sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Metallica e Mais do Mesmo 2013


Um dia após o show do Metallica no Rock in Rio 2013, estava eu ao telefone com um amigo, que me contava que havia ficado até as 3 da matina vendo o show da banda. Obviamente ele ficou encantado, me dizendo que o show da véspera havia superado em muito o show de 2011. Eu, por minha vez, contava que até esperei a banda entrar, mas antes da 1ª primeira música terminar, eu já havia desligado a TV e ido dormir. É claro que gravei o show e vou assisti-lo assim que possível, mas esta diferença de prioridades entre eu e meu amigo deixa claro que a banda, atualmente, já não é mais relevante para mim, com outros grupos antigos e até mesmo alguns novos que me encantam muito mais.


Não estou querendo dizer que o Metallica seja ruim ou não tenha o seu valor, muito pelo contrário, ouvir os seus cinco primeiros álbuns são um verdadeiro prazer para qualquer um que ama música pesada. Vale ressaltar que, clássicos mesmo, apenas e tão somente os 3 primeiros (“Kill ‘Em All”, “Ride the Lightning” e “Master of Puppets”) com os 2 seguintes (“... and Justice for All” e “Metallica”) sendo excelentes, mas num patamar inferior aos seus  antecessores. Tudo o que veio depois deles só mostrou a banda numa inconsistência qualitativa, onde surgiram albuns menos inspirados e alguns polêmicos até. A dupla “Load” e “Reload” até hoje divide opiniões, ao passo que “St. Anger” é quase uma unanimidade como pior disco de toda a carreira (creio que até na própria banda, que não executa nada desse disco ao vivo). O que acontece é que, comercialmente, a banda explodiu com “Metallica” e de lá para cá atingiu outros públicos, chegando ao tão sonhado “mainstream”. Nessa crescente de sucesso, dinheiro e fama, o Metallica atingiu o status de megabanda, aquela que pode fazer o que quiser da vida, em um auge artístico semelhante ao do U2, para citar um exemplo.


E é por conta dessa trajetória de sucesso – merecido, diga-se de passagem – que hoje já não me empolgo pelo que a banda faz atualmente. Com todo o sucesso veio uma acomodação quase que óbvia, com toda aquela fúria inspirada e empolgante do início dando lugar a discos e shows burocráticos. É claro que nenhum disco novo será passível de comparação com os do início de carreira, afinal, nunca mais a banda lançará um “Master of Puppets” novamente, isso é certo. “Death Magnetic” é um bom disco, mas nada mais que isso, e o próximo provavelmente também o será: entretanto, minha esperança era de que os shows continuassem empolgantes, mas isso não acontece. O show de ontem do RIR reforçou a minha percepção de que o Metallica hoje é como um Chef que tem os melhores ingredientes a sua disposição, mas não sabe mais como fazer um prato saboroso.


Individualmente, apenas James Hetfield consegue manter o espírito do passado vivo em termos de postura, embora sua performance (vocal) nas músicas antigas não seja mais a mesma. Melhor dizendo, trata-se de uma performance sem aquilo que chamamos de “sangue nos olhos”. Como músico, James continua um dos maiores guitarristas base do universo Thrash, com uma mão direita absurdamente rápida e precisa. Seu único problema é a mudança das linhas vocais no material antigo, mexendo no que é intocável. É claro que o tempo passou e o cara envelheceu, sendo impossível manter o mesmo timbre de adolescente; mas mesmo assim, não é difícil tentar manter-se fiel a agressividade natuarl que aquele matéria contém.

Quanto a Kirk Hammet, este continua sendo o zero a esquerda que sempre foi na banda, limitando-se a ser o excelente guitarrista que é. Para quem tem dúvidas, isso fica explícito no documentário “Some Kind of a Monster” onde o guitarrista simplesmente não tem voz nenhuma dentro da banda, sendo Hetfield e Lars Ulrich os donos da bola. Ao vivo, continua competente como sempre foi, e agora que abandonou o visual andrógino da época dos “Loads”, a coisa melhorou ainda mais.

Deste modo, o problema do Metallica, ao vivo, está na cozinha da banda, ocupada por Robert Trujillo e Lars Ulrich. No baixo, uma coisa é certa: Jason Newsted faz uma falta dos diabos, seja na pegada, seja nos back vocals sensacionais que fazia e que ajudavam muito nas músicas (alguém falou aí “Creeping Death”???). Robert Trujillo é um excelente baixista, só me parece ser técnico demais e muito cheio de firulas em cima do palco, destoando da banda. Jason, além da postura agressiva e perfeita ao completar a linha de frente da banda, tinha um estilo mais ligado a Clff Burton do que Trujillo, e isso era um baita diferencial. Agora, sejamos francos, você ir assistir ao show do METALLICA e ter de ver o baixista de Maria Chiquinha é um pouco demais, não? Atitude, minha gente...

Agora, o calcanhar de Aquiles da banda chama-se, sem dúvida nenhuma, Lars Ulrich. Embora seja o criador do Metallica (lembrem-se de que foi ele que pôs o anúncio num jornal e que o colocou em contato com Hetfield, dando início a tudo) e responsável pelo gigante que a banda é hoje, Lars é um caso raro de músico que retrocedeu: se você observar sua performance nas baquetas do início até os dias de hoje, vai encontrar um músico que ficou preguiçoso e que não executa suas próprias músicas da maneira como as gravou. Isso mencionar que o material mais rápido, principalmente com pedais duplos, são reproduzidos hoje em dia com dificuldade, com as músicas estratégicamente intercaladas no set list, de modo haja um tema mais lento entre elas. E aí, minha gente, idade não é desculpa: Dave Lombrado (ex-Slayer) tem mais ou menos a mesma idade de Lars e ainda hoje em dia continua um monstro tocando.

Somado a todos esses argumentos, teve mais um detalhe me incomodou muito: o show do RIR 2011 compreendeu a turnê do “Death Magnetic”, lançado 3 anos antes (!). Naquela época, a banda já me parecia no piloto automático e não me encantou muito. Passados 2 anos daquele show e 5 anos do lançamento do disco, a banda dá continuidade a mesma turnê com um show exatamente igual, excetuando-se eventuais alterações nos set lists executados. Em termos de show, o que vimos em 2011 é a mesmíssima coisa que vimos ontem, onde até o palco acabou ficando parecido. Este o tipo de coisa que com certeza não veremos com o Iron Maiden, que mesmo tendo se tornado uma banda assídua no Brasil, varia bem o show que faz por aqui, tanto em palco, quanto em músicas (ainda que algumas NUNCA saiam dos seus set lists).

Quero deixar claro meu respeito por quem gosta da banda e ainda a acha relevante. O importante é que os caras continuem fazendo Metal de qualidade, mesmo com os contras que relacionei acima. Entretanto, acho importante elencar algo que muitas das vezes o fã cego não quer enxergar, simplesmente por conta da devoção exagerada que tem a um determinado artista. E aí, também temos de citar a mídia, que com a mesma facilidade que destrói carreiras, também cria mitos, lendas, transformando meros mortais em deuses, merecedores ou não. Isso tem uma influência muito forte na cabeça da molecada e impede que ela pense diferente pelo simples fato de que estaria remando contra a maré do gosto geral. Já imaginou você ter coragem de dizer que “Through the Never”, o novo filme/documentário em 3D do Metallica, que custou a bagatela de $ 80 milhões é uma porcaria?



Jeff Hanneman, Slayer e ... Futuro?


Mesmo com o Slayer chegando ao Rock in Rio e passados pouco mais de quatro meses, ainda é difícil de acreditar: Jeff Hanneman morreu. Uma das cabeças mais criativas de uma das bandas mais espetaculares do planeta se foi, sem mínima chance de que alguém o substitua a altura. Obviamente, colocar outro guitarrista ao lado de Kerry King pode ser feito, ou melhor, já o foi, na figura do lendário Gary Holt. Pode ele tocar o que Jeff tocava? Claro que sim, pois além de sensacional guitarrista, tem o mesmo background e, como se isso não bastasse, mantém na ativa outro nome essencial do Thrash americano, o Exodus. O problema é que ninguém conseguirá compor o que Jeff compunha: Holt é a cabeça pensante do Exodus, que tem o mesmo estilo, mas não é igual ao Slayer. O gênio musical que Jeff era em parceria com King ou então sozinho não se repetirá, ou alguém ainda acha que existe outra mente brilhante no cenário para nos dar uma nova Angel of Death?


O mais curioso é que achamos que nossos ídolos são “Highlanders”, imortais, de existência eterna tal qual o filme. Quando acontece, é um choque maior do que o normal, pois mexe com uma realidade que o fã julga imutável. Passei algo semelhante em minha vida somente com a morte de Chuck Schuldiner, do saudoso Death. E olha que a doença dele já era de conhecimento geral,  mas isso não impediu o baque de perder um grande músico, e mais, uma banda sensacional, já que sem Chuck o Death simplesmente não poderia existir. Jeff, por sua vez, apesar do problema da picada da aranha e da necrose no braço, vinha se recuperando e a qualquer momento poderia voltar à banda, já que era (e ainda é) claro que Gary Holt era um músico contratado. Além disso, Gary sempre afirmou, desde que entrou na banda para segurar as seis cordas enquanto Jeff não voltava, que sua prioridade era o Exodus e que não o trocaria pelo Slayer. Mas voltando ao paralelo com Chuck e o Death, pode o Slayer existir sem Jeff Hanneman?

Esta resposta não parece ser um dilema para a banda, que manteve Gary Holt no posto e continua em turnê promovendo o já não tão recente  “World Painted Blood”, último álbum a contar com Jeff. Bem antes de sua morte, a banda já estava compondo um novo disco, com King assumindo sozinho as composições, uma vez que não se sabia se Jeff retornaria a tempo e se traria material pronto (em declarações recentes, King afirmou que Jeff se isolou após o acidente e que era difícil ter alguma noção do seu real estado). Ainda não há noticiais sobre este disco novo, mas a banda continua em frente, mesmo somando-se a baixa ocorrida antes da morte de Jeff, a do baterista Dave Lombardo, demitido por King face divergências contratuais (leia-se “dinheiro”). Para o lugar de Lombardo chegou-se em definitivo ao nome de Paul Bostaph, que já havia substituído Dave no passado e ficou na banda durante 10 anos. Com o time reformulado, os remanescentes King e (Tom) Araya, vão manter o Slayer na ativa.

Particularmente, tenho uma opinião curiosa: acho o Slayer uma banda tão espetacular, tão sensacional, que deveria parar no auge. Não no passado, onde a banda teve anos áureos nos anos 80, se tornando grande não só nos EUA, mas no mundo todo. O lançamento de “Reign in Blood” foi o primeiro ápice, e quando falo em auge quero dizer nos dias de hoje, onde a banda, depois de atravessar todos os percalços da indústria musical sem fazer concessões, integra e bem sucedida na sua proposta. E este auge chegou novamente com “World Painted Blood”, com o caminho que foi tão bem pavimentado pelo seu antecessor, “Christ Illusion”. Para uma banda que meio que se perdeu (não ficou ruim, de forma alguma, somente se tornou mediana) nos dois álbuns anteriores a esses (“Diabolus in Musica” e “God Hates Us All”, extremamente influenciados pelo metal moderno americano), o retorno grandioso com “Christ Illusion” foi arrebatador, mesmo porque estamos falando de uma banda com 30 anos de estrada e que ainda detona e cima do palco como em início de carreira! A sequência com “World Painted Blood” selou de vez este bom momento da banda, uma vez que a idade chega e começa a pesar para um estilo de música tão extremo. Deste modo, entre começar a fazer álbuns meia boca – pare para pensar e tente encontrar um álbum ruim do Slayer nos moldes do “St. Anger” do  “maravilhoso” Metallica – e encerrar a carreira em grande estilo, sou da segunda opção. Isto se tornou mais plausível depois da saída de Dave e agora ainda mais com a perda de Jeff. Falo sério quando digo que não gostaria de um novo álbum, ainda mais sem a mão de Jeff nele, mesmo que Kerry King seja a outra metade das composições clássicas da banda. E sem Lombardo nas baquetas para dar vida a essas criações com suas viradas alucinantes, a coisa fica muito pior. Mesmo que os músicos substitutos sejam maravilhosos, o que vemos no palco hoje não representa o Slayer que mudou a minha juventude e a de muita gente também. Aquela  banda que me assombrou em 1985, quando ouvi pela primeira vez o “Hell Awaits”, hoje só pode ser vista junta lá, na contra capa daquele e de outros clássicos que se seguiram.