domingo, 3 de fevereiro de 2019

Bandas, Músicos, Amor e... Ódio?


O mundo da música é afetado, no que diz respeito à saudade, da mesma maneira que relacionamentos amorosos. Enquanto casais desfeitos sentem falta de seus ex companheiros, bandas sentem falta de ex músicos e vice versa, músicos sentem falta de suas ex bandas, por diversas razões. No Metal isso não é diferente, e um dos casos que sempre me chamou a atenção foi do KISS e sua relação conturbada com os ex membros Ace Frehley (guitarra) e Peter Criss (bateria). Com diversas idas e vindas dos envolvidos, elogios e ofensas, a história acaba de ganhar novo contorno desde que a banda anunciou (pela segunda vez) uma tour de despedida, onde encerrará (?) sua história. Desde então, Ace Frehley tem se oferecido descaradamente para participar. Não satisfeito com isso, ainda condiciona a presença do amigo Peter Criss, embora este nada tenha comentado sobre o assunto. Mas o detalhe interessante é que Ace já conseguiu, mesmo sem ser convidado ou algo que o pareça, brigar com os ex companheiros novamente, aparentemente tornando o até então inexistente convite em algo impossível de se materializar.


Ace e Peter fizeram parte da formação original da banda, estando nela desde sua fundação em 1973 por Gene Simmons e Paul Stanley. Depois de alguns álbuns de estúdio, dois álbuns ao vivo e um sucesso meteórico, os dois deixaram a banda por problemas de relacionamento e ego com Gene e Paul, devidamente amplificados com o consumo de drogas e álcool. O jeito descolado dos dois, com uma vida extremamente desregrada, contrastava diretamente com a disciplina de Paul e Gene, ambos devidamente focados nos objetivos da banda e no seu sucesso. Enquanto Peter deixou a banda em 1980, Ace sairia dois anos depois, em 1982. No ano seguinte a banda faria o icônico show no Maracanã, já com novos músicos e, na sequência, entrou num processo de reformulação da carreira que culminaria com a retirada da maquiagem em 1984.

Ace e Peter entrariam em cena novamente apenas em 1995, quando o Acústico da MTV os aproxima novamente. Com o sucesso e a repercussão desse reencontro, as máscaras voltaram à cena, uma nova tour teve início e um novo álbum com ambos acabou sendo feito (“Psycho Circus”). Entretanto, Ace sai novamente em 2002, com Peter abandonando o barco em 2004. De lá para cá, os músicos foram substituídos, com a formação da banda estando estável desde então, havendo lançado mais um álbum de estúdio inclusive (“Monster”).

Mesmo com todos os problemas e as saídas conturbadas, onde todos se acusavam mutuamente, com direito inclusive a diversos processos judiciais envolvendo uso de imagem, composições e direitos autorais, o contato entre os músicos nunca cessou por completo. Nos últimos 10 anos, pelo menos, onde Ace e Peter pareceram mostrar evolução em seus processos de “limpeza” de álcool e drogas, as participações de ambos em projetos solo de Gene e Paul se tornaram mais frequentes. Com a provável melhora do relacionamento e reaproximação, obviamente retornam os rumores de uma (nova) reunião.


Desde o anúncio da “The End of the Road” do KISS, a derradeira tour na carreira da banda, Ace Frehley tem dado a entender, de maneira totalmente explícita, que seria ideal que ele e Peter participassem, por se tratarem de membros originais. O engraçado de tudo é que, mesmo com a reaproximação recente, Gene Simmons nunca escondeu que não fazia parte dos planos dele tocar com Ace e Peter de novo no Kiss, uma vez que aprendera nas outras oportunidades que não poderia confiar neles. Independentemente disso, Ace continuava dando declarações sobre estar complemente disponível para um retorno, até que numa entrevista recente, Gene estragou a paz aparentemente reinante. Reproduzo abaixo a bombástica declaração, quando finalmente se posicionou sobre uma “possível” reunião:
"Ace e Peter (Criss) tiveram três chances. Eles entraram e saíram da banda... foram despedidos... três vezes. Por uso de drogas, álcool, mau comportamento, por serem pouco profissionais… Eles não aceitavam suas responsabilidades. Então a resposta curta para a sua pergunta é que adoraríamos que Ace e Peter se juntassem a nós na tour. Mas se eles não se juntarem, não será por nossa culpa. Eles nunca estarão no KISS novamente. Três vezes é demais. Prometer que vai funcionar desta vez não é suficiente. Não é confiável. 'Oh, eu estou sóbrio por um milhão de anos.' Ótimo! Tenha uma ótima vida! Ace e Peter são bem-vindos para subir ao palco para uma música ou duas? Claro. Podemos depender de Ace ou Peter para um show completo noite após noite? Nunca!"

Obviamente, Ace não gostou e respondeu cuspindo fogo (desculpe a piada), inclusive com a acusação de que recentemente Gene “apalpara” sua mulher (!) e oferecera sexo a ela (!!). A verdade é que o “possível” categoricamente se tornou “impossível”, e a banda provavelmente vá sair de cena sem subir ao palco com a formação original, ainda que Peter Criss, até então, não tenha se envolvido no caso. Verdadeiramente, Ace estava com os olhos voltados para a fortuna que essa tour irá gerar, como tudo que envolve o nome/marca do Kiss. Como Ace e Peter nem de longe tiveram carreiras solo com a mesma repercussão, sempre foi um ótimo negócio voltar para a banda. Entretanto, seus temperamentos e fraquezas sempre falaram mais alto. Voltando ao comentário de Gene e a resposta simplesmente irada, Ace ameaçou-o dizendo que, “A não ser que vocês peçam desculpas sinceras e completas, me deem de volta o meu emprego na banda, e tirem Tommy do trono que eu construí. A MERDA VAI BATER NO VENTILADOR E NÃO VAI PARAR! VAI CONTINUAR!”. O curioso é que, mesmo na posição mais desfavorável do mundo, Ace exige que Tommy Thayer, um membro estabilizado há 17 anos (isso sem contar que antes disso ele era Tour Manager da banda) seja simplesmente sacado do grupo e da tour para sua volta...

Mas devemos admitir que Ace estava correto ao dizer, também recentemente, que provavelmente estaria havendo pressão dos produtores dos shows para que eles fossem incluídos, uma vez que a formação original aumentaria o “atrativo” aos fãs. Realmente a 1ª reunião foi lucrativa para a banda e foi bom enquanto durou, até os hábitos do passado estragassem tudo novamente. Mas 3 fatores contrariam a expectativa de Ace: a banda continua lotando os lugares por onde passa, mesmo sem ele e Peter. Isso sem mencionar que a formação atual é até mais funcional tecnicamente do que a original; segundo a própria premissa de uma tour de despedida, agora para valer, já será suficiente para lotar estádios. Por fim, a produção de palco que vem sendo prometida provavelmente fará com ninguém se importe com a ausência de ambos. Creio que no fim das contas, Ace terá de se contentar com a rejeição e um amor mal resolvido, musicalmente falando... 

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