quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Isso Não é Direito

Modéstia à parte, acredito que dons premonitórios me permitiram escrever dois textos (estes aqui de Agosto/2018 e Abril/2019 - clique nos links para lê-los) que, juntos desse aqui, formarão a trilogia que poderei tranquilamente chamar de “Eu Já Sabia Que Isso Ia Dar Merda”. Quem já leu essas postagens já sabe minha opinião e que fatalmente falarei aqui da confusão arrumada por Edu Falaschi e sua carreira “solo”, que neste ano culminou com o lançamento do DVD/Blu-Ray “Temple of Shadows In Concert”, gravado em Abril de 2019 no Tom Brasil, em SP. Caso você ainda não saiba, este é o resultado de uma tour onde Falaschi reproduz o clássico “Temple of Shadows” do Angra na íntegra e com o apoio de uma orquestra. Consumada a tour e o registro ao vivo, foi instaurada uma verdadeira celeuma legal em torno desse lançamento, uma vez que ele já foi saiu no Japão, mas não por aqui no Brasil. O motivo disso seria Rafael Bittencourt, guitarrista e líder do Angra, que teria “barrado” o lançamento por conta de uma série de questões envolvendo direitos autorias que foram infrigidos nesse lançamento. Na esteira disso, em meio a versões diferentes e conflitantes de ambos os lados, um monte de sujeira foi retirada de debaixo do tapete e devidamente jogada no ventilador.

Antes de tudo, um pequeno resumo: Depois de sua saída do Angra, Edu investiu no Almah, sua banda solo. Depois de 5 (bons) albuns lançados sem a mesma repercussão dos tempos do Angra, teve  uma inspiração divina por intermédio de Joe Lynn Turner , que o aconselhou a cantar as musicas de sua ex-banda sob a chancela de uma nova carreira, desta vez como cantor solo. Com a boa repercussão de resgatar músicas já consagradas, a coisa foi crescendo e culminando com o referido DVD. Mas no meio do caminho tinha uma pedra... que se chamava direito autoral.

Para entender a dimensão do problema, basta uma olhada detalhada sobre os créditos do “Temple of Shadows”, 5º disco do Angra, lançado em setembro de 2004. Logo de cara, todas as letras são de autoria exclusiva do Rafael Bittencourt, com a maior parte das músicas compostas pela dobradinha Rafael/Kiko. Em termos de participação, Edu compôs apenas uma música sozinho – mas com letra do Rafael, conforme dito acima – e participou da composição de outra três faixa em conjunto com Rafael e/ou Kiko.

Título

Música

Duração

1.

"Deus Le Volt!"  

 

0:52

2.

"Spread Your Fire"  

Edu Falaschi, Kiko Loureiro

4:25

3.

"Angels and Demons"  

Edu Falaschi, Kiko Loureiro

4:10

4.

"Waiting Silence"  

Rafael Bittencourt, Kiko Loureiro

4:55

5.

"Wishing Well"  

Edu Falaschi

3:59

6.

"The Temple of Hate"  

Kiko Loureiro 

5:13

7.

"The Shadow Hunter"  

Rafael Bittencourt, Kiko Loureiro

8:04

8.

"No Pain for the Dead"  

Kiko Loureiro, Rafael Bittencourt

5:05

9.

"Winds of Destination"  

Rafael Bittencourt, Kiko Loureiro

6:56

10.

"Sprouts of Time"  

Kiko Loureiro 

5:09

11.

"Morning Star"  

Rafael Bittencourt, Kiko Loureiro

7:39

12.

"Late Redemption"  

Rafael Bittencourt , Kiko Loureiro

4:55

13.

"Gate XIII"  

Kiko Loureiro, Rafael Bittencourt, Edu Falaschi

5:03

Duração total:

66:60

Fonte: Wikipédia

Não é necessário ser nenhum expert para perceber que cerca de 90% do disco foi composto pelo Kiko e pelo Rafael, e que o uso desse material não seria na base de “tocar e gravar”. Apesar das versões divergentes, ao parece Edu Falaschi errou no registro das músicas e consequentemente na distribuição de direitos, além de haver deixado Rafael – aí em termos de amizade – de fora do processo todo, não o havendo convidado para assistir ao show que gerou o DVD e pior, sequer enviou o material pronto para que ele pudesse ver o resultado final. Fica a dúvida se houve ingenuidade ou má fé de Falaschi, ou se Rafael está puramente sendo ranzinza frente ao sucesso da empreitada. Independentemente de quem está certo, mesmo porque isso é coisa muito específica para os envolvidos e advogados resolverem, o circo está armado e pelo visto este relacionamento entre ex-companheiros de banda azedou de vez. Mas, retornando à chamada vaca fria, fica claro o equívoco de Edu Falaschi em classificar como solo uma carreira onde ele canta música dos outros, ainda que com alguma (ou pouca) participação sua. Apenas reforçar este conceito, em “Rebirth”, sua estréia na banda em 2001, também existe o mesmo grau de composições do Edu frente ao material total, se comparado ao TOS. 

E o mais estranho de tudo isso é Falaschi está no estúdio gravando seu novo álbum solo! Ou seja: voltará ao ponto onde gravará músicas inéditas, tal qual fazia com o Almah. Logicamente, existe a chance de que o material, independentemente da qualidade, tenha a mesma repercussão que havia na época do Almah e que, segundo o próprio, já havia atingido um teto. Fica a questão se teremos aí uma cópia do Angra, na mais pura essência, pois seria o que justificaria a tal “carreira solo”, que seria tão diferente do Almah e muito mais bem sucedida. A única coisa certa é que depois dessa dor de cabeça toda, Falaschi não chegará nem perto dos demais álbuns do Angra em que tocou (“Aurora Consurgens” de 2006 e “Aqua” de 2010) que não são emblemáticos quantos os dois primeiros em que participou: não valeriam o risco... 

Para quem tiver curiosidade, seguem os links de duas entrevistas esclarecedoras: uma do Rafael e outra do Edu, cada qual contando sua versão para o imbróglio:


Time is Money! Time is Metal!

1º Ponto: Quando Jeff Hanneman faleceu em 2013, ainda houve gente que ficasse consternada pelo fato da banda não haver acabado ali mesmo: afinal de contas, a formação original havia perdido um membro, e mais: um dos principais compositores. Entretanto, bandas são empresas – queiram os fãs ou não – e compromissos previamente assumidos devem ser cumpridos. Com isso, não demorou para a banda se reestruturar e continuar com Gary Holt assumindo as seis cordas ao lado de Kerry King. Partindo desse conceito, também se conclui que o Slayer e as bandas de um modo geral, assim como as empresas, representam empregos e dinheiro envolvido. E como se diz no meio empresarial, “tempo é dinheiro!”, o que justifica a rapidez em resolver qualquer questão que represente a paralisação das atividades. 

2º Ponto: Com a Nervosa não foi diferente, uma vez que a banda passou por uma ruptura na formação, onde 2/3 da banda saíram para fundar um novo grupo. E detalhe: em meio a pandemia que parou o mundo. O que parecia ser algo inesperado e de difícil solução a curto prazo, teve resposta do que restou da banda – a fundadora Prika Amaral – mostrando que não era o fim do mundo, ou melhor, da banda. Em pouco menos de seis meses, a Nervosa se reestruturou como um quarteto, já lançou 2 clipes/singles e em Janeiro do ano que vem lança o novo álbum, que já está finalizado. Ficou claro que a situação interna que culminou no racha já vinha se desenhando há algum tempo e que a ruptura não foi surpresa para as envolvidas. Mais do que isso, já havia plano B em andamento, na expectativa apenas do inevitável.

 

3º Ponto: Respondendo a um comentário feito no Instagram da Fernanda Lira por um fã, a pessoa me questionou a certa altura, quando mencionei que a Crypta havia ficado para trás ao não apresentar material novo até o momento: “No entanto, existe algum tipo de competição?"

Colocados estes 3 pontos iniciais, o quero demonstrar é que ainda existe uma certa ingenuidade e até romantismo dos fãs com relação às bandas, fazendo com que eles não enxerguem as entre linhas de certas situações. O questionamento sobre a existência de competição mostra uma linha de raciocínio pura: as bandas são diferentes e apesar da ligação entre elas pela Nervosa como trio, cada uma tem seu tempo e não existe a necessidade de mostrar serviço “para ontem”. Ledo engano, pois essa necessidade existe sim, assim como uma competição velada, que ninguém vai admitir, mas que ninguém quer perder. O caso da Nervosa é excelente para corroborar esta afirmativa pelo simples fato de que Prika não só já reformou a banda, mas também mostrou um resultado muito, mas muito acima do que o Nervosa com Fernanda e Luana havia conseguido até então.

   

É óbvio que vão haver comparações: os fãs e todos que ouvirem as duas bandas, assim que possível for, vão falar que uma é melhor, mais pesada, mais lenta, mais Death e menos Thrash, mais Thrash e menos Death e por aí vai. O que acontece é que quem ouvia a Nervosa, vai fazer do som antigo com o novo. Ao já mostrar um material aos fãs, mesmo que na forma de duas músicas apenas, conseguiu deixar todos de boca aberta. Já tive a oportunidade de ver vários “reacts” no YouTube (Ok, isso não quer dizer nada, concordo) e curiosamente todos foram unânimes em elogiar a faixa “Guided By Evil”, a primeira a ser lançada. Realmente a música é muito, mas muito boa, causando uma ótima primeira impressão e uma grande expectativa pelo álbum. A segunda “Perpetual Chaos”, faixa título do álbum, foi lançada hoje, e só pude ouvir uma vez. Mesmo assim, me pareceu ser outra pedrada muito boa. 

Comercialmente isso é muito importante. Primeiramente, porque a gravadora enxergará como certa a opção de manter a banda no cast. Isso representa investimento em divulgação e provavelmente em suporte para turnês que devem surgir. Este é o segundo ponto: todo mundo vai querer ver a banda em ação, mesmo porque a Nervosa sempre foi uma banda de estrada. Por fim, os planos de divulgação do making of do álbum via internet serve para manter a curiosidade das pessoas, despertada pelo clip, até que o álbum saia finalmente.

Nesse meio tempo, a Crypta vai entrar em estúdio apenas em janeiro, o que deve acarretar o lançamento do debut apenas para o fim do primeiro semestre do ano que vem, mais ou menos. Nada impede que a banda também surpreenda e mostre um excelente trabalho. Fica claro que Prika manteve o contrato que já existia e a estrutura da gravadora, o que justificaria em parte a agilidade ao reformar a banda. Entretanto, a mesma Napalm Records contratou a Crypta, mantendo de maneira previsível até, as duas bandas no seu cast. A verdade é que podemos ter agora duas excelentes bandas, embora eu esteja com mais curiosidade pelo álbum do Nervosa (se ele faz juz aos singles até agora) do pela Crypta que, infelizmente, ainda não tem nada para mostrar. 

terça-feira, 10 de março de 2020

Resenha: "Scream Bloody Gore" Death (CLASSIC ALBUM)



Impressionantemente, mesmo com todos esses anos de Metaloger, nunca postei nenhuma resenha sobre nenhum álbum do Death, uma das minhas bandas preferidas. Ainda mais do primeiro, o espetacular “Scream Bloody Gore”, disco esse que é o pilar do estilo conhecido como Death Metal, e não o “Seven Churches” do Possessed. Para quem não sabe, existe uma polêmica que dura até os dias de hoje sobre quem lançou o primeiro álbum de Death Metal no mundo: o Possessed, cujo “Seven Churches” foi lançado em 1985, ou o Death, cujo debut veio em 1987. Observando apenas a ordem cronológica, é óbvio que o Possessed ganha a parada, não fosse o detalhe de que a banda tinha um estilo muito mais ligado ao Thrash Metal, ainda que mais pesado e sujo, e reforçado pela temática Satânica bem evidente. Mas um detalhe para o qual muitos não se atentam é que o Possessed fazia parte daquela turma precursora do Thrash Metal da Bay Area, de onde saíram Exodus, Metallica, Slayer, Forbidden e Vio-lence, entre muitos outros. Uma ouvida cuidadosa em "Seven Churches" fatalmente possibilita perceber a veia Thrash da banda, o que ficou ainda mais evidente nos dois lançamentos seguintes, o EP “The Eyes of Horror” e álbum “Beyond The Gates”.

Já o Death era oriundo de Tampa Bay, na Flórida, que foi o berço não só da banda, mas também de uma das maiores cenas do estilo, com nomes de grande representatividade como Obituary, Deicide, Cannibal Corpse, Morbid Angel, Massacre, entre outros. O Death - inicialmente chamado Mantas - lançou seu debut depois de três anos de sua criação  e uma série de demos que correram o mundo e consolidaram o nome da banda nesse período. Nome esse, diga-se de passagem, que acabou batizando o estilo, o que reforça a paternidade  do Death nesse segmento mais extremo do Metal até então. Como toda banda em início de carreira, as coisas não vieram facilmente, havendo alguns percalços curiosos até que “Scream Bloody Gore” finalmente fosse lançado em 1987. O primeiro problema ocorreu antes da gravação do álbum, quando a banda, até então um trio formado por Chuck na guitarra, Rick Rozz na outra guitarrra e Kam Lee na bateria e vocais, se dispersou. Como a proposta da gravadora Combat Records era de que a banda gravasse em Los Angeles e não na Flórida, Rick e Kam, que não queriam viajar na época, recusaram a chance e saíram da banda, formando posteriormente o (sensacional) Massacre. A partir daí, Chuck se viu sozinho para a gravação do álbum e teve de encontrar outros parceiros para levar a banda adiante. No fim das contas, o álbum foi gravado apenas por dois músicos: Chuck ficou com as guitarras, baixo e vocais; na bateria, Chris Reifert, que futuramente formaria o fabuloso Autopsy (nota: o guitarrista John Hand, apesar de creditado, inclusive com foto no album, não gravou o disco e sequer fez um único show com a banda). Com o problema da formação resolvido, o álbum foi gravado, mas... A gravação não agradou a Combat, que simplesmente recusou o resultado final e mandou a banda refazer o disco inteiro! Com isso, SBG entrou para aquele grupo seleto de álbuns que possuem duas versões distintas, embora a primeira nunca tenha sido lançada. Mas como tudo hoje em dia, nada que uma busca na Internet não resolva. Particularmente, prefiro a que foi lançada e que todos conhecemos. Embora mais polida, ressaltou muito mais os detalhes e a brutalidade das canções.


Gravado no The Music Grinder em Los Angeles, em Novembro de 1986 e lançado em 25 de Maio de 1987, “Scream Bloody Gore” foi produzido por Randy Burns e teve sua antológica capa feita pelo mago Edward J. Repka. Contendo 10 hinos espetaculares (12 nas edições em CD), deixou claro que não foi à toa movimentaram toda uma cena, com o Death Metal explodindo mundialmente no fim dos anos 80 / início dos anos 90 a partir do seu lançamento. O disco abre com “Infernal Death”, trazendo uma introdução cadenciada que tantas bandas de Thrash e Death adoravam fazer nos anos 80, antes de entrarem nas partes rápidas. Aliás, o Death usa com maestria, ao longo do disco, as partes mais velozes, com Chuck executando riffs criativos e muito bem encaixados em partes mais longas com apenas a velocidade predominando. Na sequência, o hino dos hinos dentro do Death Metal: “Zombie Ritual”, uma das poucas desse álbum que se manteve no set list da banda enquanto Chuck ainda estava vivo e fazendo shows. Com uma introdução espetacular, com as guitarras dobradas num riff hipnótico, a faixa evolui para a velocidade extrema culminando num refrão cadenciado, numa alternância de ritmos destruidora. Destaque também para o peso da bateria de Reifert, uma tônica de todo o disco e não apenas nesta faixa. “Denial of Life” segue a linha curiosa que permeia todo o álbum, que são os refrões muito bem sacados, que te levam a cantar junto, por mais incrível que isso pareça. A faixa seguinte, “Sacrificial”, inverte a tendência do álbum, fazendo as estrofes em cima de riffs cadenciados e usando a velocidade no refrão. No final da música, mais uma alternância sensacional de ritmos, mostrando toda a genialidade de Chuck como compositor. No vinil, “Mutilation” fechava o lado A do disco como um soco no estômago: rápida e com um refrão destruidor (“You must die in pain / Mutilation”) tem apenas um refresco na mudança de ritmo no meio da música, mas logo volta ao estilo “caminhão desgovernado descendo a ladeira”. Simplesmente foda.


O antigo lado B começava com “Regurgitated Guts”, a primeira a apresentar um leve apelo Thrash no seu andamento, mas nada que afetasse o espírito do álbum. Pelo contrário, a combinação das partes cadenciadas com as mais rápidas ficou perfeita. Novamente Chuck usa com maestria a velocidade extrema no fim da faixa com um encerramento bombástico. “Baptized in Blood” é outra com refrão devastador em cima de uma base mais lenta e pesada, isso sem mencionar o encerramento também destruidor e criativo. “Torn To Pieces” é outra com um forte acento Thrash no andamento, mas com partes rápidas no refrão que são fantásticas. A velocidade predomina no fim da música, coroando o contraste das variações ritmicas. Na sequência, outra faixa lendária que também se manteve no set list da banda ao longo dos anos: “Evil Dead” começa com uma introdução mais melódica, mas não menos tétrica, preparando o terreno para uma faixa curta, rápida e fulminante. Um clássico absoluto! “Scream Bloody Gore” fecha o álbum com chave de ouro e contem todos os elementos que fizeram o álbum grandioso: velocidade e variações alucinantes de andamento, somado a um refrão muito foda. Mesmo sendo um disco de Death Metal, você se pega cantando as músicas junto! Com os lançamentos em CD, mais duas faixas se juntaram aos clássicos: “Beyond the Unholy Grave” e “Land of no Return”. Elas provavelmente não saíram no LP por conta do espaço. Para quem não sabe, antigamente o espaço no vinil e a quantidade de músicas estavam diretamente ligadas ao quanto de verba se tinha disponível para gravação e prensagem dos LP´s: mais musicas e mais tempo de duração significavam um custo maior... Mas depois de ouvir estas duas faixas é impossível não imagina-las como parte do lançamento original, tamanho poder de fogo de ambas, que são espetaculares.

Não é exagero dizer que “Scream Bloody Gore”, prestes a completar 33 anos do seu lançamento, ainda é um álbum destruidor e icônico, um verdadeiro clássico que definitivamente passou no teste do tempo. Para quem quer apreciar Death Metal com qualidade, este álbum é um ponto de partida perfeito, isso sem mencionar os discos seguintes da carreira da banda (o album seguinte “Leprosy” (1988) é simplesmente assombroso!!!). Pena que o gênio por trás dessa pérola de banda, o fantástico Chuk Schuldiner (R.I.P. 1967-2001) já nos deixou. Mas seu legado permanece, com “Scream Bloody Gore” sendo apenas sua primeira obra prima.

Uma curiosidade sobre esta resenha: a ideia de resenhar este disco me veio à cabeça estes dias, curiosamente neste ano em que está prestes a completar 33 anos do seu lançamento. Chuck nos deixou aos 34 anos de idade. Coincidências Metálicas...



sexta-feira, 6 de março de 2020

E Lá Vamos nós de Novo: "Quadra"

O Sepultura acaba de lançar seu novo álbum de estúdio, “Quadra”, o 15º da sua carreira e o 9º com Derrick Green nos vocais. E como ocorre em todo o lançamento da banda desde o rompimento com Max, novamente vieram à tona as comparações, discussões e lamentações: os fãs, como sempre fazem, dizem que este “é o melhor lançamento da banda pós Cavaleras” ou “a banda atingiu o seu ápice de amadurecimento”. Já os detratores, por sua vez, se resumem em “Sepultura de verdade é com Max e Igor”. De minha parte, devo confessar que gostei muito do que ouvi – em termos de composição e instrumental – e admito que a banda evoluiu muito de uns discos para cá. Entretanto, ainda me parece que os vocais de Derrick Green não são indicados para a banda, sendo irritantes e cansativos. Apesar de fazer um esforço para ouvir a banda a cada álbum lançado, os vocais põem tudo a perder, sendo que aqui não foi diferente. Apesar do instrumental destruidor, com destaque para Eloy Casagrande, que conseguiu dar uma dinâmica mais complexa ao som da banda neste disco, basta Derrick abrir a boca e tudo vai por água abaixo. Tem quem goste e eu respeito, mas não consigo aturar a banda nem em estúdio e muito menos ao vivo. 

Mas não irei fazer aqui uma resenha do disco, pois o ponto que gostaria de ressaltar é outro. Vendo a polêmica ressurgir com o novo lançamento, fiquei imaginando qual seria a razão para a banda passar por esse “perrengue” a cada novo disco. Afinal de contas, decorrido tanto tempo, já era de se esperar que as coisas estivessem mais estabilizadas ou definidas em termos de aceitação. Por mais óbvio que possa parecer, a resposta é simples: se Andreas e cia tivessem mudado o nome da banda, não teriam essa pressão enorme sobre si. Ou seja, se Andreas, Igor e Paulo (os remanescentes da formação clássica) tivessem optado por mudar o nome lá nos idos de 1997, talvez não fossem tão cobrados. Ok, haveria comparações, mas estas seriam do mesmo nível das que Max sofreu com o Soulfly, já que começava também uma banda nova do zero. A margem para sair da sombra do Sepultura era maior, já que se tratava de uma outra banda diferente. Como Max abriu mão do nome, Andreas continuou com ele. Mas ele errou ao fazê-lo? Penso, ao mesmo tempo, que sim e que não.





Errou sim pela razão acima, pois ao manter o nome, automaticamente puxou para si a obrigação de manter o legado, seja com o material novo, seja com o material antigo ao executá-lo ao vivo. E aí a coisa complicou, pois o material novo não veio no mesmo nível – o debut da nova formação, “Against”, é pavoroso – e o material antigo ficou comprometido, pois os vocais do Derrick são muito inferiores ao de Max, com o agravante de que ao vivo a banda conta apenas com uma guitarra, o que gera os inevitáveis “buracos” nas músicas na hora dos solos (um mal que ocorre com o material recente também, diga-se de passagem). O novo disco tem sido elogiado pelas várias camadas de guitarra, o que enriqueceu o arranjo das músicas, mas que se torna uma incógnita na hora de reproduzir ao vivo.



Não errou pela razão de que, se não o fizesse, estaria fadado ao esquecimento ou, no mínimo, uma jornada ainda muito mais árdua para recolocar a banda dentro do cenário. Basta lembrar que ao sair do grupo, Max acabou levando não só o empresariamento (feito pela esposa e pivô da confusão, Gloria Cavalera), mas toda a estrutura da banda fornecida pela gravadora. Se mantendo o nome Sepultura foi difícil para a banda se reerguer, sem ele teriam menos atenção ainda que tiveram do público na época, uma vez que a ansiedade estava voltada para o trabalho que Max lançaria com o Soulfly. Max tinha o vento a seu favor e conseguiu lançar seu disco de estréia 6 meses antes do Sepultura (21/04/1998, ao passo que “Against” só saiu em 06/10 do mesmo ano). Para azar deles, mesmo com o álbum de estréia do Soulfly não sendo nenhuma maravilha, este ainda era melhor que o Against. O Sepultura ainda lançaria mais 2 albuns inconsistentes e sem repercussão (“Nation” e “Roorback”) até que conseguisse voltar a chamar a atenção e retomar a carreira, inclusive internacional. Outro detalhe curioso foi a escolha do novo vocalista, cuja seleção se deu para criar um óbvio distanciamento do Max. Mesmo com Chuck Billy (Testament) participando do processo de seleção (?), a banda optou por um americano desconhecido e com um background no Hardcore, estilo bem adverso ao Thrash característico da banda. Já se vão 22 anos dessa escolha e Andreas não dá pistas de que queira mudar, apesar das críticas que Derrick recebe até hoje. 




É certo dizer que um nome diferente tiraria o peso dos ombros da banda, dando a liberdade de criação fora do espectro do Sepultura que, no seu ápice criativo, conquistou o mundo em 1996 com o sensacional “Roots”. Seria certo também prever que nenhuma das duas bandas – Sepultura e Soulfly -  conseguiria o mesmo sucesso, uma vez que os músicos estariam separados, mas havia a possibilidade de duas boas bandas coexistindo. A verdade é que uma reunião é cada dia mais e mais improvável, uma vez que os sinais emitidos de cada lado deixam claro que existe uma quantidade enorme de obstáculos a serem superados para isso ocorrer. As recentes e virulentas declarações de Gloria Cavalera rebatendo uma entrevista de Derrick Green deixam isso bem evidente, mostrando que mesmo 24 anos após a separação, as mágoas não foram definitivamente “enterradas”.