Finalmente descobri a razão do Lars Ulrich ser um baterista
tão criticado: ele é o Peter Criss! Chocante, não? Infelizmente é a verdade, e
descobri isso enquanto ouvia a música nova do Metallica, “The Lords of Summer”
(que titulozinho esse...), amplamente divulgada na Internet essa semana. A
musica – que tem um riff inicial espetacular, cortesia do gênio e grande
guitarrista base que James Hetfield é – não é ruim, mas também não saiu melhor porque
Lars Ulrich cismou que é o Peter Criss, e pra isso, ser um músico virtuoso não
é exatamente o objetivo de vida dele na carreira nos dias de hoje... Para que não fique apenas nas minhas palavras, segue a versão de estúdio, mas me diga se não tenho razão nas linhas mal escritas abaixo...
Não é de hoje que Lars Ulrich é criticado e mais malhado do
que Judas por conta de sua performance tanto em estúdio, quanto ao vivo. Já
escrevi sobre o assunto em outras oportunidades, mas com essa música nova,
surgida na sequência de um álbum que foi a redenção para a banda (“Death
Magnetic”, de 2008), me deu uma certa expectativa se a banda voltaria mais
furiosa e com um acento ainda maior do Thrash do passado, o que infelizmente não
ocorreu. E detalhe: não vai ocorrer mais, pelo menos enquanto Lars Ulrich for o
baterista do Metallica. Como disse no início do texto, hoje ele está para o
Metallica, como Peter Criss era para o Kiss: um membro original, mas com
extrema limitação técnica.
É claro que as situações não são exatamente iguais, mas a
similiridade é grande. Peter Criss, baterista original do Kiss, deu a sorte de
estar no lugar certo, na hora certa. Entrou para a banda que mudaria os rumos
do Rock da época, fez sucesso, fez milhões, tudo isso em troca de uma bateria
extremamente medíocre (tudo bem que o som do Kiss não era complexo e técnico,
mas imaginem um John “Bonzo” Bonham maquiado e descendo a lenha naquele kit!).
Outra diferença é que Peter Criss apitava muito pouco ou quase nada no
direcionamento do grupo, uma vez que isto ficava ( e ainda fica) a cargo dos
sócios Genne Simons e Paul Stanley – ao passo que Lars comanda o leme do Metallica
desde o início. A realidade é que as
drogas tiraram Peter Criss do Kiss – e em mais de uma oportunidade, diga-se de
passagem – uma vez que sua atuação era satisfatória para o que o som pedia, não
demandando que um baterista técnico demais estivesse atrás das baquetas.
Entretanto, para quem curte batera, como eu, era e é difícil ver alguém como
ele tocando: basta pegar os vídeos antigos da banda e ver quão simplória era
sua técnica. Mas me dói mesmo ouvir uma das minhas músicas preferidas (“God of
Thunder”, versão ao vivo no “Alive II”) ser interrompida para um dos mais
bisonhos solos de bateria já feitos na história do Rock. Os anos se passaram e,
depois de vários chutes na bunda, Eric Singer (esse sim baterista de verdade)
assumiu o comando das baquetas do Kiss e hoje ele segue feliz, soando muito
melhor do que no passado. No caso de dúvida, basta comparar o desempenho de
ambos no acústico da MTV, onde os dois tocam separados e depois juntos no mesmo
show.
Voltando ao Lars Ulrich, fica muito difícil vê-lo fora do
Metallica, com um outro baterista em seu lugar, mesmo de técnica superior, por
várias razões.
A primeira, o fato de ser um membro fundador - lembrem-se
que a formação clássica foi diferente da
inicial e só apareceu no “Kill ‘Em All”, já algum tempo depois , face as saídas
de Ron McGovey e de Dave Mustaine . Isto pesa muito, uma vez que ele e James
Hetfield formaram o embrião do grupo e o carregaram nas costas de desde então,
ou seja, desde os idos dos anos 80.
A segunda razão, gira em torno do fato do Metallica ter três
albuns simplesmente essenciais e revolucionários dentro da música pesada, com
Lars sendo participante ativo da composição deles. Se você hoje pode ouvir
hinos como “Hit the Lights”, “Creeping Death” ou “Damage Inc”, agradeça a
inspiração dele com Hetfield, e num segundo plano, com uma participação (menor),
de Kirk Hammet e Cliff Burton Estes
álbuns foram lançados no ápice do Thrash americano, em especial no movimento
que se formou na Bay Area onde diversas bandas ajudaram a moldar o estilo
seguindo os passos de Slayer, Exodus e, claro, do Metallica.
A terceira razão, assim como Gene e Paul no Kiss, Lars
transformou sua banda num negócio milionário, capaz de pagar a um novo
integrante, recém chegado (Rob Trujillo,
baixo), a título de motivação, a bagatela de 1 milhão de dólares(!). Quem
quiser conferir esse momento mágico – para Rob Trujillo, é claro – basta checar
o documentário “Some Kind of Monster”, que retrata a época nebulosa da saída de
Jason Newsted, a gravação de “St Anger” entre outros dramas que a banda sofria
naquele período. Em suma, Lars, além de baterista, é o homem de negócios da
banda, o que para mim, numa opinião particular, é a causa da sua queda de
rendimento.
Se olharmos bem, dos
primeiros anos da banda até o período do ao vivo “Live Shit: Binge and Purge”,na
turnê do Black Album , veremos que Lars ainda era um batera competente, com
parte disso devido ao entusiasmo e desenvoltura com que ele tocava, algo muito
diferente da postura reta e monótona de hoje. A partir do Black Album, banda
começou a vender milhões de cópias e se tornar gigante no mundo todo, atingindo
o tão sonhado “mainstream”. Note-se que, depois do sucesso desse disco, a banda
soltou na sequência dois discos que foram sinônimos, entre outras coisas, de
simplicidade do som. “Load”e “Reload” abraçaram uma veia mais Rock n´Roll e
deixaram muito de lado o Thrash Metal de outrora, mostrando uma banda muito
diferente, inclusive no visual. Foi o começo do fim para Lars, que dali para a
frente apresentou uma decrescente de performance, principalmente ao vivo, onde começou
a mudar os arranjos das músicas mais antigas, tornando-as mais simples de uma
maneira muito negativa. Nas mais velozes, era (e ainda é) nítida a sua
dificuldade em manter a pegada com dois bumbos. Um detalhe interessante (e que
os bateristas entenderão) é que Lars simplesmente aboliu do seu kit qualquer
prato de condução, tirando a identidade de músicas com “Hits the Lights” (toda)
ou “No remorse” (o final, a parte rápida).
É óbvio que a banda ainda move multidões, lota estádios,
mesmo com Lars fazendo seu arroz com feijão, tal qual o Kiss fazia com Peter
Criss no passado. Entretanto, é impossível não pensar como seria a banda
(principalmente) ao vivo, com um baterista melhor. Qualquer músico que se
preze, baterista então, não pode se dar ao luxo de relaxar em termos de
técnica, a menos que seja um Neil Peart ou um Mike Portnoy da vida (esses não
são desse planeta!). Ao ouvir essa música nova, fica claro que a banda até
tenta resgatar o passado e fazer algo
mais “Old School”, mas vai empacar no eu baterista, que optou pelos
negócios e hoje é melhor contando dinheiro do que dando viradas no seu
instrumento. Alguém falou em Dave Lombardo aí?
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