E o que isso prova? Músicos também são empregados, e também têm
expectativas de carreira, muitas das vezes almejando uma ascensão profissional
similar a um empregado numa empresa, com cargo e remuneração melhores. Já falei
dessas similaridades entre Rock e negócios aqui, e a bola da vez é Eloy
Casagrande com sua saída do Sepultura e a ida - agora confirmada – para o
Slipknot. Para quem não sabe, Eloy deixou o Sepultura de maneira “repentina” e não
muito tranquila, às vésperas do início dos ensaios para a turnê mundial de
despedida da banda. Não se sabe exatamente quão abrupta foi essa saída (daí as
aspas acima) mas a impressão que ficou é que não foi amigável, fato esse
reforçado por declarações do Andreas Kisser em entrevistas posteriores, isso
sem mencionar o tom amargo do comunicado oficial da banda. O que se pode
deduzir é que isso já deveria estar rolando (em sigilo) há algum tempo e sem a
banda saber e, quando finalmente houve uma resposta (ou convite), Eloy avisou
que estava de partida. Creio que, por uma ironia do destino, esse “timming” foi
o pior possível, fazendo com que parecesse que Eloy estava abandonando o
Sepultura, sem mais nem menos, num momento meio que crucial para a banda.
Analisando friamente, é aquela oportunidade de emprego dos
sonhos, que não tem hora certa para aparecer, mas quando surge, você não pode
deixar passar. E essa surpresa nem sempre te dá tempo de fechar devidamente um
ciclo para começar outro. O fato do Sepultura estar numa tour de despedida já
dava uma razão para a saída: afinal, a “empresa” atual já estava com dia e hora
marcados para fechar as portas. Além disso, o encolhimento estrutural e
artístico do Sepultura depois da Saída de Max Cavalera (lembrando que o Igor
saiu 10 anos depois) redefiniu o tamanho da banda do cenário mundial, fazendo-os
regredir a um patamar por onde a banda já havia estado, com shows e tours
menores, isso sem mencionar a relevância na cena como um todo. Já o Slipknot,
cuja história se inicia em 1995, quase que paralelamente ao fim da fase
clássica do Sepultura (1996), se transformou numa banda mundialmente
gigantesca, embalada pelo boom do New Metal na década de 90. Em termos de
relevância e tamanho, é uma banda comparável ao Metallica, lotando estádios e tendo
grande penetração no público jovem. Para se ter uma idéia, o Slipknot, tal qual
o Metallica, já deu ao luxo de ter um festival próprio: enquanto o Metallica
teve seu Orion Festival entre os anos de 2012 e 2013, e o Slipknot tem o seu
Knotfest ativo até hoje, desde 2012.
Não é a primeira vez que músicos brasileiros aproveitam
oportunidades únicas em bandas estrangeiras, e isso é algo que deve ser
celebrado. Afinal de contas, esse reconhecimento externo, mesmo com o mercado
de lá recheado de bons músicos, é a prova de que o cenário nacional é profílico
em termos de talento. Para quem não lembra, Aquiles foi convidado para teste no
Dream Theater quando da saída de Mike Portnoy. Não entrou, mas teve a
visibilidade necessária para outros convites, tanto que já tocou com Tony
MacAlpine (antes mesmo do teste no DT) e ainda é baterista há alguns anos nas
tours do W.A.S.P., do folclórico Blackie Lawless. Andreas Kisser quase foi
parar no Metallica (sim, meus amigos, isso foi foda!) quando do acidente
pirotécnico de James Hetfield na tour com o Guns n Roses na década de 90,
perdendo a vaga apenas para o Roadie do James, que já era da casa... Depois
disso, efetivamente tocou no Anthrax substituindo temporariamente Scott Ian que
precisou se afastar um tempo da banda. O caso mais recente é de Kiko no
Megadeth, que para tal acabou tomando a decisão de abandonar o Angra, onde
esteve desde sua fundação e fez história.
Um outro fator que coloco nessa equação de músicos brasileiros
no exterior, mas que pouco se releva nos debates, é a estrutura e o tamanho da
indústria do Metal nacional. Embora tenha havido uma enorme evolução do seu
início na década de 80, definitivamente ainda não conseguimos nos igualar ao
que é praticado no exterior. E isso também engloba o público e o consumo de música
como um todo: mídias (física e digital), livros, revistas, shows, merchandising
e etc., ou seja, todo o suporte que as bandas necessitam para continuarem a
existir. Infelizmente ainda nos deparamos com shows internacionais cheios e bandas
locais lutando para conseguir sair dos circuitos nos grandes centros, sem
conseguir expandir seus horizontes. Como ainda não temos uma cena forte,
qualquer oportunidade gringa acaba se mostrando uma escolha quase óbvia, exatamente
como o Eloy acaba de fazer.