Ao que parece, o Metallica quis justificar a longa espera
desde o lançamento de “Death Magnetic” (2008), ao lançar, após 8 anos (!), não
apenas um disco, mas um álbum duplo com 12 composições e quase 80 minutos de
material inédito. Vários fatores que vão além da longa espera tornam este
lançamento mais significativo ainda, como por exemplo os diversos formatos em
que ele foi lançado (edições diferenciadas), o forte Marketing envolvendo seu
lançamento e o uso massivo da Internet – vide o fato de que cada uma das 12
músicas teve um clipe lançado(!) no YouTube.
Não é preciso nem dizer esse Marketing todo deu resultados e o disco já
aparece bem colocado em vários charts mundo afora. Afinal de contas, o
Metallica já deixou o underground há muito tempo, navegando hoje em águas onde
somente grandes bandas, como U2 e Iron Maiden, ousam flutuar. Mas, e o disco? Justifica
o alvoroço?
A banda numa pose extremamente "underground" |
Não é preciso nem dizer que os combates sangrentos entre fãs
e “haters” já começou na Internet: uma parte adorou, dizendo que o Metallica
renasceu e trouxe consigo a aura dos primeiros álbuns; outros alegam que se
trata de mais do mesmo, que a banda não tem mais pegada e por aí vai. Lars
Ulrich é um detalhe à parte, com uns exaltando sua performance, outros
criticando até não poder mais. Antes de dar minha opinião, deixo claro que
concordo os dois lados, não por ser indeciso, mas porque ambos estão certos. O
Metallica de hoje não é o fundo do poço, mas também não é o salvador da pátria.
Aliás, ninguém do Big Four, para dar um exemplo de impacto, é mais como era
antigamente. O tempo passou, a idade chegou com pesos diferentes para cada um,
e o direcionamento das bandas também sofreu mudanças. Ainda que lançando bons
trabalhos, nenhum deles repetirá a inovação e o frescor de sua música da mesma
maneira que nos 80´s. Com isso, novos trabalhos podem sim ser relevantes,
impactantes, mas não inventarão a roda novamente. E é isso que também ocorre
com o novo do Metallica.
Antes de mais nada, este novo álbum padece do mesmo problema
dos “Load´s”: álbum de estúdio duplo – sim os dois “Loads” seriam sim um álbum
duplo - mas a gravadora barrou a ideia na época, fazendo com que os lançamentos
fossem simples e separados. Sábia decisão, pois a combinação muitas músicas + muito
tempo de duração = qualidade irregular. É claro que existem lançamentos que refutam
essa minha afirmação, mas a maioria se dá mal quando adota esta tática... Quem
sabe apreciar os “Load´s” (como eu, admito) há de concordar que os dois discos,
se unificados com as melhores músicas, dariam um puta disco, mesmo com a
pegada mais Rock n´Roll não muito comum à banda. Com isso, “Hardwired...” também
é longo demais e em vez de doze, se daria muito bem com menos faixas, condensadas em menos tempo. De cara, pelo menos 4 faixas
desse trabalho são perfeitamente descartáveis. Antes que você, caro leitor, me
xingue, permita-me apenas levantar uma questão crucial para reflexão: preste
atenção se algumas faixas não estão calcadas na pegada dos “Load´s”, os discos
que, atrás somente do “St. Anger”, são os mais execrados da banda...
Mas vejamos:
Das excelentes, 4 saltam aos olhos: “Hardwired...”, “Spit out the Bone”, “Here
Comes Revenge” e “Murder One”. As duas primeiras obviamente pela pegada mais
Thrash e mais saudosista. O detalhe é que elas só não são melhores ainda por
que Lars Ulrich está lá sentado naquele banquinho da bateria, mas falo mais sobre
isso mais a frente. “Here Comes Revenge” é mais cadenciada e sensacional, com
um riff espetacular e um refrão muitíssimo bem encaixado. O único porém é a
marcação de bateria de Lars no início da música que é igual, igual a “Lepper
Messiah”(autoplágio?). Curiosamente, também achei o melhor clip entre os doze
feitos. “Murder One”, também com ritmo mais arrastado, fecha os quatro momentos
espetaculares do disco. Vale salientar que o clip desta presta uma bela
homenagem ao grande Lemmy.
Nos bons
momentos, temos “Now That We´re dead” e “Moth Into Flame”. A primeira
destaca-se pela intro diferente, sem Lars fazendo as mesmíssimas marcações na
caixa, mas como disse, falarei do ruinzinho, quer dizer, baixinho mais para a
frente. A faixa tem um estilo Load/Reload e o solo é bem bacana (uma raridade
no álbum...) A segunda mostra a busca do
Metallica por refrões de impacto, como conseguido no Black Album. Nesta faixa
em especial, foi que ficou legal, além da alternância de cadência e partes
rápidas, com resultado satisfatório.
Metade do disco é bacana, mas a outra... “Atlas, Rise!” e
“Confusion” são regulares. “Confusion”, em particular, é mais um caso - talvez
poucos tenham percebido - de autoplágio. Neste caso, “Cyanide” do “Death
Magnetic”. A estrutura da música é a mesma, com os versos em cima de uma base
cadenciada, calcada num riff bem destacado (que aqui é legal até), mas que muda
no refrão. Não precisa muito para se perceber a semelhança das músicas. A
diferença que o refrão de “Cyanide” é bacana, mas o daqui é bem chatinho.
As quatro restantes são realmente fraquíssimas: “Halo on
Fire” tem outro autoplágio (!), pois na qualidade de ser a semi-balada do
disco, puxa o riff do meio de outra semi balada, “The Day That Never Comes” do
“Death Magnetic”. Ouça e me diga se não são irmãs. Em tempo, esta aqui também
tem refrão chato. A trinca “Am I Savage”, “Dream no More” (linha vocal
horrível) e “ManUnkind” tem forte apelo Load/Reload, mas lembram o material
ruim daqueles discos. Aliás, novamente digo: chega a ser curioso como parte das
músicas deste disco tem influência de um material passado da banda que foi e
até hoje é criticado, mas que aqui ganharem elogios...
Já mencionei que Lars não ajuda muito, certo? E não ajuda
mesmo, uma vez que sua criatividade e uso de recursos são limitados, tornando
as músicas previsíveis e pouco interessantes neste aspecto. Quer um exemplo:
1/3 das músicas deste álbum começam com marcações de caixa, e não é de hoje que
ele faz isso com frequência. Quer outro? Não há uma música sequer em que ele
faça uso do Ride, ou prato de condução. Para quem não sabe o que é, ouça a
última vez em que ele fez isso em “Until It Sleeps”, do “Load”. Outra coisa:
não espere encontrar em nenhum lugar destes 80 minutos, viradas de bateria que
te deixem de queixo caído...
No fim das contas, é muito mais que um St. Anger, melhor
gravado do que um “Death Magnetic”, mas não chega aos pés de um Kill Em´All”.
Se você gostar do CD todo, ok. Se não, o bom dos dias de hoje é que você pode
ter as músicas separadas (ITunes ou YouTube, por exemplo), pois aí você pega as
melhores. Em qualquer opção, não será dinheiro ou tempo jogado fora, mas
definitivamente não é o investimento num clássico ser lembrado por gerações
futuras.
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