domingo, 22 de novembro de 2020
quarta-feira, 18 de novembro de 2020
Isso Não é Direito
Modéstia à parte, acredito que dons premonitórios me permitiram escrever dois textos (estes aqui de Agosto/2018 e Abril/2019 - clique nos links para lê-los) que, juntos desse aqui, formarão a trilogia que poderei tranquilamente chamar de “Eu Já Sabia Que Isso Ia Dar Merda”. Quem já leu essas postagens já sabe minha opinião e que fatalmente falarei aqui da confusão arrumada por Edu Falaschi e sua carreira “solo”, que neste ano culminou com o lançamento do DVD/Blu-Ray “Temple of Shadows In Concert”, gravado em Abril de 2019 no Tom Brasil, em SP. Caso você ainda não saiba, este é o resultado de uma tour onde Falaschi reproduz o clássico “Temple of Shadows” do Angra na íntegra e com o apoio de uma orquestra. Consumada a tour e o registro ao vivo, foi instaurada uma verdadeira celeuma legal em torno desse lançamento, uma vez que ele já foi saiu no Japão, mas não por aqui no Brasil. O motivo disso seria Rafael Bittencourt, guitarrista e líder do Angra, que teria “barrado” o lançamento por conta de uma série de questões envolvendo direitos autorias que foram infrigidos nesse lançamento. Na esteira disso, em meio a versões diferentes e conflitantes de ambos os lados, um monte de sujeira foi retirada de debaixo do tapete e devidamente jogada no ventilador.
Antes de tudo, um pequeno resumo: Depois de sua saída do Angra, Edu investiu no Almah, sua banda solo. Depois de 5 (bons) albuns lançados sem a mesma repercussão dos tempos do Angra, teve uma inspiração divina por intermédio de Joe Lynn Turner , que o aconselhou a cantar as musicas de sua ex-banda sob a chancela de uma nova carreira, desta vez como cantor solo. Com a boa repercussão de resgatar músicas já consagradas, a coisa foi crescendo e culminando com o referido DVD. Mas no meio do caminho tinha uma pedra... que se chamava direito autoral.
Para entender a dimensão do problema, basta uma olhada detalhada sobre os créditos do “Temple of Shadows”, 5º disco do Angra, lançado em setembro de 2004. Logo de cara, todas as letras são de autoria exclusiva do Rafael Bittencourt, com a maior parte das músicas compostas pela dobradinha Rafael/Kiko. Em termos de participação, Edu compôs apenas uma música sozinho – mas com letra do Rafael, conforme dito acima – e participou da composição de outra três faixa em conjunto com Rafael e/ou Kiko.
Nº |
Título |
Música |
Duração |
|
1. |
"Deus Le Volt!" |
|
0:52 |
|
2. |
"Spread Your Fire" |
Edu Falaschi, Kiko Loureiro |
4:25 |
|
3. |
"Angels and Demons" |
Edu Falaschi, Kiko Loureiro |
4:10 |
|
4. |
"Waiting Silence" |
Rafael Bittencourt, Kiko Loureiro |
4:55 |
|
5. |
Edu Falaschi |
3:59 |
||
6. |
"The Temple of Hate" |
Kiko Loureiro |
5:13 |
|
7. |
"The Shadow Hunter" |
Rafael Bittencourt, Kiko Loureiro |
8:04 |
|
8. |
"No Pain for the Dead" |
Kiko Loureiro, Rafael Bittencourt |
5:05 |
|
9. |
"Winds of Destination" |
Rafael Bittencourt, Kiko Loureiro |
6:56 |
|
10. |
"Sprouts of Time" |
Kiko Loureiro |
5:09 |
|
11. |
"Morning Star" |
Rafael Bittencourt, Kiko Loureiro |
7:39 |
|
12. |
"Late Redemption" |
Rafael Bittencourt , Kiko Loureiro |
4:55 |
|
13. |
"Gate XIII" |
Kiko Loureiro, Rafael Bittencourt, Edu Falaschi |
5:03 |
|
Duração total: |
66:60 |
Fonte: Wikipédia
Não é necessário ser nenhum expert para perceber que cerca de 90% do disco foi composto pelo Kiko e pelo Rafael, e que o uso desse material não seria na base de “tocar e gravar”. Apesar das versões divergentes, ao parece Edu Falaschi errou no registro das músicas e consequentemente na distribuição de direitos, além de haver deixado Rafael – aí em termos de amizade – de fora do processo todo, não o havendo convidado para assistir ao show que gerou o DVD e pior, sequer enviou o material pronto para que ele pudesse ver o resultado final. Fica a dúvida se houve ingenuidade ou má fé de Falaschi, ou se Rafael está puramente sendo ranzinza frente ao sucesso da empreitada. Independentemente de quem está certo, mesmo porque isso é coisa muito específica para os envolvidos e advogados resolverem, o circo está armado e pelo visto este relacionamento entre ex-companheiros de banda azedou de vez. Mas, retornando à chamada vaca fria, fica claro o equívoco de Edu Falaschi em classificar como solo uma carreira onde ele canta música dos outros, ainda que com alguma (ou pouca) participação sua. Apenas reforçar este conceito, em “Rebirth”, sua estréia na banda em 2001, também existe o mesmo grau de composições do Edu frente ao material total, se comparado ao TOS.
E o mais estranho de tudo isso é Falaschi está no estúdio gravando seu novo álbum solo! Ou seja: voltará ao ponto onde gravará músicas inéditas, tal qual fazia com o Almah. Logicamente, existe a chance de que o material, independentemente da qualidade, tenha a mesma repercussão que havia na época do Almah e que, segundo o próprio, já havia atingido um teto. Fica a questão se teremos aí uma cópia do Angra, na mais pura essência, pois seria o que justificaria a tal “carreira solo”, que seria tão diferente do Almah e muito mais bem sucedida. A única coisa certa é que depois dessa dor de cabeça toda, Falaschi não chegará nem perto dos demais álbuns do Angra em que tocou (“Aurora Consurgens” de 2006 e “Aqua” de 2010) que não são emblemáticos quantos os dois primeiros em que participou: não valeriam o risco...
Para quem tiver curiosidade, seguem os links de duas entrevistas esclarecedoras: uma do Rafael e outra do Edu, cada qual contando sua versão para o imbróglio:
Time is Money! Time is Metal!
1º Ponto: Quando Jeff Hanneman faleceu em 2013, ainda houve gente que ficasse consternada pelo fato da banda não haver acabado ali mesmo: afinal de contas, a formação original havia perdido um membro, e mais: um dos principais compositores. Entretanto, bandas são empresas – queiram os fãs ou não – e compromissos previamente assumidos devem ser cumpridos. Com isso, não demorou para a banda se reestruturar e continuar com Gary Holt assumindo as seis cordas ao lado de Kerry King. Partindo desse conceito, também se conclui que o Slayer e as bandas de um modo geral, assim como as empresas, representam empregos e dinheiro envolvido. E como se diz no meio empresarial, “tempo é dinheiro!”, o que justifica a rapidez em resolver qualquer questão que represente a paralisação das atividades.
2º Ponto: Com a Nervosa não foi diferente, uma vez que a banda passou por uma ruptura na formação, onde 2/3 da banda saíram para fundar um novo grupo. E detalhe: em meio a pandemia que parou o mundo. O que parecia ser algo inesperado e de difícil solução a curto prazo, teve resposta do que restou da banda – a fundadora Prika Amaral – mostrando que não era o fim do mundo, ou melhor, da banda. Em pouco menos de seis meses, a Nervosa se reestruturou como um quarteto, já lançou 2 clipes/singles e em Janeiro do ano que vem lança o novo álbum, que já está finalizado. Ficou claro que a situação interna que culminou no racha já vinha se desenhando há algum tempo e que a ruptura não foi surpresa para as envolvidas. Mais do que isso, já havia plano B em andamento, na expectativa apenas do inevitável.
3º Ponto: Respondendo a um comentário feito no Instagram da Fernanda Lira por um fã, a pessoa me questionou a certa altura, quando mencionei que a Crypta havia ficado para trás ao não apresentar material novo até o momento: “No entanto, existe algum tipo de competição?"
Colocados estes 3 pontos iniciais, o quero demonstrar é que ainda existe uma certa ingenuidade e até romantismo dos fãs com relação às bandas, fazendo com que eles não enxerguem as entre linhas de certas situações. O questionamento sobre a existência de competição mostra uma linha de raciocínio pura: as bandas são diferentes e apesar da ligação entre elas pela Nervosa como trio, cada uma tem seu tempo e não existe a necessidade de mostrar serviço “para ontem”. Ledo engano, pois essa necessidade existe sim, assim como uma competição velada, que ninguém vai admitir, mas que ninguém quer perder. O caso da Nervosa é excelente para corroborar esta afirmativa pelo simples fato de que Prika não só já reformou a banda, mas também mostrou um resultado muito, mas muito acima do que o Nervosa com Fernanda e Luana havia conseguido até então.
É óbvio que vão haver comparações: os fãs e todos que ouvirem as duas bandas, assim que possível for, vão falar que uma é melhor, mais pesada, mais lenta, mais Death e menos Thrash, mais Thrash e menos Death e por aí vai. O que acontece é que quem ouvia a Nervosa, vai fazer do som antigo com o novo. Ao já mostrar um material aos fãs, mesmo que na forma de duas músicas apenas, conseguiu deixar todos de boca aberta. Já tive a oportunidade de ver vários “reacts” no YouTube (Ok, isso não quer dizer nada, concordo) e curiosamente todos foram unânimes em elogiar a faixa “Guided By Evil”, a primeira a ser lançada. Realmente a música é muito, mas muito boa, causando uma ótima primeira impressão e uma grande expectativa pelo álbum. A segunda “Perpetual Chaos”, faixa título do álbum, foi lançada hoje, e só pude ouvir uma vez. Mesmo assim, me pareceu ser outra pedrada muito boa.