sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Jeff Hanneman, Slayer e ... Futuro?


Mesmo com o Slayer chegando ao Rock in Rio e passados pouco mais de quatro meses, ainda é difícil de acreditar: Jeff Hanneman morreu. Uma das cabeças mais criativas de uma das bandas mais espetaculares do planeta se foi, sem mínima chance de que alguém o substitua a altura. Obviamente, colocar outro guitarrista ao lado de Kerry King pode ser feito, ou melhor, já o foi, na figura do lendário Gary Holt. Pode ele tocar o que Jeff tocava? Claro que sim, pois além de sensacional guitarrista, tem o mesmo background e, como se isso não bastasse, mantém na ativa outro nome essencial do Thrash americano, o Exodus. O problema é que ninguém conseguirá compor o que Jeff compunha: Holt é a cabeça pensante do Exodus, que tem o mesmo estilo, mas não é igual ao Slayer. O gênio musical que Jeff era em parceria com King ou então sozinho não se repetirá, ou alguém ainda acha que existe outra mente brilhante no cenário para nos dar uma nova Angel of Death?


O mais curioso é que achamos que nossos ídolos são “Highlanders”, imortais, de existência eterna tal qual o filme. Quando acontece, é um choque maior do que o normal, pois mexe com uma realidade que o fã julga imutável. Passei algo semelhante em minha vida somente com a morte de Chuck Schuldiner, do saudoso Death. E olha que a doença dele já era de conhecimento geral,  mas isso não impediu o baque de perder um grande músico, e mais, uma banda sensacional, já que sem Chuck o Death simplesmente não poderia existir. Jeff, por sua vez, apesar do problema da picada da aranha e da necrose no braço, vinha se recuperando e a qualquer momento poderia voltar à banda, já que era (e ainda é) claro que Gary Holt era um músico contratado. Além disso, Gary sempre afirmou, desde que entrou na banda para segurar as seis cordas enquanto Jeff não voltava, que sua prioridade era o Exodus e que não o trocaria pelo Slayer. Mas voltando ao paralelo com Chuck e o Death, pode o Slayer existir sem Jeff Hanneman?

Esta resposta não parece ser um dilema para a banda, que manteve Gary Holt no posto e continua em turnê promovendo o já não tão recente  “World Painted Blood”, último álbum a contar com Jeff. Bem antes de sua morte, a banda já estava compondo um novo disco, com King assumindo sozinho as composições, uma vez que não se sabia se Jeff retornaria a tempo e se traria material pronto (em declarações recentes, King afirmou que Jeff se isolou após o acidente e que era difícil ter alguma noção do seu real estado). Ainda não há noticiais sobre este disco novo, mas a banda continua em frente, mesmo somando-se a baixa ocorrida antes da morte de Jeff, a do baterista Dave Lombardo, demitido por King face divergências contratuais (leia-se “dinheiro”). Para o lugar de Lombardo chegou-se em definitivo ao nome de Paul Bostaph, que já havia substituído Dave no passado e ficou na banda durante 10 anos. Com o time reformulado, os remanescentes King e (Tom) Araya, vão manter o Slayer na ativa.

Particularmente, tenho uma opinião curiosa: acho o Slayer uma banda tão espetacular, tão sensacional, que deveria parar no auge. Não no passado, onde a banda teve anos áureos nos anos 80, se tornando grande não só nos EUA, mas no mundo todo. O lançamento de “Reign in Blood” foi o primeiro ápice, e quando falo em auge quero dizer nos dias de hoje, onde a banda, depois de atravessar todos os percalços da indústria musical sem fazer concessões, integra e bem sucedida na sua proposta. E este auge chegou novamente com “World Painted Blood”, com o caminho que foi tão bem pavimentado pelo seu antecessor, “Christ Illusion”. Para uma banda que meio que se perdeu (não ficou ruim, de forma alguma, somente se tornou mediana) nos dois álbuns anteriores a esses (“Diabolus in Musica” e “God Hates Us All”, extremamente influenciados pelo metal moderno americano), o retorno grandioso com “Christ Illusion” foi arrebatador, mesmo porque estamos falando de uma banda com 30 anos de estrada e que ainda detona e cima do palco como em início de carreira! A sequência com “World Painted Blood” selou de vez este bom momento da banda, uma vez que a idade chega e começa a pesar para um estilo de música tão extremo. Deste modo, entre começar a fazer álbuns meia boca – pare para pensar e tente encontrar um álbum ruim do Slayer nos moldes do “St. Anger” do  “maravilhoso” Metallica – e encerrar a carreira em grande estilo, sou da segunda opção. Isto se tornou mais plausível depois da saída de Dave e agora ainda mais com a perda de Jeff. Falo sério quando digo que não gostaria de um novo álbum, ainda mais sem a mão de Jeff nele, mesmo que Kerry King seja a outra metade das composições clássicas da banda. E sem Lombardo nas baquetas para dar vida a essas criações com suas viradas alucinantes, a coisa fica muito pior. Mesmo que os músicos substitutos sejam maravilhosos, o que vemos no palco hoje não representa o Slayer que mudou a minha juventude e a de muita gente também. Aquela  banda que me assombrou em 1985, quando ouvi pela primeira vez o “Hell Awaits”, hoje só pode ser vista junta lá, na contra capa daquele e de outros clássicos que se seguiram.
 


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