quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Resenha: "Nightmare Theatre" Exorcist (CLASSIC ALBUM)

 


Se você é um saudosista do metal da década de 80, com certeza conhece este disco. Mas se não conhece, fica intimado a fazê-lo assim que terminar este texto, pois este disco é uma pérola, tendo sido lançado em 1986. Este é um daqueles casos únicos – literalmente, pois não passou desse álbum – que surgem em circunstâncias atípicas e acabam conseguindo ser tornar tão especiais. O álbum “Nightmare Theatre” do Exorcist se tornou um disco cult, não só pelas músicas, mas também pela temática de terror que permeia todo o álbum, passando pela capa repugnante e chegando na banda que, na verdade, nunca existiu.

O Exorcist tem uma história meio obtusa, e eu particularmente conheço duas versões diferentes para sua existência. De concreto mesmo, temos apenas o fato de que a banda não passou de um projeto de estúdio, sem nunca ter feito um show sequer. Criado por David Defeis, líder da banda norte americana Virgin Steele, que executa um Heavy Metal tradicional de muita classe, exatamente o oposto da “podreira” do Exorcist, que ia na linha Speed/Thrash/Black. Uma versão diz que a banda Virgin Steele teve de interromper suas atividades em 1985 por conta da saída do guitarrista Jack Starr, que foi a justiça brigar pelo nome da banda. Enquanto o problema não era resolvido, David Defeis e o guitarrista Edward Pursino juntaram forças com outros músicos para a empreitada, embora o baixo tenha sido gravado por 3 pessoas distintas, Defeis incluído. Outra versão, do próprio Defeis, quando finalmente resolveu abrir o jogo sobre o Exorcist, era de que o álbum era uma dívida para com a gravadora e que por isso ele foi feito, com o mesmo se aplicando ao também lendário Piledriver (que foi mais longevo, tendo um segundo álbum). Independentemente da versão verdadeira, o status de projeto, a falta de fotos, de informações e nenhum show de divulgação alimentaram o imaginário do público durante muito tempo. Em termos de fotos, há apenas 1 única foto “oficial”, que é a que está no encarte do disco, mostrando os “supostos” músicos, embora um deles apareça encapuzado, o que aumentou ainda mais o mistério que se formou. Em termos de formação, durante anos soube-se apenas do seguinte: Damian Rath (vocais), Marc Dorian (guitarras), Jamie Locke (baixo) e Geoff Fontaine (bateria). Na realidade, eram respectivamente: David Defeis, Edward Pursino, Joe O'Reilly e Joey Ayvazian, todos do Virgin Steele.

Mas de nada adiantaria esse mistério se o disco não fosse bom. Em suma, “Nightmare Theatre” é simplesmente espetacular na sua proposta, alinhando uma mistura Speed/Thrash com uma temática Black Metal, tudo isso embalado por um clima de filme de terror graças as vinhetas que antecedem ou fecham muitas faixas. E tudo isso casou muito bem, pois a boa produção do álbum dosou bem peso e sujeira, deixando algumas faixas realmente assustadoras. Isso sem mencionar a capa, repugnante na medida certa, mostrando quatro caveiras decompostas e cobertas por uma gosma: é como se o álbum fosse um filme de terror em forma de música, com a capa dando uma prévia do que está por vir...

O disco abre com “Black Mass”, que se eventualmente tivesse sido lançada como single, refletiria perfeitamente o que é este disco: uma forma de transformar terror e medo em música, perfeita! Com um riff cavalgado maravilhoso e vocais assustadores, a faixa abre em grande estilo o disco, com destaque para o solo de guitarra bem Slayer da fase “Show No Mercy” (isso, aliás, é uma constante no álbum) e o encerramento simplesmente assombroso (ouça e você vai me entender, dá medo!). “The Invocation” é uma vinheta que precede “Burnt Offerings”, faixa mais rápida, com uma pegada mais Speed e um riff sensacional, novamente com solos na linha Slayer. “The Hex” cria clima para “Possessed”, que tem um andamento mais lento e um refrão muito criativo. Mais uma vez um final tétrico na faixa dá o clima de terror do álbum. “Call For the Exorcist” é um dos (muitos) pontos altos do disco, com um riff muito legal e um refrão que gruda na mente. Por falar em riff, é necessário destacar o trabalho de Dorian/Pursino, uma vez que o cara manda bases muito boas e arregaça nos solos (a timbragem das guitarras no disco ficou maravilhosa). Numa sequência curiosa de 2 faixas que parecem estar conectadas pela temática de bruxaria e idade média, um clima moribundo crescente abre “Death by Bewitchment”, simplesmente outra obra prima desse disco, sendo mais rápida e contando novamente com um refrão muito bem encaixado, o que é outra tônica desse disco. A banda, mesmo nesse som mais pesado e climático, conseguiu encaixar refrãos muito legais e que não saem da cabeça. O fim dessa faixa está conectado a outra vinheta – perfeitamente encaixada, aliás – “The Trial”, que abre caminho para ouro clássico, “Execution of the Witches”. O refrão “Let the witches burn!” é simplesmente foda! Outra vinhenta encerra o assunto, e só o nome explica tudo: Consuming Flames of Redemption”. Curiosamente há um curto solo de guitarra no album (“Megawatt Mayhem”), que antecede “Riding to Hell”, uma faixa rápida sem firulas, com riff absurdamente sensacional e um refrão simples e funcional. Tanto aqui, como nas outras faixas, vale salientar os vocais de Rath/Defeis que são simplesmente espetaculares e muitíssimo bem encaixados nas faixas, com graus variados de efeitos que só melhoram o resultado final.

As duas faixas finais merecem um capítulo à parte, uma vez que a banda resolveu fechar o disco com músicas mais cadenciadas, o que não é muito comum de se ver, até mesmo hoje em dia. “Queen of the Dead” tem um riff absurdamente, mas absurdamente hipnotizante que permeia toda a faixa, casando perfeitamente com as linhas vocais e o refrão, novamente muito bem construídos. Na sequência, caso o leitor ainda não tenha entendido o conceito de “música-horror” que mencionei várias vezes, “Lucifer´s Lament” representa uma última chance. Novamente um riff hipnótico é a tônica da música, mas os vocais dessa vez estão saturados por efeitos, parecendo que o próprio capiroto está cantando! Destaque para os  solos, bem longos e feitos numa base mais rápida, novamente lembrando demais o Slayer. As mudanças de ritmo na música são sensacionais e muitíssimo bem-feitas. A vinheta de “The Banishment” encerra o álbum, decretando o fim dos 38 minutos e 7 segundos deste clássico absoluto.

Terminado o álbum, automaticamente surge a vontade de ouvir de novo... Nessa hora, é impossível não pensar por que motivo não houve um segundo álbum, embora seja impossível saber se ele sairia tão maravilhoso quanto o primeiro. Talvez as razões expostas no início dessa resenha deixem claro que o disco foi fruto do momento certo que foi aproveitado, sem chance de que ele se repetisse. Para quem se interessar, o album teve um relançamento de luxo, com várias versões e até material bônus em 2016, mas não tenho certeza se ainda está em catálogo. Fora isso, talvez seja possível achá-lo em algum lugar na Internet, como tudo nesse mundo. Mas fica a dica: se achar, compre!!!     

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