Resenha DVD: "The Big 4" (Metallica, Slayer, Megadeth & Anthrax)



Não há menor dúvida que este DVD registrou um show de uma turnê histórica para o Metal, o encontro dos 4 grandes nomes do Thrash Metal da década de 80: Slayer, Megadeth, Metallica e Anthrax. Ainda que, pessoalmente, eu ache que uma 5ª banda deveria ter sido incluída – o fantástico Exodus – é óbvio que o impensável se realizou, uma vez que Megadeth e Metallica se reaproximaram (leia-se Dave Mustaine, James Hetfield e Lars Ulrich). Isso sem contar o Slayer também, que ao longo dos anos sempre foi alvo de comentários sobre diferenças e animosidades com as duas bandas citadas, principalmente Megadeth, onde Kerry King chegou a tocar por um breve período de tempo no passado. Como veremos mais a frente, os shows foram fantásticos, mas ao assistir os extras, onde um documentário mostra os bastidores do evento, fica claro que o Heavy Metal, além de um estilo apaixonante para milhões pelo mundo, também é um grande negócio...

O DVD abre com o Anthrax, que pela segunda vez tem Joey Belladonna retornando aos vocais, logo depois da saída conturbada do vocalista anterior Dan Nelson, num episódio confuso e sem muitas explicações até hoje. Vale lembrar que Belladonna já havia retornado ao Anthrax  em 2005 - juntamente com o guitarrista Dan Spitz, reunindo a formação clássica da banda - mas novos desentendimentos aconteceram e ambos partiram novamente. Desta vez, Spitz não voltou (trazendo de volta Rob Caggiano, na banda desde 2001). Com isso, fica clara a sensação de como esta reunião é oportunista, uma vez que é aparente que tanto a banda, quanto Belladonna, não conseguem a mesma exposição junto a mídia e fãs se não estiverem juntos. Outra coisa que reforça isso, vendo o documentário, é a clara falta de empolgação de Belladonna (apesar de ao vivo sair-se muito bem), principalmente no ensaio de “Am I Evil”, junto com os demais músicos, onde sua apatia é visível. Em termos musicais, a banda merece realmente estar neste encontro histórico, uma vez que sua carreira é fantástica. Destaques individuais para Charlie Benante (um dos grandes bateristas do Thrash mundial) e Frank Bello (que é o Bruce Dickinson do baixo, sem parar de agitar um minuto sequer). Em uma hora de show, os grandes clássicos são tocados com a competência de sempre: “Caught in a Mosh”, “Madhouse”, “Metal Thrashing Mad”, “I Am The Law”, além das surpreendentes “Only” (da fase John Bush) e a homenagem a Ronnie James Dio no meio de “Indians” com “Heaven and Hell”. No fim das contas, 1 hora é muito pouco e faz com que a banda deixe vários hinos de fora.

Na sequência vem o espetacular Megadeth, que na minha modesta opinião, podia estar no lugar como headliner em vez do Metallica. Sei que isso choca muita gente, parece heresia, mas não é de hoje que, se feita uma análise correta, podemos ver que o Megadeth teve (e tem) uma carreira muito mais estável que o Metallica. Tirando o fraco “Risk”, os lançamentos da banda sempre foram consistentes. Claro que a banda não teve os 3 primeiros clássicos que o Metallica teve - mas é só isso que o Metallica tem – e esta regularidade sempre me cativou. Entretanto, o Megadeth também tem seus clássicos (na minha opinião: “Peace Sells... But Who´s Buying”, “Rust in Peace”e “Countdown to Extinction”), além de ter tem um show acima da media e que mexe com o público. Preferências à parte, Mustaine e sua trupe simplesmente detonam, mesmo tocando debaixo do maior temporal.  Atualmente o Megadeth conta com uma formação muito estável e talentosa: Chris Broderick rivaliza em talento Marty Friedman, sendo um guitarrista espetacular; Dave Ellfson dispensa comentários, sendo a alma da banda junto com Mustaine. Apenas Shawn Drover me parece um baterista competente, mas certinho demais, bem distante da fúria e técnica do grande Nick Menza, que saiu da banda em 1998. Em termos de set list, o mesmo problema do Anthrax afligiu o Megadeth: apenas 1 hora para tantos clássicos é um desafio, mas a banda não fez feio: “Holy Wars...”, “Hangar 18” (que levanta o público), “Trust” e a pouco executada, mas espetacular, “Hook in Mouth”. Além das antigas, a banda ainda executou “Headchrusher”, faixa do excelente último álbum “Endgame”. Mesmo com todas aquelas presepadas com o Metallica, Mustaine ainda é o cara.

Slayer, Man! Fuck Yeah! Fica difícil escolher palavras para definir o show do Slayer, principalmente sendo a única das quatro bandas deste DVD que manteve-se absolutamente fiel a sua proposta, não fazendo concessões no seu som. Mesmo com dois álbuns experimentais (“Diabolus In Musica” e “God Hates Us All”), a banda não tirou o pé do acelerador e nem abriu mão de sua fúria tradicional. Além disso, a banda não tem muitas firulas ao vivo (nem back drop os caras usaram nesta apresentação) e vai direto ao ponto: Thrash Metal! Nem o fato de Tom Araya não poder mais agitar por conta da recente operação nas costas - e uma conseqüente proibição médica para o resto da vida – tira o brilho do show. Novamente 60 míseros minutos limitam estes Deuses, mas a magia está lá: “Angel of Death”, “Chemical Warfare”, “Mandatory Suicide”, além dos novos clássicos “Disciple”, “Jihad”  e “World Painted Blood”. É importante frisar que o Slayer é o único dos quatro que conseguiu gerar clássicos nos últimos álbuns (eu disse clássicos, não apenas boas músicas).  Tecnicamente, a formação clássica é imbatível: Lombardo continua sendo uma referência para bateristas do estilo, Hanneman e King são um exemplo de dupla de guitarristas perfeita dentro do Thrash e Araya, mesmo mais contido, permanece um excelente frontman, dominando a platéia com seus olhares sérios e sorrisos sinistros. Em suma: o Slayer está num outro patamar, e o publico sabe disso. Nota 10!

Chegando ao show principal, temos o Metallica, que encara uma situação um tanto quanto peculiar: depois de 3 albuns referenciais para o Thrash Metal, começou a mudar o seu som até chegar no multiplatinado “Metallica” - onde fez fama e fortuna - e daí começou uma descendente que passou pelos famigerados “Load” e “Reload”, culminando no trágico e patético “St Anger”.  Depois de idas e vindas ao Terapeuta, a banda ressurgiu com o bom “Death Magnetic”.  Entretanto, é óbvio que a banda tem uma legião de fãs por conta de seu passado glorioso e já não tem um show tão poderoso como antigamente, por várias razões.  Primeiro, a pegada não é mais a mesma, com várias canções antigas sendo tocadas sem a mesma gana do passado, com execuções que passam longe do que víamos nos anos 80. Segundo, a banda hoje perde em técnica, uma vez que Lars Ulrich (sim, eu não ia deixar de falar dele!), hoje em dia, é apenas um baterista mediano e bem ensaiadinho, não passando disso. Ao contrário de seus colegas Dave Lombardo (Slayer) e Charlie Bennante (Anthrax), Ulrich se contenta com o feijão com arroz que a banda pede e só. Diante desse quadro, o Metallica até arrisca 3 faixas novas entre as 18 que executa, mas são os clássicos que predominam e seguram a onda. Comprovando o que eu disse, apenas uma faixa de “Reload” é tocada, mas absolutamente nada do “St Anger”. Se olharmos direito, a banda não tem nada consistente no período destes álbuns - de 1996  a 2008 - para apresentar, ao passo que as demais (a exceção do Anthrax, que estava em crise com a formação) continuaram na ativa, mandando muito bem. O show é competente, mas não encanta como os demais.

Com relação ao documentário nos extras, este serve não somente para se ver o back stage  do show, mas para comprovar como nem tudo são flores nesta reunião histórica.  Mais do que amizade, nota-se que a grana falou mais alto ao juntar alguns desafetos. Para comprovar isso, basta checar o bate papo entre Mustaine e Ulrich sobre filhos: chega a ser constrangedor de tão forçado, como se ambos fossem grandes amigos. Quem viu o documentário “Some Kind of a Monster” do Metallica, sabe do que estou falando. Não se vê tambem muita empolgação quando Hetfield vai ao camarim do Slayer ao para falar sobe a Jam em “Am I Evil”. Esta Jam, aliás, não contou com todos os músicos, uma vez que do Slayer, apenas com Dave Lombardo (Jeff Hanneman e Tom Araya só sobem ao placo na hora da foto), o que deixa claro que a empolgação do encontro não era geral... Para finalizar, deixo uma questão: por que não fazer a Jam com 4 kits de bateria, e não apenas o do Sr Ulrich, com os outros três restritos a uma simples caixa? Os caras tinham de enrolar sem ter onde tocar! Medo da concorrência? Vai saber...

Saldo final: compre, porque vale muito a pena. Som e imagens excelentes, bandas idem (guardadas as devidas proporções, óbvio), com 4 shows que mostram parte da história do Thrash Metal como o conhecemos hoje.

Comentários

  1. qual foi o motivo para o slayer nao participar do jam no final do show???

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