Acredito que qualquer um, pelo menos uma vez na vida, já se perguntou a razão da imprensa veicular algumas coisas da maneira que faz. Para me fazer entender, basta pensar em algo que é tido como um sucesso enorme, quando na realidade você não conhece ninguém que goste daquilo, ou então alguma história que, por alguma razão, você sabe que foi totalmente o inverso do que foi noticiado e etc. Toquei neste assunto porque mesmo no Metal isso acontece. Entendam, não estou desmerecendo a imprensa em nenhum âmbito, mas me parece que, ás vezes, a vontade de fazer acontecer é maior do que a vontade de informar a realidade, pelo menos com a imprensa especializada em Heavy Metal aqui no Brasil.
Sepultura e Angra, dois medalhões do Metal nacional, vem, já há algum tempo, fazendo uma turnê em conjunto pelo país. Até aí tudo bem, o problema é a visão que a mídia passa sobre o momento de ambas as bandas, que ao meu ver não é tão positivo como dizem. Começando pelo Sepultura, o caso mais crítico dos dois: certa vez escrevi para a revista Roadie Crew e tive meu e-mail publicado (só não me lembro o número), onde falei sobre a banda e o disco lançado na época – se não me engano o “Nation” – e questionei sobre o medo da imprensa em dizer que a banda estava uma merda. Como resposta, tive o argumento da banda estar se reestruturando e ainda mantendo, mesmo num estilo diferente, a chama do Sepultura acesa, mesmo sem Max Cavalera. Até hoje não me dei por satisfeito, e me lembro sempre disso ao ver as matérias que se seguiram aos discos seguintes, na minha opinião ruins de doer. E olha que comprei alguns e tentei ouvi-los por diversas vezes (aquele “Against” é inominável de ruim), mas acabei por me desfazer deles simplesmente por serem fraquíssimos. Deixando minha opinião de lado, é notório que a banda perdeu muito com a saída de Max, mudou o estilo, contratou um novo vocal e pior, ficou com apenas uma guitarra. O Thrash de outrora deu lugar a um som simplório, quase Hardcore, mas sem nenhuma inspiração. Os riffs maravilhosos do passado sumiram, com Andreas Kisser fazendo apenas bases pobres e solos idem. Ao vivo, era óbvia a perda em presença de palco e carisma, mesmo com um esforçado Derrick Green a frente. Entretanto, me cansei de ver matérias dizendo que a banda estava arrasadora e que mantinha o pique ao vivo mesmo na nova fase. Só um detalhe passou desapercebido: as turnês internacionais diminuíram em muito (para se ter uma idéia, o Sepultura nunca tocou num Wacken, por exemplo), vendas de discos idem, ao passo que Max e seu Soulfly se tornaram gigantes nos EUA e Europa. Recentemente, Max conseguiu uma repercussão ainda maior ao fazer os dois últimos álbuns do Soulfly na linha do Sepultura tradicional, abandonando os experimentalismos da fase Roots, absoluta nos primeiros discos. Além disso, o projeto Cavalera Conspiracy, ao lado irmão Igor, só fez reforçar o que todo mundo sabe, mas nem todo mundo diz: os dois irmãos eram a força motriz que movia o Sepultura, e que o fez ser grande como foi no passado.
No caso do Angra, a situação é levemente diferente, mas com o mesmo tema central: mudanças na formação. A saída de André matos, Luis Mariuti e Ricardo Confessori deu lugar a novos membros: o (sensacional) baterista Aquiles Priester, o baixista Felipe Andreoli e o (duvidável) vocalista Edu Falaschi. Após a mudança, foi lançado o sensacional (sim, o disco é muito foda) “Rebirth”, onda a banda conseguiu uma ressurreição gloriosa após os problemas internos. Ao contrário do Sepultura, não mudou seu estilo, mantendo-se no tradicional melódico, mostrando certa evolução até. O grande problema que viria a surgir – e que não era perceptível em estúdio – era o desempenho do vocalista Edu Falaschi. Com um timbre de voz não tão agudo e poderoso como seu antecessor André Matos, Edu foi gradativamente tendo seu desempenho ao vivo questionado pelos fãs (basta dar uma checada nos inúmeros vídeos disponíveis no YouTube mostrando as escorregadas fenomenais dadas por ele). Para alimentar a polêmica, a desculpa do vocalista foi um período adoentado na turnê do álbum “Temple of Shadows” (se não me engano), e daí sua queda de desempenho. O problema é que o tempo passo e a coisa continua, mas a imprensa persiste em rasgar elogios ao nosso amigo, na maior cara dura. O ápice da coisa todo se deu recentemente no programa “Altas Horas”, na Rede Globo, onde Angra e Sepultura tocaram juntos tocaram uma música do Led Zeppelin (“Immigrant Song”): é constrangedor ver Edu Falaschi fazendo os gritos de Robert Plant. Se não acredita, veja o vídeo aqui.
Resumindo a história toda, é fato que o Brasil anda carente de grandes nomes após a fase de explosão do Sepultura e seu fim em 1997. Desde então, nenhuma banda conseguiu tanta repercussão e mais, influência no cenário mundial. Ainda que o Angra na fase de André Matos também tenha se tornado gigante lá fora – leia-se Europa, pois o melódico não tem tanta penetração nos EUA – tinha o revés de navegar numa cena infestada de bandas do mesmo estilo, ao passo que o Sepultura conseguiu inovar e ser tornar referência. Além dessas duas bandas, talvez somente o Sarcófago tenha conseguido este resultado, apesar de não haver feito turnês internacionais na mesma medida, estando mais num patamar de banda “cult”. Entretanto, é reverenciado até hoje na cena extrema mundial. Atualmente, apenas o Krisiun segue firme numa carreira internacional bem sucedida. Apesar do inegável talentos deles, a verdade é que nada os diferencia da infindável quantidade de bandas de extreme Death Metal no mundo.
Talvez essas sejam as razões para a imprensa se apegar tanto ao passado, em detrimento do presente. Admitir que Sepultura e Angra já não são mais o que foram antes seria admitir que a cena Brasileira já não é tão promissora. Na minha opinião, nossa cena é sim promissora, mas a verdade é que as facilidades tecnológicas de hoje permitem que qualquer um grave sozinho um CD inteiro, o que gera o paradoxo “quantidade x qualidade”. Desse modo, podemos observar hoje uma oferta de bandas como nunca vimos antes. É até difícil ficar em dia com tudo que sai a cada dia. Se destacar nesse cenário é difícil, pois todos dispõem, proporcionalmente, dos mesmos recursos e chances. O diferencial, mais do que nunca, se volta para o talento e novidade (isso ainda é possível?), coisa que muitos Angras e Sepulturas da vida não têm mais. Só falta a mídia reconhecer isso.
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