quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Da Devastação ao Messias: Sepultura


Antigamente, montar uma banda no Brasil não era uma das tarefas mais fáceis. Para começar, era muito difícil comprar instrumentos nacionais de qualidade, pois eram caros. Importar então, nem se fala. Discos e revistas estrangeiros não chegavam aqui, não havia publicações nacionais, havia poucas lojas e selos especializados no estilo e, é claro, ainda não havia Internet. Este cenário de terror do início dos anos 80, entretanto, não foi suficiente para barrar o surgimento da cena metálica brasileira, em especial a mineira, que em meio a um boom de bandas de diversos estilos, viu nascer o seu maior representante: o Sepultura. Num misto de batalha, talento e sorte, a banda conseguiu crescer a ponto de ultrapassar nossas fronteiras e fazer sucesso, aqui e no exterior, durante quase uma década. Nesse período, a banda seguiu numa crescente de sucesso e reconhecimento, levando ao mundo o metal nacional, até que as famigeradas diferenças separaram a banda. Apesar da realidade muito diferente de hoje, com uma maior facilidade de recursos, informações e uma cena numerosa (ainda que, com características bem diferentes), é certo que não teremos nunca mais um novo Sepultura. Os ventos do passado pararam de soprar e os músicos, apesar de ainda na ativa, trilham hoje caminhos diferentes.



Para quem eventualmente não saiba – a galera mais jovem talvez - o Sepultura foi simplesmente o maior nome do Metal nacional em todos os tempos e, proporcionalmente, um dos maiores nomes da música brasileira a nível mundial. Apenas outros poucos nomes no Brasil conseguiram repercussão parecida dentro do Metal mundial: Angra, Ratos de Porão e Krisiun talvez sejam os mais expressivos, com reconhecimento e turnês internacionais bem sucedidas. Mas entre o fim dos anos oitenta e a primeira metade dos anos noventa, o Sepultura reinava absoluto, com uma sequência de álbuns clássicos lançados e excursões pelo mundo com nomes do primeiro escalão do Metal, numa fase áurea que sucumbiu à separação da banda em dezembro de 1996. De lá para cá, as coisas nunca mais foram as mesmas, e é óbvio que os rumores de uma volta da formação clássica nunca cessaram desde então, embora não haja nenhum indicativo de que um dia isso irá acontecer.

Do nascimento ao reconhecimento, o Sepultura foi brilhante, até mesmo na sua fase mais tosca (1985-1986) onde o EP “Bestial Devastation” e o LP “Morbid Visions” eram a expressão do Death Metal que começava a invadir a cena mundial (futuros medalhões como Death, Morbid Angel, Obituary e Deicide também estavam iniciando suas carreiras) e que a banda se encarregava de lançar por aqui. Me recordo até hoje do impacto de ouvir o EP de estréia, algo totalmente inédito em termos de Brasil. O espanto aumentou ainda mais em 1987, com a mudança na formação que trouxe Andreas ao grupo e o lançamento do sensacional “Schizophrenia”, com a banda tendo uma evolução técnica espetacular – Igor principalmente – e apresentando um Thrash Metal soberbo. Com a repercussão do álbum aqui e lá fora (que foi até pirateado e lançado no exterior sem o consentimento da banda) o Sepultura começou sua jornada ao sucesso internacional, que viria no álbum seguinte, o estrondoso “Beneath the Remains” (1989). Gravado por aqui mas com um produtor americano, o disco foi o pulo do gato para a banda, com direito a vídeo veiculado na MTV (“Inner Self”) e a primeira tour gringa, como openning act para os alemães do Sodom.

Com uma evolução crescente no som e na postura em palco, o Sepultura começava a ter mais e mais apoio da gravadora. Para o álbum seguinte (“Arise”, 1991) o grupo teve a oportunidade de gravar na Flórida, no templo do Death / Thrash metal mundial, o Morrissound Studios. Não é preciso nem dizer que o disco é clássico de ponta a ponta e os colocou em definitivo no cenário mundial. A banda passou a ser vista regularmente nos principais festivais europeus e via seu nome cada vez maior também nos EUA. Coroando o sucesso obtido com extrema ousadia, os 2 albuns seguintes (“Chaos A.D. de 1993 e “Roots” de 1996) foram lançados e chocaram o mundo com uma mudança de direcionamento, focada mais no peso e menos na velocidade, com a inclusão de elementos tribais extremamente bem encaixados. Os 2 discos foram maravilhosamente bem recebidos, apesar de algum estranhamento por parte dos fãs mais radicais num primeiro momento. Mas com o sucesso vieram as discordâncias, ciúme e desentendimentos, que culminaram com a separação de uma das maiores bandas do Metal mundial.


Ao se separarem, Max Cavalera e o restante da banda tiveram resultados bem distintos, tendo apenas em comum o fato de que a relevância obtida com o Sepultura original nunca mais foi alcançada por nenhum deles. Entretanto, é notório que Max, por diversos fatores, foi mais bem sucedido que Andreas e cia. Max montou o Soulfly, que apesar do vacilante New Metal no início de carreira (mais ou menos do ponto onde “Roots” parou, mas sem o mesmo brilho), hoje segue forte no Thrash Metal com alguns álbuns realmente muito bons. Além disso, depois de 10 anos sem falar com o irmão Igor, ambos reataram e montaram o Cavalera Conspiracy, que junto com o Soulfly, também desfruta de boa repercussão a nível mundial. As razões para este sucesso talvez estejam ligadas ao fato de que, ao sair, Max levara consigo a empresária / esposa (alvo da discórdia), a gravadora e toda a estrutura de que a banda dispunha. Some-se a isso ao fato de residir em Phoenix (Arizona), o que tornou mais fácil manter seu nome em evidência dada a proximidade dos grandes mercados, mesmo sem estar com o Sepultura por trás de tudo.

Quanto ao Sepultura restante, inicialmente um trio com Andreas, Paulo e Igor começando do zero pela saída de Max, não havia outra alternativa senão encontrar outra voz para a banda. Depois de uma seleção estranha - onde Chuck Billy do Testament não foi aprovado (penso se eles não se arrependeram disso depois...) - a banda optou pelo ilustre desconhecido Derrick Green, um americano com background no Hardcore  (e que até hoje não vejo ter conexão com o som da banda) para assumir as vozes, com a dura missão de ajudar o Sepultura a se reerguer. É óbvio que a resistência dos fãs xiitas ao novo vocalista e o material de qualidade muito inferior ao que a banda fazia no passado fizeram o Sepultura penar para se levantar. E mesmo depois de 20 anos e oito álbuns de estúdio após a separação (sendo que Igor tocou apenas nos 4 primeiros e depois saiu) o Sepultura não conseguiu o mesmo êxito de Max, levando muito tempo até para mesmo para conseguir engrenar novamente as turnês internacionais. Aproveito para deixar registrado aqui que “Against” (1998), 1º álbum pós separação, é uma das coisas mais pavorosas que eu já ouvi até hoje, sendo pior até que “Soulfly”, 1º álbum do Max, que era absurdamente calcado naquele Metal pula pula que dominava as paradas americanas na época.

Muito se discutiu se Andreas deveria continuar com a bandeira “Sepultura”. Como na época Max abriu mão do nome e Igor ainda estava na banda, foi natural que assim continuassem. Só não contavam com o fato de que isso fosse aplicar-lhes um peso ainda maior, face a expectativa de público e crítica quanto a qualidade do novo material. A escolha equivocada do vocal e a fraca repercussão dos 3 primeiros álbuns pós separação (“Against” de 1998, “Nation” de 2001 e “Roobarck” de 2003) eram o indício de que as coisas não iriam melhorar. Apesar da evolução em “Dante XXI” em 2006, banda nunca conseguiu decolar novamente, com uma base restrita de fãs e de repercussão, bem menor do que se via no passado. Além de Derrick não ser o vocalista adequado – reclamação recorrente dos chamados “viúvas do Max” – ao meu ver a banda também errou quando continuou com apenas uma guitarra. Não é difícil perceber como o som do grupo se perde nas músicas mais antigas (muito mais complexas) e que, sem uma 2ª guitarra, torna isso muito mais evidente. Talvez até mesmo por isso a banda tenha passado a optar por estruturas mais simples nas músicas, com os intrincados riffs do passado sendo deixados de lado.

Apesar de melhor sucedido, Max também tem seus problemas: com uma voz ao vivo que atualmente já não mostra o mesmo vigor de outrora, talvez em função de uma condição física já não mais muito favorável, seus shows têm caído muito de qualidade. Por outro lado, Ig(g)or continua um grande batera, embora tenha evoluído seu estilo para algo mais simples, em função talvez dos anos no Sepultura após a saída do irmão, onde a banda simplificou a estrutura das músicas. Com isso, o material do Sepultura – principalmente dos álbuns mais técnicos - também sofre nas mãos dos irmãos Cavalera quando executado ao vivo. Com base nisso, fica realmente a dúvida de como seria uma reunião da banda, pois a expectativa do passado se chocaria brutalmente com a realidade dos músicos hoje.

Atualmente o Sepultura segue em turnê do seu 8º álbum (“Machine Messiah” de 2017) e conta com Derrick Green vocais, Andreas Kisser na guitarra, Paulo Jr no baixo e Eloy Casagrande na bateria. Max está prestes a lançar o 11º álbum de estúdio do Soulfly (“Ritual”) que conta também com Marc Rizzo na guitarra solo, Zyon Cavalera (seu filho) na bateria e Mike Leon no Baixo; O Cavalera Conspiracy, além de Max e Igor, conta também com o mesmo Marc Rizzo e mais o baixista Johny Chow. A banda lançou seu 4º álbum, Psychosis, em 2017.


Apenas uma coisa é certa, enquanto a reunião não vem: das cinzas do Sepultura original brotaram 3 novas e distintas bandas, capazes de agradar a Gregos e Troianos. É questão de apenas aproveitar o que for do seu gosto. 

sábado, 11 de agosto de 2018

Voltar ou Não Voltar: Eis a Questão...


Não é nenhuma novidade no cenário musical, ainda mais no metálico, o retorno à ativa de bandas ou músicos que já encerraram carreiras e mudaram de idéia, ou então de bandas que reúnem suas formações clássicas (ou quase clássicas) depois de tempos afastados. Vários fatores influenciam estes retornos, sendo que o argumento preferido dos artistas é o clamor dos fãs. Ou seja, seus insistentes pedidos para uma volta (se possível, permanente) fazem com que músicos passem por cima de tudo aquilo que fez a banda se separar e atendam aos anseios do seu público. Paralelamente, a justificativa mais odiada por 10 entre 10 músicos, e que muito dificilmente é admitida por alguém é: o dinheiro falou mais alto. Entretanto, mesmo dependendo da banda e das situações passadas, é sempre isso que acontece.

Lá fora, onde a estrutura e a cena como um todo ainda é muito maior do que aqui no Brasil – embora as coisas hoje aqui tenham evoluído muito frente ao que era nos anos 80 – isso ocorre com muito mais frequência e tem amparo maior de mídia e público. Um caso típico e bem recente é do Helloween, que conseguiu reunir 4/5 da formação clássica dos Keepers (obviamente excluindo apenas o baterista Ingo Schwichtenberg, falecido em 08/03/1995, por suicídio) numa tour que tem feito um sucesso estrondoso e já gerou um single com uma música inédita. Existem muitos outros exemplos de bons resultados: Exciter que reuniu a formação clássica e já planeja um novo álbum; Dark Angel, na ativa desde 2013 com a formação (quase) clássica, excetuando apenas o vocalista Don Doty, estando no seu lugar o seu exato substituto a partir no 3º álbum da banda (“Leave Scars”), Ron Rinehart; Possessed, que apesar de trazer apenas o vocalista original Jeff Becerra e não se enquadrar no perfil dos retornos citados aqui por conta disso, foi um comeback extremamente comemorado em 2007 e já tem um novo álbum prestes a sair.


No Brasil isso também acontece, mas em menor escala. Apesar de existir a demanda, os custos ainda são um empecilho: afinal, tem de dar retorno e isso nem sempre é garantido frente ao que é necessário para uma estrutura profissional mínima. Basta lembrar que aqui no Brasil não temos a quantidade monstruosa de festivais como na Europa e uma tour pelo país não é algo fácil de ser fazer. Além disso, temos também o fato de que muitos músicos retomam suas carreiras profissionais e abandonam a música quando do fim de suas bandas. Num retorno, conciliar estas agendas nem sempre é fácil. Some-se a isso a questão de que os novos tempos, onde a Internet impera e gravar um novo álbum ou um DVD já não é garantia de retorno financeiro. Junte tudo isso e temos qualquer motivacional bastante abalado para trazer uma banda de volta à ativa.



Entretanto, apesar das dificuldades, tivemos o retorno recente de 3 grandes nomes do cenário nacional, que  foram notórios pela repercussão e tiveram sucesso em suas empreitadas: Viper, Edu Falaschi/Angra e o Shaman. Apesar de serem casos distintos, todos de certo modo estão interligados em suas histórias: para quem não lembra, das fileiras do Viper saiu André Matos para o Angra; após a saída de Matos, Luis Mariutti e Ricardo Confessori do Angra, estes criaram o Shaman, sendo que Edu Falaschi foi o substituto de André Matos no Angra. Curiosidades à parte, estes retornos, mesmo que muito celebrados, mostram as dificuldades do cenário nacional atual, uma vez que esses retornos refletem carreiras solo ou com bandas sem igual repercussão.

Isso se aplica muito ao caso de Edu Falaschi, que montou um projeto com um nome pra lá de pomposo (“Edu Falaschi: Rebirth of Shadows Tour”), uma vez que Rafael Bittercourt o impediu de usar o termo “The Angra Years” no nome, e que consiste em tocar músicas dos cinco álbuns do Angra (lançados entre 2001 e 2010) em que participou. Ou seja: nenhum material da fase Andre Matos é executado. Iniciada em Julho/2017, a tour foi um sucesso pelo Brasil e agora tem datas marcadas até no Japão para 2018. Apesar de reunir apenas 2 músicos da formação que gravou os discos envolvidos – o próprio Edu e mais o baterista Aquiles Priester (Obs: que não participou do álbum “Acqua”) – os fãs não se importaram e celebraram cada show com os clássicos do Angra, principalmente do fantástico “Temple of Shadows”.

Quando mencionei a questão de carreiras solo, basta recordar que Edu, após a saída do Angra, focou sua carreira solo no Almah, banda que já tinha em paralelo mesmo quando ainda estava na sua banda principal. Mesmo com 5 albuns gravados e aceitação do público, fica óbvio que para todos que o Almah não é/era páreo para este projeto, muito mais rentável ao relembrar o passado glorioso do Angra. Vale registrar também que Edu já havia gravado em 2016 um álbum acústico com 9 faixas, das quais 8 eram de sua fase no Angra. Outro detalhe muito curioso e que reforça o poder de revisar o passado de sucesso em detrimento os riscos de uma carreira nova é o fato de que em Maio de 2012 Edu deixou o Angra e, entre diversas razões, alegou que os altos tons necessários nas músicas haviam desgastado sua voz. Entretanto, 5 anos depois, cá está ele cantando as mesmas músicas... Para fechar com chave de ouro, acaba de ser divulgado o lançamento de um single com duas faixas inéditas, com esta mesmíssima formação e sob o nome de Edu Falaschi, e não Almah...

Antes de falar do Shaman, é necessário comentar a volta Viper, mesmo porque um dos protagonistas é comum aos dois casos: André Matos. Matos e o Viper, bem como o Angra, sempre foram pressionados pelos fãs e pela mídia para um retorno. Com a carreira solo iniciada em 2007 e com 3 albuns lançados, André nunca aceitou e nem cogitava estas ofertas. Em paralelo ao lançamento do álbum do seu último álbum “The Turn of the Lights” (2012), Andre aceitou se reunir com o Viper para as comemorações dos 25 anos do debut da banda, o magistral “Soldiers of Surise”. A tour gerou um DVD ao vivo em 2013, e após seu fim, Andre continuou dando sequência a turnê de divulgação de seu 3º disco.


Neste caso, a reunião não conseguiu juntar a formação completa (apenas 3/5 dela) e  serviu apenas paras as comemorações do álbum de estréia. Mas vale salientar que este projeto teve muito mais repercussão do que a promoção do álbum solo de Matos. Passados 6 anos de seu lançamento, Matos deu uma sumida de cena até que surgiu o retorno do Shaman.

E finalmente o Shaman, que lançou apenas dois álbuns de estúdio (2002 e 2005) e um ao vivo (2003) em sua carreira meteórica,  retorna com a formação original e apenas – a princípio – para um único show. Entretanto, esta data rapidamente esgotou ingressos e uma data adicional foi marcada, que também esgotou e por aí vai... Começando em Setembro, a tour já tem 5 datas marcadas.
É óbvio que o sucesso do Viper, mesmo com uma reunião temporária e sem nenhum material inédito gerado, deu a André Matos a noção do poderio deste tipo de empreitada. Com o Shaman, a repercussão tende a ser ainda maior, pois a banda nasceu e se desenvolveu numa época muito melhor em termos de estrutura e exposição (os dois álbuns do Viper com Matos saíram em 1987 e 1989, quando as coisas no Brasil ainda não eram tão profissionais assim). Entretanto, ambas as bandas tiveram carreiras mais focadas no Brasil: o Viper pela época e falta de estrutura em alçar vôos mais altos; o Shaman simplesmente porque não deu tempo, com a banda surgindo, fazendo muito sucesso e logo depois se separando.

Foco meu comentário em André Matos por uma razão muito simples: se tanto Viper e Shaman tiveram carreiras mais focadas no Brasil, o Angra teve uma carreira internacional de absoluto sucesso. E por que falo isso? Porque Matos, depois de anos e anos de resistência, deu declaração de que uma reunião com o Angra seria possível, desde que com a formação original...  Quem lembra dos motivos da separação de banda viu que os problemas de empresariamento e as diferenças com Kiko e Rafael (que acabaram ficando sozinhos na banda na época) geraram mágoas a tal ponto que André sempre refutou qualquer chance de voltar.

Não quero dizer que dinheiro seja tudo e os músicos sejam cegos em trocar o certo pelo duvidoso. Ainda que o sucesso do Shamam seja estrondoso e aumente mais ainda a pressão pela volta do Angra com a formação original, é óbvio que temos dois entraves sérios a considerar. O primeiro, Kiko vai muito bem no Megadeth, e de todos os guitarristas contratados pelo Dave Mustaine até hoje, Kiko aparenta ser o que mais se entrosou, até a nível pessoal, com o patrão. O Megadeth é muito maior que o Angra em termos mundiais, e talvez esteja longe o dia em que ele queira sair da banda ou então que o patrão o faça; o segundo, o bom momento do Angra, com disco novo na praça (“OMNI”) , novo DVD no forno e uma extensa turnê internacional por vir. Mesmo com Fabio Lione ainda dividindo opiniões, é de fato um grande cantor e já se desligou dos seus maiores projetos em paralelo (Rhapsody e Vision Divine) e se dedica apenas ao Angra hoje. Mas é claro que, se milagres acontecerem, Fabio Lione, Felipe Andreolli e Bruno Valverde que se cuidem...

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Cool Metal Flyers











Performance: Tim Yeung "Sworn To The Black" (Drum Cam)

Performance monstruosa do ex-baterista do Morbid Angel Tim Yeung executando o clássico "Sworn To The Black" do album "Covenant". Chega a ser absurdo como ele consegue fazer parecer fácil reproduzir as linhas criadas pelo ícone Pete "Commando" Sandoval. Perfeito!

domingo, 13 de maio de 2018

Ghost - Rats (Official Music Video)

Simplesmente o melhor vídeo de 2018!!!! A música nova do Ghost, "Rats", é o primeiro single  do novo album "Prequelle", que sai agora dia 01/06. Se o album for 1/3 dessa música, será fantástico!!!

SLAYER - Early Days: Episode 2

Resenha: "Eonian" Dimmu Borgir



Com o lançamento do novo álbum do Dimmu Borgir, “Eonian”, é possível avaliar agora qual a proposta real da banda, frente a dois singles que não foram nada animadores. A grande questão é: o disco é ruim? Se ruindade for sinônimo de chatice, sim, o disco é muito ruim...

Acho que toda banda tem direito a uma derrapada, é natural. São seres humanos atrás da produção musical, e que têm todo direito de errar. E parando para pensar bem, todo mundo, até os grandes, já tiveram deslizes em suas trajetórias: Slayer, Iron Maiden, Metallica, Judas Priest, Ozzy Osbourne, Anthrax e etc. O detalhe é quando um deslize se transforma numa nova direção musical, com uma proposta diferente da original. Nesse caso, o que acontece na maioria das vezes é que novos fãs surgem, enquanto muitos abandonam o barco insatisfeitos com os novos rumos. No caso do Dimmu Borgir, “Eonian” representa não só o deslize pontual, mas também consolida uma mudança gradual no som da banda que vem se desenrolando já alguns anos. Se o próximo álbum vier na mesma linha, aí é hora de ligar o alerta vermelho.

Vi um comentário na internet muito perspicaz e que faz muito sentido, se pararmos para analisar a evolução da banda e entender como este novo álbum pode ser um ponto de ruptura: os dois primeiros álbuns (“For All Tid” e “Stormblast”) representaram a era Black Metal tradicional; os três seguintes (“Enthrone Darkness Triumphant”, “Spiritual Black Dimensions” e Puritanical Euphoric Misanthropia”) representaram a era dos teclados; os três últimos (“Death Cult Armageddon”, “In Sorte Diaboli” e “Abrahadabra”) a fase sinfônica, com ênfase nas orquestrações. Uma evolução “sadia” até aqui, que manteve o peso constante, apesar da presença crescente das orquestrações. Ao meu ver, “Eonian” representa um ponto negativo nessa curva até então ascendente.
Não farei comentários faixa a faixa, pois o álbum é equilibrado (isso não foi um elogio) e todas as músicas padecem do mesmo mal. Mas antes de falar do álbum em si, gostaria de registrar que o Dimmu Borgir foi a primeira banda que vi na vida a soltar dois singles com as duas músicas mais fracas de um novo lançamento. Só não foi um tiro no pé porque o disco como um todo não empolga, servindo apenas para criar polêmica antes do álbum, e não para aumentar a expectativa. Talvez tenham sido escolhidas por conterem elementos mais atípicos ao som da banda, numa tentativa de antecipar uma nova linha musical.


“Eonian”tem basicamente dois grandes problemas: 1) As músicas são fracas, sem força, sem peso, sem inspiração. Não falo nem da pouca presença de Blast Beats – não é só disso que o Black Metal da banda se caracteriza - mas do clima que o DB sempre soube imprimir em suas músicas, fosse elas rápidas ou cadenciadas. Tampouco se trata de falar que o material antigo era melhor (ok, realmente é), mas de perceber que faltou inspiração e as músicas ficaram muito apagadas. Para não falar em perda total, o disco tem bons momentos isolados nas músicas, mas não a ponto de salvá-las. Juntando as partes realmente legais, talvez tivéssemos uma ou duas músicas fodas. 2) O uso abusivo de corais e orquestrações, ainda que a estrutura das músicas seja mais simples. Apesar de parecer um contrassenso, fica fácil imaginar: pegue o Satyricon do álbum “Diabolical Now” e recheie de coros e samples de orquestra. É assim que o álbum soa, com uma estrutura musical mais simples e com uma cobertura enjoativa de grandiosidade sinfônica. Todas as músicas basicamente têm isso, suprimindo a todo momento determinadas partes instrumentais que eventualmente poderiam dar um fôlego às músicas. Não foi à toa que os comentários de “Nightwish do Inferno” surgiram e, convenhamos, se encaixaram como uma luva... A coisa ficou tão “over”, que alguns momentos chegam a ser “alegres” e distoam brutalmente da proposta que estamos acostumados a ver no Dimmu Borgir, nem de longe lembrando o clima soturno que esse recurso dava ao som da banda.

O resultado final fica muito aquém do esperado e com certeza vai desapontar muita gente. Apesar de comentários positivos na Internet baseados no argumento de “evolução musical” e na crítica “quem não gostou está preso ao passado e quer ver a banda fazendo sempre a mesma coisa”, acho que o DB abrandou seu som, se tornou um pouco mais “comercial”: as investidas ultra sinfônicas e novas influências tendem a ampliar o espectro de fãs, pois torna o Black Metal deles mais “digerível”. Ainda que toda a comunicação visual e marketing do disco sejam agressivos, trata-se de uma realidade cada vez mais distante de bandas como Marduk e Dark Funeral, por exemplo.


Apesar de tudo, não acredito que mesmo com todas as críticas, haverá algum dano sério a carreira do DB, pelo menos por enquanto. A banda vai começar a turnê do disco e obviamente os grandes clássicos que todo mundo gosta estarão lá nos shows, apenas entrecortados por 3 ou 4 músicas novas que obrigatoriamente terão de ser executadas. Agora, um novo álbum com mais experimentos, mais “Nightwish” e menos inspiração pode começar a afugentar os fãs, incluindo este que vos escreve.

domingo, 29 de abril de 2018

Dimmu Borgir: Ascensão e Queda?



É possível que todo o fã, em algum momento da sua vida, viu sua banda preferida cair de nível, lançando obras discutíveis ou então notoriamente ruins, sendo fracasso de crítica ou vendas, ou então os dois juntos. Trata-se daquele disco ou então de uma fase com vários lançamentos em que o artista, por alguma razão, se desvirtua da proposta original do seu som ou então não mantem a qualidade de outrora. Pode ser proposital – alguns chamam de “evolução” quando questionados – ou não, representando aí uma fase menos inspirada mesmo... Alguns admitem a falha, outros não; uns sentem orgulho mesmo sob críticas, outros pedem desculpas e muitos até fazem questão de esquecer, simplesmente não mencionando a existência desse material... Quando se trata de banda grande então, a tragédia e o trauma são ainda maiores, com as reações de artistas, crítica e públicos sendo ainda mais exasperadas. Como exemplos não faltam, cito aqui 10 casos que, na minha opinião, são monumentais e representam até hoje um soco no estômago do fã:
1) Metallica (“St. Anger”)
2) Celtic Frost (“Cold Lake”)
3) Morbid Angel (“Illud Divinum Insanus”)
4) Kreator (“Renewal”)
5) Iron Maiden (“Virtual XI”)
6) Megadeth (“Risk”)
7) Sepultura (“Nation”)
8) Morgoth (“Feel Sorry For The Fanatic”)
9) Fight (“A Small Deadly Space”)
10) Raven (“The Pack is Back”)

Na realidade trago esse assunto à tona porque mais uma grande banda pode estar caindo nesse abismo: o Dimmu Borgir, um dos maiores nomes  do Black Metal Sinfônico mundial, ainda não lançou seu novo álbum (“Eonian”), mas os dois singles já divulgados são simplesmente toscos e pobres frente ao material grandioso que a banda já produziu até hoje. Apesar de seu último álbum (“Abrahadabra”, de 2010) ser um bom disco, este sofreu críticas devido ao grande volume de orquestrações – desta vez gravadas por músicos de verdade e não por teclados como de  costume – e que acabaram se sobrepondo um pouco demais ao Black Metal característico da banda. Entretanto, 8 anos depois, a banda lança em Maio o álbum “Eonian” e (teoricamente) prometeu um som mais calcado nas suas origens, mas não foi o que se viu até agora.

As duas faixas liberadas até agora foram “Interdimensional Summit” e “Council of Wolves and Snakes”, ambas com vídeos bem produzidos, mas que revelam não apenas a questão do baixo nível musical, mas também um outro problema que considero grave, ainda mais se tratando de música extrema: a necessidade da banda em se manter no mainstream (sim, o Dimmu Borgir é um dos maiores nomes da Nuclear Blast), uma vez que ambos os vídeos tem um visual que mostra que o Marketing para esse disco foi cuidadosamente preparado pela gravadora, tal qual já ocorre desde 2007 com o álbum “In Sorte Diaboli”. Nesta época a banda adotou um visual calcado em armaduras; em 2010, o branco tomou conta, dando uma perspectiva gélida ao visual, e agora, o preto volta a reinar e todos usam capuzes (?), uma vez que nos vídeos e no material promocional divulgado até agora o visual da banda é todo assim. Me preocupa que um estilo baseado em músicas gélidas, rápidas, blasfemas e controversas possa ser cuidadosamente produzido e promovido. Isto cai bem para Metallica e Iron Maiden, mas para o Dimmu Borgir e o estilo praticado soa atípico e pouco natural.

Abrahadabra Promo

In Sorte Diaboli Promo

Em todo caso, coloco ambos os vídeos aqui e comento os dois. Vejam se estou delirando ou se  estou certo e a banda pode estar numa descrescente. Só o tempo e o disco completo dirão... Antes do vídeos, deixo uma pergunta no ar: Galder está com algum problema no pescoço, que o mantém torcido o tempo todo para a esquerda?.
Vamos aos vídeos:
    
 “Interdimensional Summit”

Chega a ser impressionante como o título “Nightwish from Hell”, visto nos comentários que se seguiram ao lançamento do vídeo, se aplicou tão bem: parece que o Nightwish, com toda aquela pompa, refrões, côros e melodias sinfônicas resolveu tocar Black Metal... Mas como não é a praia da banda, não deu muito certo... A música não tem aquele peso característico, parecendo até aquelas bandas de industrial com partes apenas com baixo e bateria, com as guitarras entrecortando a música... O refrão principal é ruim, alegre (!) e a música não engata. Em termos visuais, os pentagramas atrás da banda não ajudam, tendo um efeito “bandeira de pirata”, como se aquilo estivesse ali apenas para mostrar que a banda é do mal...  


“Council of Wolves and Snakes”

O Segundo single foi menos pior que o primeiro, mas manteve o alerta da falta de inspiração. Diferentemente  da primeira, esta música tem parte mais rápida – nada de blast beats, esqueça – mas mesmo assim é pouco inspirada e padece do mesmo problema sinfônico, contando ainda com o clichê de uma parte atmosférica burocrática, apenas para dar clima. Para piorar, uma parte tribal (?) surge do nada, o que, no fim das contas, ajudou apenas a diminuir a expectativa sobre o álbum... Sendo honesto, a única coisa legal até agora é a capa do disco, simplesmente belíssima.

quinta-feira, 22 de março de 2018

O Fim do Slayer


Com um atraso inconscientemente proposital, falo aqui do fim do Slayer. Afinal de contas, esta notícia deixou a mim e a milhões de fãs tristes pelo mundo, mesmo sendo algo inevitável, como tudo nesta vida. Entretanto, apesar da tristeza, não serei incoerente, pois já manifestei aqui a minha vontade de que a banda já tivesse parado tempo atrás. A verdade é que quando anúncio saiu, doeu mais do que eu imaginei... Mas reafirmo que a decisão é sábia e a banda sai por cima, ainda como um dos nomes mais violentos dentro Thrash Metal que ajudou a construir com outros nomes seminais do estilo. Mas é uma pena, pois mesmo depois de 35 anos, a banda ainda consegue o mesmo efeito hipnótico no público ao subir no palco e tocar “Raining Blood”, “Hell Awaits”, “Black Magic”, “South of Heaven”, “War Ensemble”, “Angel of Death”, “Dittohead” e tantos outros hinos atemporais do estilo único da banda. É aquele negócio: começou a tocar, você já sabe que é Slayer.


Tive meu primeiro contato com a banda, se não estou enganado, em 1984. Era a época do famoso “Tape Trading” (troca de fitas K7 com gravações dos lançamentos à época, que todo mundo copiava de todo mundo), que se era forte nos EUA e Europa, imagine aqui, onde só se tinha acesso ao era lançado pelos importados, que eram absurdamente caros. Com isso, o jeito era esperar alguém comprar o disco e fazer uma cópia em K7. Mas no caso do Slayer, foi diferente: o debut “Show No Mercy” já havia saído lá fora, mas como no Brasil absolutamente nada era lançado, consegui ouvi-lo via um piratão tosco em vinyl, que até hoje não sei quem lançou por aqui: a capa era preta, com o bode e a logo reduzidos, no verso apenas os nomes das musicas e o disco tinha com um selo amarelo sem nada escrito (o mesmo aconteceu com “Ride the Lightning” do Metallica). Quanto a gravação, apesar de obviamente ruim, serviu para introduzir a violência latente da banda na época, onde ninguém havia alcançado aquele nível de fúria e velocidade. Músicas como “Evil Has No Boundaries”, “Fight Till Death”, “Black Magic”, “The Final Command”  e a própria faixa título me levaram a loucura e a uma paixão imediata pela banda. Fora isso, as poucas imagens e raríssimos vídeos que se tinha acesso na época (lembre-se que não havia Internet...) mostravam uma banda com um visual agressivo – Kerry King e aquele monte de pregos e tachas era algo absurdo de inovador – o que completava o pacote e simplesmente seduzia quem começava a descobrir aquele som mais extremo.

Mas foi com “Hell Awaits”, em 1985, que tive a confirmação de ninguém seria maior do que o Slayer dentro do Thrash Metal. O mesmo amigo que comprou o piratão do “Show No Mercy” conseguiu comprar o HA importado. Ouvir pela primeira vez a introdução de “Hell Awaits” e aquela marcação de ritmo espetacular foi algo indescritível, impensável para a época, mostrando a banda era realmente diferenciada. Quando tive a oportunidade de assistir ao vídeo “Ultimate Revenge” (o famoso Studio 54) e ver a música ao vivo, quase enfartei. Era espetacular ao extremo ver uma banda afiada e que era pura agressividade no palco. Isso sem mencionar Dave Lombardo, que já dava sinais do baterista monstruoso que se consagraria no futuro. Daí para a frente a coisa só piorou (no bom sentido), pois aí o maior disco de Thrash Metal já lançado na história da humanidade, “Reign in Blood”, definiu os rumos do estilo a consolidou o Slayer como nome absoluto dentro Metal mundial.

Mas o curioso, ao meu ver, é que mesmo ao longo dos anos, com eventuais altos e baixos, a banda nunca mudou de estilo ou seguiu modas e tendências. Apesar de “Diabolus in Musica” ser um disco acusado de ser muito influenciado pelo New Metal regente à época de seu lançamento, ao meu ver trata-se apenas de um disco pouco inspirado e com produção não tão boa quanto às anteriores. A banda continuou pesada e sem concessões, e se manteve inclusive ao longo da década de 90 quando do domínio do Grunge se consolidou e conseguiu derrubar grandes bandas do mainstream. Até mesmo as mudanças na formação foram curiosas na carreira da banda, haja visto que perder um baterista como Dave Lombardo não foi o fim do mundo, pelo menos para o próprio Slayer. Sem contar Tony Scaglione (Whiplash) e John Dette (Testament, entre outras), substitutos que não chegaram a esquentar o banco, a banda conseguiu em Paul Bostaph (ex-Forbidden) um baterista à altura de Lombardo e manteve o alto nível de importância do instrumento no som da banda.


Mas, mesmo consolidando em 2018 os 35 anos de carreira, 11 albuns de estúdio, 2 ao vivo e inúmeros outros lançamentos (EP´s, DVD´s, Box Set, Coletâneas e etc.), a banda já em 2009 tinha atingido, pelo menos para mim, o ponto em que deveria ter começado a considerar em parar, quando do lançamento do álbum “World Painted Blood”. Hoje tenho três razões básicas que, gradativamente cronológicas, reforçaram este meu pensamento inicial.
A primeira, o fato de WPB ser o segundo álbum seguido após o retorno de Dave Lombardo a banda 2001, após 10 anos afastado. O Slayer já havia lançado o excelente “Christ Illusion” em 2006 e manteve o nível neste álbum seguinte, o que foi ótimo, mostrando que a formação original continuava afiada. Entretanto, os mais de 25 anos de banda à época certamente iriam começar a cobrar seu preço mediante a idade dos músicos e o estilo de música executado. Meu pensamento era que a banda acabasse por cima, tanto em cima do palco (antes que começassem performances meia boca), como pelos seus lançamentos, e os dois últimos álbuns representaram um ressurgimento frente a fase menos inspirada da dobradinha “Diabolus In Musica” (1998) + “God Hates Us All” (2001), meus dois álbuns menos favoritos na discografia da banda. Além disso, banda participou do “Big Four”, que também foi sensacional de se ver, pois foi uma tour de extremo sucesso ao lado de Metallica, Anthrax e Megadeth.


A segunda e mais forte razão, foi o problema de necrose do braço de Jeff Hanneman em 2011 e seu posterior falecimento em 02/05/2013. Desde que ele precisou se afastar, comecei a me questionar se seria uma atitude prudente da banda em continuar. É claro que é necessário se considerar uma série de fatores aí, principalmente que muitas bandas de Metal são empresas, têm compromissos, muita gente e dinheiro envolvidos, e não podem simplesmente parar de uma hora para outra. Baseado nisso, entendi que alguém deveria ajuda-los e continuar até que Jeff voltasse. Como tudo no Slayer sempre foi surreal, até essa substituição não poderia ter sido mais estupenda: Gary Holt do Exodus. Acho que ninguém mais no mundo puderia fazer isso, não só pelo puta guitarrista de Thrash que Holt é, mas também pela história do Exodus que se cruza com o Slayer desde o início. Holt sempre foi amigo da banda e foi uma escolha natural e perfeita. Mas a morte de Hanneman trouxe duas questões óbvias: a banda vai continuar mesmo assim? Holt aceitará deixar o Exodus para ficar no Slayer? Novamente pensei que seria melhor parar.

A terceira razão era o meu temor da banda fazer novos álbuns. Depois de 2 lançamentos excelentes, como fazer um novo disco com a banda novamente desfalcada? E pior, desta vez de dois membros originais: Jeff falecera em Maio e Lombardo já havia saído em Fevereiro do mesmo ano, agora despedido por King e Araya, em função de desentendimentos financeiros. Mesmo com Hanneman ainda em vida não eram poucos os rumores de um novo álbum da banda. Questionava-se muito se ele participaria do disco ou se teria material que fosse ser utilizado, mas nada de concreto foi comunicado. Depois de sua morte, a banda manteve Holt e trouxe de volta Paul Bostaph para as baquetas. Com esta formação sólida, foi confirmado que haveria um novo álbum. King alegou que teria sozinho material suficiente para isso, tanto que quando o disco (“Repentless”, de 2015) foi lançado, apenas uma música continha material deixado por Hanneman. “Repentless”, não é um disco ruim, pelo contrário, mas deixa aquela sensação de que poderia ter sido melhor trabalhado, mostrando que a contribuição de Jeff fez falta.

Com o anúncio da turnê de despedida, fico triste e feliz ao mesmo tempo. A banda já confirmou que não haverá um novo álbum, o que permitirá deixar um legado imaculado, uma vez que poderia haver chance do nível cair, e o último álbum foi a prova disso. Quanto ao futuro, é difícil dizer, mas arrisco que King deve continuar de algum modo, com alguma coisa similar ao Slayer, como ele já mesmo disse; Tom vai se aposentar, pois não é de hoje que vem reclamando das viagens constantes e distância da família, isso sem mencionar as costas que já não o possibilitam o esforço do passado; Holt volta com certeza ao Exodus e Bostaph, se não seguir com King, volta ao mercado como músico contratado.


Felizmente, ao vivo, o Slayer continua destruidor, e renovado pela presença de Holt e Bostaph, com certeza vai fazer uma tour inesquecível. Se forem coerentes, realmente irão parar e não fazer como o Kiss, Scorpions ou Ozzy que volta e meia anunciam despedidas que nunca vêm. Vão deixar na memória dos fãs a grande banda que sempre foram, com um legado tão poderoso e intenso quanto a sua carreira sempre foi. Mas vão fazer falta...