então gerou clássicos. Sim, clássicos!
O Megadeth, assim como o Metallica, também gerou uma trinca celestial: “Peace
Sells... But Who´s Buying” (1986), “Rust in Peace” (1990) e “Countdown to
Extinction” (1992) também sacudiram as estruturas da cena pesada quando dos
seus lançamentos. Diferentemente do Metallica, que tem seus clássicos em sequência,
no início da carreira e calcados na fase Thrash da banda, o Megadeth o fez mais
para a frente e mostrando um amadurecimento e variedade maiores, principalmente
em “Countdown to Extinction”, já não tão veloz quanto seus antecessores. É como
se “Peace...” mostrasse a banda furiosa e crua, “Rust...” a fúria junta de uma
técnica impressionante e “Countdown...” evoluísse tudo isso com melodia.
Ainda na Matemática, se de 13 tirarmos 3, temos 10 albuns
cuja média é suficiente para manter a banda como uma das mais eficazes na cena,
mesmo decorridos 37 anos de carreira. Alguns discos, mesmo não sendo clássicos,
ostentam o status de excelentes: “So Far... So Good... So What!” (1988), na
minha opinião, foi o álbum que consolidou Dave Mustaine como um dos
guitarristas mais criativos da geração Bay Area, posando ao lado de James
Hetfield, Scott Ian, Alex Skolnic e Gary Holt. O disco é uma saraivada de riffs
maravilhosos, que ficaram ainda melhores nas versões remasterizadas desse
disco. Outro disco digno de nota é “Youthanasia” (1994), que na minha opinião
foi uma evolução natural do anterior (“Countdown...”) embora um pouco diferente
em termos de brilho, mas mesmo assim um disco maravilhoso, com composições
inspiradas e uma das melhores capas da banda. “The World Needs a Hero” (2001) é
um ótimo disco, embora eu ache que ele seja subestimado na discografia da
banda. “United Abominations” (2007), “Endgame” (2009) e “TH1RT3EN” (2011) se equivalem
em termos de qualidade, sendo ótimos discos.
Fechando a conta, com a chegada de “The Sick, The Dying and
the Dead”, fica clara a qualidade do catálogo da banda e possibilidade de não
depender exclusivamente dos clássicos nos shows. O disco novo é furioso,
técnico, pesado e em alguns momentos muito rápido, sendo uma grande promessa ao
vivo. Ou seja, a banda ainda aposta num som vigoroso que o Metallica não quer
(ou não consegue mais fazer), o que fica evidente numa comparação com “Hardwire
to Self Destruct”, disco que tenta trazer a vibe “Kill ‘Em All” em alguns momentos,
mas sem muito sucesso. Entretanto, o tamanho que o Metallica atingiu hoje é
algo difícil de competir: a prova disso, num exemplo recente, é a penetração
que a banda conseguiu em um público mais amplo e completamente fora do Metal,
com a (re)descoberta da música (“Master of Puppets”) num seriado da Netflix.
Uma coisa que sempre tive em mente é o seguinte: Dave
Mustaine não saiu (ou foi “saído”) do Metallica por causa de drogas e bebida. Ele
saiu porque era um gênio, e a banda já tinha dois nela. Ainda que a história
mostre que o problema era mesmo entre ele e Lars Ulrich (que tinha ciúmes da
amizade dele com James), se ele não tivesse sido chutado antes do “Kill ‘Em
All” ver a luz do dia, inevitavelmente ele o seria mais para frente, isso se
não percebesse por si só que não teria espaço suficiente na banda e saísse por
vontade própria. Me pergunto como teriam sido as coisas se Dave passasse apenas
mais alguns anos a mais no Metallica. No fim das contas, para nossa felicidade,
ainda no banco daquele ônibus após ser expulso, ele teve a visão e descobriu o
nome da banda que ia chutar o traseiro do Metallica: MEGADETH!
PS.: Se você, caro leitor dessas mal traçadas linhas, achar
que isso tudo é bobagem, delírio de um fã idiota e cego, sugiro um exercício:
coloque a faixa “Wake Up Dead” do “Peace Sells...”, feche os olhos e ouça o
solo feito aos 2min46seg.
Quem fez aquilo não estava para brincadeira.
sexta-feira, 19 de agosto de 2022
10 Discos Pós "Debut"
Muito se fala na importância de álbuns de estréia, principalmente quando estes se tornam clássicos. Muitas bandas até conseguiram (e ainda conseguem) que os álbuns seguintes também sejam adorados, mas muito me incomoda que pouco se fala, especificamente, daqueles álbuns que sucederam os discos de estréia, mesmo sendo igualmente ou ainda mais brilhantes. Para reparar esta falha imperdoável dentro da literatura metálica mundial, listo aqui 10 “segundos” álbuns tão ou mais devastadores que seus antecessores. Considerarei apenas os álbuns completos, sem contar eventuais lançamentos de EP´s entre eles. Além disso, não há ordem de importância ou ranking, apenas 10 discos obrigatórios para você ouvir – conhecendo ou não – assim que terminar de ler estas linhas!
1º) “Hell Awaits” – Slayer
Chega a ser assombrosa a diferença que “Hell Awaits” consegue
estampar se comparado com “Show No Mercy”. Este assombro só não é maior porque
a banda havia dado um aperitivo do que viria no EP “Haunting the Chapel”,
lançado entre os dois. Mesmo assim, é impressionante o nível de brutalidade,
velocidade e técnica que a banda conseguiu imprimir neste disco. O massacre
começa com aquela que é uma das introduções mais fudidas já feitas dentro do
Heavy Metal (faixa título) e segue sem piedade ao longo de músicas matadoras
como “Kill Again”, “Praise of Death” e “Necrophiliac”. Simplesmente essencial
em qualquer discografia que se preze.
2º) “Pleasure To Kill” – Kreator
Outro que impressiona pela evolução, principalmente porque o
debut “Endless Pain” já era impressionantemente brutal e, de certo modo,
inovador. Pena que aqui se encerrou a divisão igualitária de vocais entre Mille
e Ventor, que justiça seja feita, foi feita de maneira soberba de novo. As
faixas que cada um pegou para cantar são perfeitas: particularmente sempre
curti muito mais os vocais do Ventor, mais brutais e intensos. Mas todas as
faixas são perfeitas, com meus destaques para “Death is Your Savior”
(maravilhosa), “Riot of Violence” e “The Pestilence”. Se não tem, compre agora!
3º) “Eternal Devastation” – Destruction
O Destruction iniciou sua discografia com um EP (“Sentence
of Death”), que não levarei em consideração, embora a evolução da banda para o
seu debut “Infernal Overkill” seja igualmente impressionante. Entretanto,
“Eternal Devastation” elevou a banda a outro patamar, com músicas icônicas
dentro do Thrash Metal mundial. Não bastasse isso, a produção do álbum – embora
não seja um primor, fruto das condições da época – foi ímpar e conseguiu
imprimir uma atmosfera única ao disco, grande parte ao timbre de guitarra matador
de Mike. Basta ouvir a sensacional “Curse the Gods” para entender o que quero
dizer. Depois que entender, ouça o restante!
Na minha opinião este álbum tem peso dobrado nesta
avaliação, não só pela diferença frente ao estreante “Kill Em` All”, mas também
pelo fato (na minha humilde opinião) de que este não é essa maravilha
insuperável e imbatível que muitos dizem... Para mim, foi “Ride The Lightning” que mostrou ao
mundo que o Metallica era sim uma banda diferenciada, mesmo com um belíssimo
disco de Thrash Metal, superior em todos os sentidos ao primeiro. O que não
dizer de “Fight Fire With Fire”, com sua velocidade estonteante? Ou “Ride the
Lightning”, com sua cadência rítmica matadora? Isso sem mencionar “Fade to
Black” e “Creeping Death”, fechando a questão. Essencial demais na coleção.
5º) “The Force” – Onslaught
Este é um dos casos de mudança da água para o vinho, mesmo
porque alterações bem vindas na formação ajudaram esta transformação. A entrada do vocalista
Sy Keeler e algumas trocas de instrumentos na formação que gravou o debut “Power from
Hell” permitiram que um time coeso desse a luz a um álbum destruidor e mais
técnico que o disco de estréia. As faixas ficaram mais longas, mais rápidas e
são simplesmente maravilhosas. “Let
There be Death” (introdução antológica!), “Fight with The Beast” e “Metal
Forces” não me deixam mentir!
Nesta lista este é o disco mais injustiçado de todos, não
recebendo a atenção e o valor que merece até hoje. Lançado em 1987, em meio
aquela safra maravilhosa do Thrash Metal mundial, acabou passando batido, mesmo sendo um
discos mais espetaculares do estilo. Embora seja uma evolução do seu antecessor
(“Riders of Doom”), a banda conseguiu uma produção melhor e músicas matadoras,
baseadas numa banda coesa e talentosa. Destaque para o peso da bateria na
gravação, o que simplesmente deixou as músicas ainda mais marcantes. Dúvida
disso? Ouça “Pledge to Die”, “Dragon`s Blood” (que música!) ou “Beyond the
Light”. Para quem curte Thrash Metal porrada, mas muitíssimo bem tocado. Imperdível!
Outro que sofreu efeito (benéfico) de mudanças na formação e se transformou. Joey Belladonna estréia na banda num disco muito superior ao primeirão “Fistfull of Metal”, que tem músicas boas – alguns classícos até – mas que se assemelha ao “Kill Em` All” do Metallica em termos de crueza. Além dos vocais de Belladonna muito bem encaixados no som da banda, a maior variação das músicas se mostrou essencial para o sucesso desse álbum, apesar de carta diminuição da velocidade. Mesmo assim, sons como “A.I.R.”, “Madhouse”, “The Enemy” são fantásticos, embora ainda haja pedreiras como “Gung Ho” para quem curte velocidade.
8º) “Symphonies of Sickness” – Carcass
O tenebroso Carcass não se contentou em assombrar o mundo
com o seu debut “Reek of Putrefaction”, com o segundo ato na forma deste “Symphonies
of Sickness”. Como o primeiro se baseava numa produção (?) extremamente tosca
que deixou quase tudo inaudível, o segundo álbum ganhou uma produção melhor,
possibilitando à banda mostrar sua proposta, ainda que ela continuasse tosca e
totalmente gore nas letras e na parte gráfica. Mas ficou claro que os músicos,
mesmo em meio aquele caos “Splatter Gore”, eram talentosos e conseguiram um
disco muito mais consistente. Faixas como “Reek of Putrefaction”, "Exhume to Consume" e
"Excoriating Abdominal Emanation", além dos belíssimos títulos (me
perdoem, mas não deu para evitar) mostraram uma banda afiadíssima, com uma
performance um degrau acima do debut.
9º) “Leprosy” – Death
O Death é um caso curioso, pois o debut “Scream Bloody Gore”
foi tão impactante e tão influente na cena Death Metal mundial que era impossível
imaginar como a banda viria no álbum seguinte. A expectativa era a das
melhores, mas como garantir que a banda iria se superar? Que dirá lançar outro clássico
absoluto, e mais, que continuaria ditando as regras do estilo. Como o Death na
realidade era a mente brilhante de Chuck Schuldiner (R.I.P.), a nova formação
não foi o fator determinante para o assombro que foi “Leprosy”, embora não
possamos desconsiderar os talentos individuais. “Leprosy” foi muito além do
debut, com todas as suas 8 faixas simplesmente se tornando hinos clássicos do
Death Metal. Mandatório em qualquer coleção.
10º) “Darkness Descends” – Dark Angel
segunda-feira, 15 de novembro de 2021
Fukin Metal Tracks: Necrophagist "Culinary Hyperversity"
Band: Necrophagist
Song: “Culinary Hyperversity”
Album: “Onset of Putrefaction”
Year: 1999
domingo, 22 de novembro de 2020
quarta-feira, 18 de novembro de 2020
Isso Não é Direito
Modéstia à parte, acredito que dons premonitórios me permitiram escrever dois textos (estes aqui de Agosto/2018 e Abril/2019 - clique nos links para lê-los) que, juntos desse aqui, formarão a trilogia que poderei tranquilamente chamar de “Eu Já Sabia Que Isso Ia Dar Merda”. Quem já leu essas postagens já sabe minha opinião e que fatalmente falarei aqui da confusão arrumada por Edu Falaschi e sua carreira “solo”, que neste ano culminou com o lançamento do DVD/Blu-Ray “Temple of Shadows In Concert”, gravado em Abril de 2019 no Tom Brasil, em SP. Caso você ainda não saiba, este é o resultado de uma tour onde Falaschi reproduz o clássico “Temple of Shadows” do Angra na íntegra e com o apoio de uma orquestra. Consumada a tour e o registro ao vivo, foi instaurada uma verdadeira celeuma legal em torno desse lançamento, uma vez que ele já foi saiu no Japão, mas não por aqui no Brasil. O motivo disso seria Rafael Bittencourt, guitarrista e líder do Angra, que teria “barrado” o lançamento por conta de uma série de questões envolvendo direitos autorias que foram infrigidos nesse lançamento. Na esteira disso, em meio a versões diferentes e conflitantes de ambos os lados, um monte de sujeira foi retirada de debaixo do tapete e devidamente jogada no ventilador.
Antes de tudo, um pequeno resumo: Depois de sua saída do Angra, Edu investiu no Almah, sua banda solo. Depois de 5 (bons) albuns lançados sem a mesma repercussão dos tempos do Angra, teve uma inspiração divina por intermédio de Joe Lynn Turner , que o aconselhou a cantar as musicas de sua ex-banda sob a chancela de uma nova carreira, desta vez como cantor solo. Com a boa repercussão de resgatar músicas já consagradas, a coisa foi crescendo e culminando com o referido DVD. Mas no meio do caminho tinha uma pedra... que se chamava direito autoral.
Para entender a dimensão do problema, basta uma olhada detalhada sobre os créditos do “Temple of Shadows”, 5º disco do Angra, lançado em setembro de 2004. Logo de cara, todas as letras são de autoria exclusiva do Rafael Bittencourt, com a maior parte das músicas compostas pela dobradinha Rafael/Kiko. Em termos de participação, Edu compôs apenas uma música sozinho – mas com letra do Rafael, conforme dito acima – e participou da composição de outra três faixa em conjunto com Rafael e/ou Kiko.
Nº |
Título |
Música |
Duração |
|
1. |
"Deus Le Volt!" |
|
0:52 |
|
2. |
"Spread Your Fire" |
Edu Falaschi, Kiko Loureiro |
4:25 |
|
3. |
"Angels and Demons" |
Edu Falaschi, Kiko Loureiro |
4:10 |
|
4. |
"Waiting Silence" |
Rafael Bittencourt, Kiko Loureiro |
4:55 |
|
5. |
Edu Falaschi |
3:59 |
||
6. |
"The Temple of Hate" |
Kiko Loureiro |
5:13 |
|
7. |
"The Shadow Hunter" |
Rafael Bittencourt, Kiko Loureiro |
8:04 |
|
8. |
"No Pain for the Dead" |
Kiko Loureiro, Rafael Bittencourt |
5:05 |
|
9. |
"Winds of Destination" |
Rafael Bittencourt, Kiko Loureiro |
6:56 |
|
10. |
"Sprouts of Time" |
Kiko Loureiro |
5:09 |
|
11. |
"Morning Star" |
Rafael Bittencourt, Kiko Loureiro |
7:39 |
|
12. |
"Late Redemption" |
Rafael Bittencourt , Kiko Loureiro |
4:55 |
|
13. |
"Gate XIII" |
Kiko Loureiro, Rafael Bittencourt, Edu Falaschi |
5:03 |
|
Duração total: |
66:60 |
Fonte: Wikipédia
Não é necessário ser nenhum expert para perceber que cerca de 90% do disco foi composto pelo Kiko e pelo Rafael, e que o uso desse material não seria na base de “tocar e gravar”. Apesar das versões divergentes, ao parece Edu Falaschi errou no registro das músicas e consequentemente na distribuição de direitos, além de haver deixado Rafael – aí em termos de amizade – de fora do processo todo, não o havendo convidado para assistir ao show que gerou o DVD e pior, sequer enviou o material pronto para que ele pudesse ver o resultado final. Fica a dúvida se houve ingenuidade ou má fé de Falaschi, ou se Rafael está puramente sendo ranzinza frente ao sucesso da empreitada. Independentemente de quem está certo, mesmo porque isso é coisa muito específica para os envolvidos e advogados resolverem, o circo está armado e pelo visto este relacionamento entre ex-companheiros de banda azedou de vez. Mas, retornando à chamada vaca fria, fica claro o equívoco de Edu Falaschi em classificar como solo uma carreira onde ele canta música dos outros, ainda que com alguma (ou pouca) participação sua. Apenas reforçar este conceito, em “Rebirth”, sua estréia na banda em 2001, também existe o mesmo grau de composições do Edu frente ao material total, se comparado ao TOS.
E o mais estranho de tudo isso é Falaschi está no estúdio gravando seu novo álbum solo! Ou seja: voltará ao ponto onde gravará músicas inéditas, tal qual fazia com o Almah. Logicamente, existe a chance de que o material, independentemente da qualidade, tenha a mesma repercussão que havia na época do Almah e que, segundo o próprio, já havia atingido um teto. Fica a questão se teremos aí uma cópia do Angra, na mais pura essência, pois seria o que justificaria a tal “carreira solo”, que seria tão diferente do Almah e muito mais bem sucedida. A única coisa certa é que depois dessa dor de cabeça toda, Falaschi não chegará nem perto dos demais álbuns do Angra em que tocou (“Aurora Consurgens” de 2006 e “Aqua” de 2010) que não são emblemáticos quantos os dois primeiros em que participou: não valeriam o risco...
Para quem tiver curiosidade, seguem os links de duas entrevistas esclarecedoras: uma do Rafael e outra do Edu, cada qual contando sua versão para o imbróglio: