quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Rock in Rio 2013


Fim de Rock In Rio 2013! Entre mortos e feridos – sim, porque algumas coisas foram realmente ruins de matar – tivemos 2 dias dedicados à música pesada, o que foi muito bom. Eu diria que, mesmo com alguns equívocos, esta edição teve o melhor cast de Metal (sem contar 1985, é óbvio)  até hoje. Talvez o ineditismo de algumas atrações tenha tido maior impacto, mas a verdade é que o ecletismo obtido agradou a quase todos os fãs dos vários subgêneros em que o Metal se divide. Foi realmente gratificante ver Slayer, Metallica, Iron Maiden, Destruction, Krisiun, Helloween, Rob Zombie e Ghost juntos num festival que, apesar do Rock no nome, nunca achamos que chegaria a tanto. A presença de atrações mais underground realmente nos anima para o que possa vir nas edições futuras, tornando tudo ainda mais atraente para os fãs do bom e velho Rock n´Roll.


Individualmente, algumas coisas foram espetaculares, outras nem tanto, outras realmente ruins. Na minha humilde opinião, o festival foi assim:


O Slayer, para quem é fã (como eu) é algo que extravasa o conceito de banda, sendo quase uma entidade sobrenatural. Mesmo sem Jeff Hanneman que nos deixou recentemente e sem a lenda das baquetas Dave Lombardo, o Slayer mostrou porque ainda é uma banda respeitada na cena, mesmo com 30 anos de Thrash nas costas. Contando o lendário Gary Holt na guitarra e o novamente substituto de Lombardo, Paul Bostaph, a banda fez um set destruidor. Mesmo que isso soe ofensivo para alguns, mil vezes melhor que o Metallica... Sobre este último, já dediquei um post só para eles, visto tratar-se de um caso especial e um mistério para mim...


O nosso bom e velho Maiden veio pela 3ª vez! Não há muito o que falar, pois mesmo com as reclamações que já estamos habituados a fazer sobre os set lists da banda, onde ela deveria ter tirado isso e colocado aquilo, o show é espetacular. Mesmo cinquentona/sessentona, a banda ainda arrasa no palco e toca maravilhosamente bem, isso sem falar no show cenográfico que sempre surpreende a todos. Nota 10 e pronto.


O Ghost é uma banda que tem dividido opiniões e eu particulamente gosto muito. Os caras não inventaram a roda, o som não é novo, mas agradável, cativante e somado ao Marketing da banda, chama a atenção. Só acho que o show do grupo, sua apresentação em si, não funcione em grandes arenas, sendo mais eficaz em lugares menores. Foi o que houve aqui, com o grande distanciamento do público e banda não proporcionando a quem não conhecia a real ideia da proposta do grupo.  Respeito quem não gostou – realmente não é fácil assimilar de cara aquele show extremamente parado – mas particularmente achei sensacional.

O grunge passou e poucos sobreviveram: o Alice in Chains que o diga, mesmo porque seu vocalista original, Layne Stanley, já passou dessa para melhor. Trocadilhos de humor negro à parte, a banda se manteve e continua na estrada até hoje. Não é muito minha praia, acho deprê demais, mas algumas músicas são muito boas como Would, Angry Chair, Man in the Box e outras mais. Tem seu público e foi uma boa escolha.

O Avenged Sevenfold tem mais ou menos 14 anos de estrada, sendo uma banda nova e com moderno, bem ao gosto da molecada de hoje. Não conheço quase nada e o pouco que vi me parece meio indefinido, pois os caras não sabem se são rápidos ou mais lentos, mais pesados ou mais melódicos, enfim: a garotada curtiu, mas eu, nem tanto. Teria sido mais interessante ter visto na fase com Mike Portnoy (ex-Dream Theater) nas baquetas.


Falar o quê do Sepultura (ou Zépultura, como andaram falando ao longo do festival)? O que falar de uma banda que acha a 8ª maravilha do mundo pegar “Vida de Gado” ( clássico da MPB), botar uma base pesada no fundo e o pobre do Zé Ramalho que se vire pra cantar? É claro que ele não o fez obrigado, mas desde que o Sr. Andreas Kisser botou na cabeça de que é um músico “plural”, parcerias estapafúrdias como essa se tornaram rotineiras. Uma pena, pois desde que criaram a expressão “viúvas do Max”, a gente não pode dizer que a banda nunca mais fez nada que preste e que hoje é pateticamente ruim. Assim sendo, não vou dizer nada disso.


Destruction e Krisiun detonaram o palco Sunset com o que há melhor no Underground: O thrash dos anos 80 e o Death Metal, ainda que na sua vertente mais moderna, tocado na velocidade da luz. Foi fora do comum ver a intro de “Curse the Gods” echoar nos PA´s, com a banda entrando em seguida, com a mesma postura de estar tocando num Wacken, onde a banda é sempre presente. Set maravilhoso, até mesmo nas composições mais recentes. Junto do Krisiun, tocaram “Black Metal” do Venom e a fudidíssima “Total Desaster”. Surreal!


André Matos e o Viper fizeram bons shows, primeiro André com sua carreira solo, acrescido de sons do Angra e Shaman, depois o Viper, com sons apenas do 2º álbum “Theatre of Fate” e do “Evolution” (fase sem André nos vocais). Como disse, bons shows, nada mais. Na minha opinião, essa onda de saudosismo não funciona com certas bandas, e para mim, não sei a razão, o Viper é uma delas.


Helloween com Kay Hansen prometia ser algo mágico, mas não foi por duas razões: a primeira, Andy Deris ainda teima em (tentar) cantar o material de Michael Kiske. Simplemente não entendo como alguém não chega para ele e diz que não funciona e pronto. Se querem um exemplo apenas, basta checar os minutos finais de “I Want Out” e ver que aqueles pulmões quase explodiram... A segunda razão é que chamaram Kay Hansen para tocar guitarra apenas , ao passo que se ele pegasse o microfone do Andi Deris (para ele respirar um pouco até) e cantasse “Victims of Fate” ou “Gorgar”, seria perfeito!  De saldo, apenas as músicas mais recentes da banda, que dão para o gasto e Andi não morre ao tentar cantá-las.

Dr. Sin é uma banda guerreira. Tão guerreira, mas tão guerreira, que só falta alguém avisar a eles que eles tem de ganhar também, e não só lutar. Não me levem a mal, conheço pouquíssimas músicas dos caras e não estou dizendo que eles são ruins, mas o fato é que eles estão aí há anos e não chegaram a lugar nenhum... É uma pena, mas é assim que vejo a carreira deles. Pelo menos chegaram no RIR e mandaram ver. Pelo menos os 5 minutos que assisti....

E aí chegamos ao Kiara Rocks... Uma polêmica tremenda envolveu a banda antes e após sua apresentação no festival, mesmo porque ninguém sabia que diabo era isso, e daí a coisa piorou quando se soube que diabos eles eram... Vamos por partes: o fato da banda ser nova (3 albuns apenas), brasileira e desconhecida do grande público não é crime algum. Pelo menos da parte deles, mas sim de quem os escala em um palco principal, antes do Slayer. Soube-se depois do dedo (podre) da Sra Monika Cavalera (ex- Igor Cavalera), que empresaria os caras e conseguiu “encaixá-los” na grade do festival. Isso só tira a credibilidade da proposta do RIR, que prima pelo “jabá” em detrimento do bom senso. Rob Zombie teria sido uma escolha trinta e cinco milhões de vez melhor, mas optou-se em colocá-la no placo Sunset , enquanto os criminosos do Kiara Rocks burlavam a lei no palco mundo... Lembro a todos que o Glória, que fez o mesmo papel na edição de 2011, também estava sob a batuta da referida empresária...


Com relação aos covers, uma verdade tem de ser dita: se o Metallica abrisse o seu show com “Am I Evil?” do Diamond Head, todo mundo ia gostar, não é? A única diferença é que o Metallica é uma mega banda e pode fazer o que quiser da vida, já o nosso KR... Agora, se você só tem 3 discos que ninguém ouviu e ganha a chance de tocar num RIR com transmissão nacional, vai começar mostrando que conhece Motorhead? É claro que não!!! Mas o pior de tudo foi chamar Paul Di’Anno ao palco para cantar cover do Iron Maiden no dia do show do... Iron Maiden! Era o mesmo que escrever naquele telão imenso atrás do palco “POR FAVOR, GOSTEM DA GENTE”. Patético até dizer chega... Ah, quase me esqueço: o material próprio da banda também é uma merda mesmo. 

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Metallica e Mais do Mesmo 2013


Um dia após o show do Metallica no Rock in Rio 2013, estava eu ao telefone com um amigo, que me contava que havia ficado até as 3 da matina vendo o show da banda. Obviamente ele ficou encantado, me dizendo que o show da véspera havia superado em muito o show de 2011. Eu, por minha vez, contava que até esperei a banda entrar, mas antes da 1ª primeira música terminar, eu já havia desligado a TV e ido dormir. É claro que gravei o show e vou assisti-lo assim que possível, mas esta diferença de prioridades entre eu e meu amigo deixa claro que a banda, atualmente, já não é mais relevante para mim, com outros grupos antigos e até mesmo alguns novos que me encantam muito mais.


Não estou querendo dizer que o Metallica seja ruim ou não tenha o seu valor, muito pelo contrário, ouvir os seus cinco primeiros álbuns são um verdadeiro prazer para qualquer um que ama música pesada. Vale ressaltar que, clássicos mesmo, apenas e tão somente os 3 primeiros (“Kill ‘Em All”, “Ride the Lightning” e “Master of Puppets”) com os 2 seguintes (“... and Justice for All” e “Metallica”) sendo excelentes, mas num patamar inferior aos seus  antecessores. Tudo o que veio depois deles só mostrou a banda numa inconsistência qualitativa, onde surgiram albuns menos inspirados e alguns polêmicos até. A dupla “Load” e “Reload” até hoje divide opiniões, ao passo que “St. Anger” é quase uma unanimidade como pior disco de toda a carreira (creio que até na própria banda, que não executa nada desse disco ao vivo). O que acontece é que, comercialmente, a banda explodiu com “Metallica” e de lá para cá atingiu outros públicos, chegando ao tão sonhado “mainstream”. Nessa crescente de sucesso, dinheiro e fama, o Metallica atingiu o status de megabanda, aquela que pode fazer o que quiser da vida, em um auge artístico semelhante ao do U2, para citar um exemplo.


E é por conta dessa trajetória de sucesso – merecido, diga-se de passagem – que hoje já não me empolgo pelo que a banda faz atualmente. Com todo o sucesso veio uma acomodação quase que óbvia, com toda aquela fúria inspirada e empolgante do início dando lugar a discos e shows burocráticos. É claro que nenhum disco novo será passível de comparação com os do início de carreira, afinal, nunca mais a banda lançará um “Master of Puppets” novamente, isso é certo. “Death Magnetic” é um bom disco, mas nada mais que isso, e o próximo provavelmente também o será: entretanto, minha esperança era de que os shows continuassem empolgantes, mas isso não acontece. O show de ontem do RIR reforçou a minha percepção de que o Metallica hoje é como um Chef que tem os melhores ingredientes a sua disposição, mas não sabe mais como fazer um prato saboroso.


Individualmente, apenas James Hetfield consegue manter o espírito do passado vivo em termos de postura, embora sua performance (vocal) nas músicas antigas não seja mais a mesma. Melhor dizendo, trata-se de uma performance sem aquilo que chamamos de “sangue nos olhos”. Como músico, James continua um dos maiores guitarristas base do universo Thrash, com uma mão direita absurdamente rápida e precisa. Seu único problema é a mudança das linhas vocais no material antigo, mexendo no que é intocável. É claro que o tempo passou e o cara envelheceu, sendo impossível manter o mesmo timbre de adolescente; mas mesmo assim, não é difícil tentar manter-se fiel a agressividade natuarl que aquele matéria contém.

Quanto a Kirk Hammet, este continua sendo o zero a esquerda que sempre foi na banda, limitando-se a ser o excelente guitarrista que é. Para quem tem dúvidas, isso fica explícito no documentário “Some Kind of a Monster” onde o guitarrista simplesmente não tem voz nenhuma dentro da banda, sendo Hetfield e Lars Ulrich os donos da bola. Ao vivo, continua competente como sempre foi, e agora que abandonou o visual andrógino da época dos “Loads”, a coisa melhorou ainda mais.

Deste modo, o problema do Metallica, ao vivo, está na cozinha da banda, ocupada por Robert Trujillo e Lars Ulrich. No baixo, uma coisa é certa: Jason Newsted faz uma falta dos diabos, seja na pegada, seja nos back vocals sensacionais que fazia e que ajudavam muito nas músicas (alguém falou aí “Creeping Death”???). Robert Trujillo é um excelente baixista, só me parece ser técnico demais e muito cheio de firulas em cima do palco, destoando da banda. Jason, além da postura agressiva e perfeita ao completar a linha de frente da banda, tinha um estilo mais ligado a Clff Burton do que Trujillo, e isso era um baita diferencial. Agora, sejamos francos, você ir assistir ao show do METALLICA e ter de ver o baixista de Maria Chiquinha é um pouco demais, não? Atitude, minha gente...

Agora, o calcanhar de Aquiles da banda chama-se, sem dúvida nenhuma, Lars Ulrich. Embora seja o criador do Metallica (lembrem-se de que foi ele que pôs o anúncio num jornal e que o colocou em contato com Hetfield, dando início a tudo) e responsável pelo gigante que a banda é hoje, Lars é um caso raro de músico que retrocedeu: se você observar sua performance nas baquetas do início até os dias de hoje, vai encontrar um músico que ficou preguiçoso e que não executa suas próprias músicas da maneira como as gravou. Isso mencionar que o material mais rápido, principalmente com pedais duplos, são reproduzidos hoje em dia com dificuldade, com as músicas estratégicamente intercaladas no set list, de modo haja um tema mais lento entre elas. E aí, minha gente, idade não é desculpa: Dave Lombrado (ex-Slayer) tem mais ou menos a mesma idade de Lars e ainda hoje em dia continua um monstro tocando.

Somado a todos esses argumentos, teve mais um detalhe me incomodou muito: o show do RIR 2011 compreendeu a turnê do “Death Magnetic”, lançado 3 anos antes (!). Naquela época, a banda já me parecia no piloto automático e não me encantou muito. Passados 2 anos daquele show e 5 anos do lançamento do disco, a banda dá continuidade a mesma turnê com um show exatamente igual, excetuando-se eventuais alterações nos set lists executados. Em termos de show, o que vimos em 2011 é a mesmíssima coisa que vimos ontem, onde até o palco acabou ficando parecido. Este o tipo de coisa que com certeza não veremos com o Iron Maiden, que mesmo tendo se tornado uma banda assídua no Brasil, varia bem o show que faz por aqui, tanto em palco, quanto em músicas (ainda que algumas NUNCA saiam dos seus set lists).

Quero deixar claro meu respeito por quem gosta da banda e ainda a acha relevante. O importante é que os caras continuem fazendo Metal de qualidade, mesmo com os contras que relacionei acima. Entretanto, acho importante elencar algo que muitas das vezes o fã cego não quer enxergar, simplesmente por conta da devoção exagerada que tem a um determinado artista. E aí, também temos de citar a mídia, que com a mesma facilidade que destrói carreiras, também cria mitos, lendas, transformando meros mortais em deuses, merecedores ou não. Isso tem uma influência muito forte na cabeça da molecada e impede que ela pense diferente pelo simples fato de que estaria remando contra a maré do gosto geral. Já imaginou você ter coragem de dizer que “Through the Never”, o novo filme/documentário em 3D do Metallica, que custou a bagatela de $ 80 milhões é uma porcaria?



Jeff Hanneman, Slayer e ... Futuro?


Mesmo com o Slayer chegando ao Rock in Rio e passados pouco mais de quatro meses, ainda é difícil de acreditar: Jeff Hanneman morreu. Uma das cabeças mais criativas de uma das bandas mais espetaculares do planeta se foi, sem mínima chance de que alguém o substitua a altura. Obviamente, colocar outro guitarrista ao lado de Kerry King pode ser feito, ou melhor, já o foi, na figura do lendário Gary Holt. Pode ele tocar o que Jeff tocava? Claro que sim, pois além de sensacional guitarrista, tem o mesmo background e, como se isso não bastasse, mantém na ativa outro nome essencial do Thrash americano, o Exodus. O problema é que ninguém conseguirá compor o que Jeff compunha: Holt é a cabeça pensante do Exodus, que tem o mesmo estilo, mas não é igual ao Slayer. O gênio musical que Jeff era em parceria com King ou então sozinho não se repetirá, ou alguém ainda acha que existe outra mente brilhante no cenário para nos dar uma nova Angel of Death?


O mais curioso é que achamos que nossos ídolos são “Highlanders”, imortais, de existência eterna tal qual o filme. Quando acontece, é um choque maior do que o normal, pois mexe com uma realidade que o fã julga imutável. Passei algo semelhante em minha vida somente com a morte de Chuck Schuldiner, do saudoso Death. E olha que a doença dele já era de conhecimento geral,  mas isso não impediu o baque de perder um grande músico, e mais, uma banda sensacional, já que sem Chuck o Death simplesmente não poderia existir. Jeff, por sua vez, apesar do problema da picada da aranha e da necrose no braço, vinha se recuperando e a qualquer momento poderia voltar à banda, já que era (e ainda é) claro que Gary Holt era um músico contratado. Além disso, Gary sempre afirmou, desde que entrou na banda para segurar as seis cordas enquanto Jeff não voltava, que sua prioridade era o Exodus e que não o trocaria pelo Slayer. Mas voltando ao paralelo com Chuck e o Death, pode o Slayer existir sem Jeff Hanneman?

Esta resposta não parece ser um dilema para a banda, que manteve Gary Holt no posto e continua em turnê promovendo o já não tão recente  “World Painted Blood”, último álbum a contar com Jeff. Bem antes de sua morte, a banda já estava compondo um novo disco, com King assumindo sozinho as composições, uma vez que não se sabia se Jeff retornaria a tempo e se traria material pronto (em declarações recentes, King afirmou que Jeff se isolou após o acidente e que era difícil ter alguma noção do seu real estado). Ainda não há noticiais sobre este disco novo, mas a banda continua em frente, mesmo somando-se a baixa ocorrida antes da morte de Jeff, a do baterista Dave Lombardo, demitido por King face divergências contratuais (leia-se “dinheiro”). Para o lugar de Lombardo chegou-se em definitivo ao nome de Paul Bostaph, que já havia substituído Dave no passado e ficou na banda durante 10 anos. Com o time reformulado, os remanescentes King e (Tom) Araya, vão manter o Slayer na ativa.

Particularmente, tenho uma opinião curiosa: acho o Slayer uma banda tão espetacular, tão sensacional, que deveria parar no auge. Não no passado, onde a banda teve anos áureos nos anos 80, se tornando grande não só nos EUA, mas no mundo todo. O lançamento de “Reign in Blood” foi o primeiro ápice, e quando falo em auge quero dizer nos dias de hoje, onde a banda, depois de atravessar todos os percalços da indústria musical sem fazer concessões, integra e bem sucedida na sua proposta. E este auge chegou novamente com “World Painted Blood”, com o caminho que foi tão bem pavimentado pelo seu antecessor, “Christ Illusion”. Para uma banda que meio que se perdeu (não ficou ruim, de forma alguma, somente se tornou mediana) nos dois álbuns anteriores a esses (“Diabolus in Musica” e “God Hates Us All”, extremamente influenciados pelo metal moderno americano), o retorno grandioso com “Christ Illusion” foi arrebatador, mesmo porque estamos falando de uma banda com 30 anos de estrada e que ainda detona e cima do palco como em início de carreira! A sequência com “World Painted Blood” selou de vez este bom momento da banda, uma vez que a idade chega e começa a pesar para um estilo de música tão extremo. Deste modo, entre começar a fazer álbuns meia boca – pare para pensar e tente encontrar um álbum ruim do Slayer nos moldes do “St. Anger” do  “maravilhoso” Metallica – e encerrar a carreira em grande estilo, sou da segunda opção. Isto se tornou mais plausível depois da saída de Dave e agora ainda mais com a perda de Jeff. Falo sério quando digo que não gostaria de um novo álbum, ainda mais sem a mão de Jeff nele, mesmo que Kerry King seja a outra metade das composições clássicas da banda. E sem Lombardo nas baquetas para dar vida a essas criações com suas viradas alucinantes, a coisa fica muito pior. Mesmo que os músicos substitutos sejam maravilhosos, o que vemos no palco hoje não representa o Slayer que mudou a minha juventude e a de muita gente também. Aquela  banda que me assombrou em 1985, quando ouvi pela primeira vez o “Hell Awaits”, hoje só pode ser vista junta lá, na contra capa daquele e de outros clássicos que se seguiram.
 


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Metal Mundial em 2013: O Que Ainda Falta Conquistar?



Antes de mais nada, quero deixar claro que este texto não é fruto de alguém que não curte mais Metal, pelo contrário: minha paixão pelo estilo ainda é a mesma. A única diferença é que o tempo passou e sinceramente me preocupo com que o futuro reserva para o estilo musical mais fantástico desse planeta. Tampouco também sou um saudosista inveterado, pois mesmo com o passado sendo maravilhoso, a busca por novidades é vital para a renovação e evolução musical de cada um.

Com 25 anos de Metal pesado na bagagem, não é raro eu me ver pensando em como o Rock Pesado mudou nesses anos todos. As novidades, os clássicos, os fracassos, as decepções, as surpresas, enfim, todos os altos e baixos que o estilo teve, tem e provavelmente terá no futuro. Mas esta é a real razão dos meus pensamentos mais profundos: se o estilo passou por tanta coisa enquanto se desenvolvia e consolidava, o que o destino reserva para ele agora que se encontra estabilizado, definitivamente estabelecido como um grande negócio e com um grande público? Como ficará depois que a geração atual – que sedimentou a base dos anos 80 para cá, for embora, deixando um cenário onde não há mais espaço para muita novidade? Será a nova geração capaz de reinventar o estilo? Questões como essa bombardeiam minha mente no momento em que muitas das novas bandas não conseguem mais chamar minha atenção, uma vez que o que se tem é mais do mesmo, sem nada de novo. Ou, fazendo uma analogia culinária, que apresente a comida requentada, mas pelo menos saborosa.

Quem se encontra na faixa dos 40 anos, como eu, já deve ter entendido muito bem o espírito contido no início deste texto.  A diferença do cenário de 1983 e o de hoje não se mede apenas pela quantidade de anos que se foram, mas por toda uma cultura que mudou de forma drástica, afetando seriamente os rumos do estilo. Cito um ponto pelo exemplo contido na biografia “O Reino Sangrento do Slayer” (Mclver, Joel - 288 páginas, Edições Ideal), onde, em diversos momentos, encontramos referências ao “Tape Trading”, largamente praticado naquela época, e que nada mais era a troca de fitas K7 com demo tapes, bootlegs ou lançamentos oficiais, e  que os fãs faziam entre si com fins de aumentar o arsenal de discos e de conhecimento de bandas. Em tempos sem Internet, era isto que conectava fãs e, por incrível que pareça, mantinha uma cena (underground, é claro) unida e forte, tendo sido a base de sucesso de muitas bandas grandes hoje. Imagine um mundo sem sites das bandas, “Youtubes” ou “Myspaces”, onde você só podia obter informações e as novidades pela troca de fitas, pelos fanzines e, é claro pelos shows. E em maior ou menor escala isso aconteceu em vários lugares do mundo, inclusive aqui no Brasil. Rio de janeiro, São Paulo e Minas foram os centros catalisadores de um movimento que gerou grandes bandas, sendo a principal delas o finado Sepultura (desculpem a ironia e o trocadilho, mas...). Esperar um colega comprar um importado e depois copiar em fitas K7 até dizer chega era algo comum na época, onde até algumas lojas faziam isso(!) por um valor mais em conta. Em resumo, era uma época em que as coisas eram muito mais difíceis, demandavam muito mais esforço, mas contava com a paixão e o envolvimento de quem tinha amor pelo estilo e queria ver a coisa acontecer.

Passado o tempo, o reconhecimento veio e alguns nomes transpuseram a barreira comercial imposta pelo “mainstream”, onde o lixo pop imperava e o Metal era considerado coisa de vagabundo. Em seguida, veio a Internet e, na minha opinião, foi aí que a coisa ao mesmo tempo teve um impulso muito grande, mas também teve fim... O advento da tecnologia, com o passar do tempo, obviamente foi positivo: equipamentos melhores, melhores estúdios, melhores profissionais e etc.. Estes foram fatores que aumentaram o nível qualitativo das bandas, somando-se ao próprio talento delas e sua evolução musical. Com a Internet, a divulgação das bandas se tornou mais fácil, mais rápida, independente do lugar do mundo onde se estivesse. As novidades chegavam quase que instantaneamente para todos e os fanzines de outrora deram lugar a sites especializados; as fitas K7, soberanas durante anos deram lugar a sites onde áudio e vídeo podiam ser divulgados livremente; o vinil, alvo das coleções dos headbangers  no mundo todo deu lugar ao CD, que depois deu lugar ao MP3, que trouxe de bandeja a pirataria, onde a música não tinha mais dono.  Até mesmo as gravadoras, entidades máximas e supremas do meio musical, sucumbiram diante da fúria da revolução da Internet.

Mas onde entram as pessoas nessa história toda? O que houve com aqueles fãs ardorosos que mantinham a cena lá no início? Simplesmente se adaptaram, como este que vos escreve. O romantismo de uma cena embrionária deu lugar a algo profissional e sofisticado, que facilitou a vida de todo mundo e este talvez tenha sido a derrocada de um estilo que sempre foi caracterizado pela sua paixão. Deixo claro que não estou dizendo que o fã de Metal hoje não tenha paixão, não se trata disso: o que estou dizendo é que hoje tudo é muito fácil, e essa facilidade gera quantidade, que não é sinônimo de qualidade. Também não estou dizendo que o mundo era melhor quando tudo era mais difícil, mas que hoje não há mais o impacto do passado, isso não há. Como exemplo, me  lembro até hoje de  como conheci o Slayer: um amigo me levou a um Shopping (Rio Sul, construído em 1980) e fomos a uma loja de discos, onde ouvimos juntos, em uma cabine (!), um vinil pirata do “Show No Mercy”. A capa era tosca, preta, com a logo e o bode reduzidos no centro, a contra capa era sem fotos, somente com o nome das músicas. O disco não tinha selo nenhum e hoje, com certeza, é item de colecionador. Só me lembro que era caro e umas poucas cópias circularam por aqui. Hoje, você entra na Internet, baixa o disco, capa, contracapa, encarte e tudo mais em questão de segundos. Qualquer adolescente que se torne um headbanger hoje pode, em questão de dias ter a mesma coleção que levei anos para juntar. Repito: não é despeito pela facilidade, mas a luta para conseguir algo trazia embutido um grande valor pessoal, ausente dos velozes downloads de hoje. O mesmo se aplica as bandas: hoje é fácil ter um instrumento, é fácil gravar, ter CD na mão e divulgar: é nessa hora que a qualidade cai e a quantidade aumenta, e daí voltamos ao que disse no início desse texto. Ouço muita coisa nova, mas nada que seja capaz de me encantar como acontecia no passado. Pessoalmente, desde o Slayer, a única banda que foi capaz de me deixar embasbacado foi o Dimmu Borgir, que se mostrou uma puta novidade com aquele Black Metal Sinfônico – e olha que não sou fã de Black Metal – extremamente técnico e soturno, fruto do uso inteligente dos teclados, algo não habitual até então neste tipo de som.

É óbvio que o próprio esgotamento do estilo chegaria em algum momento (desculpem-me os puristas, mas o que falta se inventar no Metal?) e aí entraríamos num ciclo de repetição até que algum novo talento apareça e seja a tábua de salvação do estilo. Para se ter uma ideia, basta pensar no seguinte: bandas como Slayer, Megadeth, Metallica, Anthrax, Exodus, Iron Maiden, Motorhead, AC/DC, Saxon, Overkill, Kiss, Destruction, Sodom, Accept, Kreator, Rush e muitas outras estão na ativa há 25, 30 anos e, mais cedo ou mais tarde, vão parar. Agora, quais são os nomes mais novos, de mesmo porte, que estarão em seu lugar?  Particularmente, não consigo visualizar nomes a altura para representar uma continuidade.  Ou melhor dizendo, alguma conseguirá revolucionar a cena como os nomes citados o fizeram, cada um do seu modo? Essa “recessão” fica ainda mais comprovada pelo saudosismo que se levanta de vem em quando, tendo hoje como figura o revival do Thrash, com as bandas da Bay Area (ainda) em alta e outras tantas simplesmente copiando descaradamente - até no visual - o que se fez milhares de vezes naquela época. Há alguns anos atrás, o Death Metal foi a bola da vez, com uma banda atrás da outra adotando o estilo, numa onda que veio e passou.

Entendam, não estou dizendo que o Metal vai morrer, mas não sei dizer os rumos que ele vai tomar sem o espírito guerreiro que tinha no início. A geração de hoje encontra um cenário mundial diferente e não há como prever como ela vai escolher mostrar ao mundo sua revolta contra o sistema: se empunhando uma guitarra ou se atrás de um computador.